Por: Marcelo Chammas (Fishtec Consultores Associados) e
Peter Garádi (Tehag – Hungria)
A carpa comum (Cyprinus carpio) é uma espécie com alguns dos registros mais antigos como peixe de cultivo. No primeiro tratado de aqüicultura conhecido (475 a.C.), Fan Li se referia a sua desova em cativeiro como um negócio rentável e certas pinturas e documentos indicam que os gregos e romanos já as engordavam. Por volta de 1150 houve uma nova introdução da carpa na Europa e, ao redor de 1860, ela já era cultivada em praticamente todo o continente. Nesta mesma época, registra-se a chegada da carpa na América do Norte e só em 1914 ela vem a atingir o Sudeste Asiático.
Poucas pessoas devem ter tido a curiosidade de se perguntar por quê as carpas são os peixes com a maior distribuição geográfica e produção global dentre as espécies cultivadas nos dias de hoje. Em 1992, a FAO apontava que o grupo denominado genericamente de ciprinídeos, liderava as estatísticas mundiais, com uma produção de mais de 6,5 milhões de toneladas.
Esses peixes originários do Lago Aral, na Ásia Ocidental, só sobreviveram em seu ambiente natural devido a sua extrema rusticidade, já que nestas regiões a temperatura do ar varia de -40 ºC no inverno a +40 ºC no verão e, dependendo dos índices pluviométricos, pode registrar salinidades bastante expressivas. Estas condições tornaram as carpas capazes de reproduzirem-se em águas salobras, de sobreviverem desde a altitude zero até 4.000 metros acima do nível do mar e de se distribuírem desde os países nórdicos até a Terra do Fogo.
Elas são tidas como pragas em alguns países como os EUA dada a sua grande capacidade de se reproduzirem nos ambientes naturais. Já em outros países europeus e asiáticos, são amadas devido a sua versatilidade nos cultivos e pelo papel biológico que desempenham nos policultivos.
Não poderíamos deixar de mencionar o amplo espectro de atuação do seu extrato hipofisário, que é utilizado com sucesso na reprodução de diversos peixes no Brasil e em todo o mundo, e ainda destacar que ela foi uma das primeiras espécies em que se iniciou um trabalho de melhoramento genético, gerando diversas variedades que se destacam pela precocidade na engorda, rendimento de carne, coloração, quantidade, distribuição e tamanho de escamas.
As diversas variedades provenientes destes melhoramentos receberam o nome do país ou região em que foram desenvolvidas, ou são conhecidas pela sua cor e padrão de escamas resultando nas carpas: húngara, israelense, colorida, espelho, escama, de couro, etc.
Os países que mais se destacaram neste campo foram: o Japão (colorida), a França, a Alemanha, a Hungria e Israel, sendo estas duas últimas as melhores variedades trazidas para o Brasil. Atualmente em algumas regiões brasileiras o termo carpa húngara passou a ser sinônimo de Cyprinus carpio em qualquer de suas variedades.