A jatuarana, como é conhecida regionalmente a matrinxã, encanta piscicultores com seu bom desempenho
Os excelentes resultados obtidos com o cultivo de tambaqui nos tanques-rede instalados na calha do rio Candeias, no município de Candeias do Jamari, em Rondônia, foram recentemente apresentados na Panorama da Aqüicultura (edição no 85 set/out de 2004). Para quem não se lembra, o trabalho, uma parceria da Eletronorte com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental do Estado de Rondônia (Sedam), Prefeitura do município de Candeias do Jamari e Colônia de Pescadores Z-6, permitiu que pescadores da região pudessem ser treinados nas práticas diárias do cultivo do tambaqui em tanques-rede. Recentemente, outra espécie de peixe foi testada com bastante sucesso nas jaulas flutuantes do rio Candeias: a jatuarana, nome pelo qual a matrinxã (Brycon cephalus) é conhecida na região. A excelente performance zootécnica obtida veio abrir ainda mais as possibilidades para que a piscicultura se torne uma atividade de grande importância econômica e social para a região. A jatuarana é o peixe preferido pelo mercado consumidor regional, obtendo com isso os melhores preços.
A opção pela jatuarana se deu pelas suas qualidades biológicas, organolépticas e de adaptabilidade ao cultivo. Segundo o engenheiro de pesca Antonio de Almeida Sobrinho, responsável pelo projeto no rio Candeias, a espécie possui um rápido crescimento, rusticidade, resistência a baixos teores de oxigênio dissolvido, altas temperaturas, manuseio e enfermidades. Além disso, a espécie tem hábito alimentar frugívoro, e aceita muito bem a ração extrusada.
De adaptabilidade comprovada, uma vez que é nativa dos rios da Amazônia, a jatuarana é comercializada na região com peso superior a um quilo, podendo, alguns exemplares, alcançar dois quilos de peso. Muito apreciada pela população local, a jatuarana é vendida em Porto Velho a um preço médio de R$7,00/kg, enquanto que outras espécies consideradas como de primeira categoria, a exemplo do tambaqui, dourada, surubim e pintado, são comercializadas por preços sempre inferiores.
A jatuarana no tanque-rede
Um teste de engorda foi realizado utilizando apenas um tanque-rede de um módulo de cultivo, medindo 3 x 3 x 2 m de profundidade, com um volume individual de 18 m³, feito de arame galvanizado revestido com PVC, com malha de 2 cm, resistente ao ataque de carnívoros, como jacarés, lontras, ariranhas, botos, peixes e outros predadores.
Nele foram estocados 504 exemplares de jatuarana, capturados com autorização prévia da Sedam, no rio Mamoré, município de Guajará-Mirim, com um peso médio de 2,5 gramas e um comprimento médio de 3,5 cm. Os peixes foram transportados em caixa isotérmica com oxigênio até o município de Candeias do Jamari e foram estocados no tanque-rede numa densidade de 28 exemplares por metro cúbico de água. Nos três primeiros meses, os peixes se alimentaram com ração extrusada contendo 32% de proteína bruta. Daí em diante, na fase de crescimento, o teor protéico foi reduzido para 28%.
Duas biometrias foram feitas: aos seis e aos dez meses, quando o tanque-rede foi totalmente despescado. Na primeira biometria, aos seis meses, o comprimento médio encontrado foi de 22,5 cm, peso médio de 655 gramas, produtividade de 18,19 kg de pescado/metro cúbico de água, conversão alimentar de 1,55:1 e sobrevivência de 97%.
Na despesca, ao final de dez meses de cultivo , o comprimento médio foi de 36,95 cm com peso médio 1.066,58 gramas. A conversão alimentar final foi de 1,5 kg de ração para cada quilo de jatuarana produzida e a produtividade final foi de 29,62 kg/m3 de água, com uma sobrevivência final de 94,04% (Tabela).
Tanques-rede no rio Candeias, município de Candeias do Jamari, Rondônia, utilizados para a engorda de jatuarana
Fotos A. Sobrinho
Para o engenheiro de pesca Antônio de Almeida Sobrinho, os resultados foram bastante animadores e demonstram a total viabilidade técnica e econômica do cultivo da jatuarana nos tanques-rede na calha do rio Candeias, no município de Candeias do Jamari, em Rondônia. Para dar prosseguimento ao projeto, diz Sobrinho, uma parte dos exemplares produzidos foi cedida para a Piscicultura Rey do Peixe, localizada no município de Itapuã do Oeste, para a formação de um plantel reprodutor para que, em breve, possa estar abastecendo de alevinos os tanques-rede já em operação na região.