A pesca e a aqüicultura como atividades cruciais para a segurança alimentar e o alívio da pobreza

O especialista Ichiro Nomura, Diretor Geral Assistente para a Pesca da FAO, em entrevista publicada no site http://www.fao.org/newsroom/en/news/2005/102911/index.html, discute o papel da pesca e da aqüicultura na ajuda a milhões de pessoas em todo o mundo, servindo de suporte ao desenvolvimento, aliviando a pobreza e levando comida à mesa das pessoas. A seguir a revista Panorama da Aqüicultura apresenta a tradução, na íntegra, dessa entrevista.

FAO/NewsRoom – Como a pesca e a aqüicultura são importantes para o desenvolvimento, para a segurança alimentar e para a mitigação da pobreza?
Ichiro Nomura 
– Mais de 852 milhões de pessoas no planeta não têm o suficiente para se alimentar. Isso certamente não promove o desenvolvimento sustentável. Milhões de médios e pequenos pescadores e criadores de peixes, freqüentemente muito pobres, dependem da pesca e da aqüicultura. Para a FAO, a pesca e a aqüicultura são, antes de tudo, uma fonte de renda e um meio de vida para as pessoas, como uma forma de poderem colocar comida em suas mesas, e pensamos que isso pode ser feito de forma sustentável. A pesca e a criação de peixes, contribuem para a segurança alimentar em três principais caminhos: aumentam diretamente o fornecimento de alimentos, proporcionando proteína animal altamente nutritiva e importantes micronutrientes; os peixes preenchem a lacuna nos períodos em que outras fontes de alimentos se encontram escassas e, por fim, a pesca e a aqüicultura proporcionam trabalho e renda que as pessoas utilizam para a compra de outros alimentos.

FAO/NewsRoom – Qual a quantidade de alimento que estamos nos referindo?
Ichiro Nomura –
 Mais de 100 milhões de toneladas de peixes são consumidas em todo o mundo a cada ano, abastecendo dois bilhões e meio de pessoas com no mínimo 20% do seu consumo médio per capita de proteína animal. Essa contribuição é ainda mais importante nos países em desenvolvimento, especialmente em pequenos países insulares e nas regiões costeiras, onde freqüentemente, mais de 50% do consumo de proteína animal, é proveniente dos pescados. Em alguns dos muitos lugares onde não existe segurança alimentar (como em muitos locais na Ásia e na África, por exemplo), a proteína proveniente dos peixes é absolutamente essencial, sendo responsável por uma grande porção do já baixo consumo de proteína animal.

FAO/NewsRoom – O Sr. também se refere ao aspecto dessas atividades como meio de vida para o sustento?
Ichiro Nomura 
– Sim. Proporcionando empregos, a pesca e a aqüicultura aliviam a pobreza e ajudam as pessoas a alcançar a segurança alimentar. Não se esqueça que aproximadamente 97% dos pescadores encontram-se nos países em desenvolvimento, e a pesca é especialmente importante nesses países. Adicionalmente, na ausência de planos de seguridade social ou de auxílio desemprego, a pesca pode ser uma atividade de último recurso, uma espécie de rede de segurança fornecida pela natureza. Ironicamente, essas características da pesca, podem também, levar à sobrepesca e à depleção dos recursos naturais. Existe também uma atividade econômica resultante indiretamente da pesca e da aqüicultura, a qual dá apoio, de acordo com estimativas, a cerca de 200 milhões de pessoas. O comércio internacional de pescados vem criando inúmeros empregos nas indústrias relacionadas às atividades de pesca e aqüicultura, como no processamento e embalagem.

FAO/NewsRoom – O Sr se refere ao comércio internacional de pescados?
Ichiro Nomura 
– Sim, e isso é bastante amplo. O carpaccio de polvo que você aprecia num bar próximo à Barcelona, pode ter sido capturado por uma embarcação de pesca da União Européia, tripulada por pescadores ucranianos na costa da Mauritânia, beneficiado neste país e comercializado para um mercado de peixes em Vigo, na Costa Atlântica da Espanha, antes de chegar fresco à mesa. Cerca de 38% de todo o pescado é comercializado internacionalmente. Os valores das exportações totais mundiais de peixes e produtos de pescados, alcançam os US$ 60 bilhões! Significativamente, o volume nas exportações de pescados correspondente aos países em desenvolvimento, representa pouco mais da metade, ou cerca de 55% do total. Essa é uma fonte importante de circulação de recursos para os países pobres. Para os países em desenvolvimento, o comércio de pescados representa uma receita líquida de cerca de US$ 17 bilhões por ano, mais do que eles ganham com as exportações conjuntas de chá, arroz e café. Mas novamente existe o risco de que maiores ganhos, possivelmente via a exportação de peixes, potencialmente possa reduzir o fornecimento local de peixes e possivelmente crie incentivos para a sobrepesca. Existe tanto a oportunidade como o risco, eis porquê, o manejo responsável é tão importante.