A piscicultura do Mercosul

Foto: Mesa redonda com Marcelo Chammas, Thomas Popma, Robert Hickson, Sergio Zimmermann e Teciano Freire Maranhão

Mais de 400 pessoas entre produtores, técnicos e estudantes participaram do Seminário de Aqüicultura do Mercosul realizado de 8 a 11 de novembro passado em Toledo no Oeste do Paraná. Os representantes oficiais do Paraguai e Uruguai, países que juntamente com o Brasil e Argentina compõem o Mercosul, fizeram forfait e não compareceram ao Seminário. Pior para eles, pois o bom nível das conferências por si só abrilhantou o evento que, de quebra foi realçado com presenças internacionais de alto nível, vindas do Chile, Colômbia, Hungria, EUA e China.

Toledo foi um cenário perfeito para o Seminário. O município de fato investe na aqüicultura como atividade zootécnica e por isso mesmo conta com uma bem estruturada Comissão Municipal de Piscicultura, que é respaldada técnicamente pelo conceituado Centro de Pesquisa em Aqüicultura Ambiental.

São oitocentas as propriedades rurais do município que já investiram na implantação de piscigranjas, formando uma lâmina d’água de 506 ha. Para se ter uma idéia do crescente interesse pelo aumento da produtividade local, 50,7% dessas propriedades já fazem o acompanhamento diário da qualidade de água e 12,33% a fazem bissemanalmente. Muitos produtores locais acompanharam o evento, um fato raro nos seminários e encontros brasileiros, que quase sempre são predominantemente freqüentados por pesquisadores e técnicos.

MERCOSUL

Dentro da nova ordem econômica mundial, o Mercosul reúne os quatro países num bloco de livre comércio cuja soma dos PIBs alcança pouco mais de 700 bilhões de dólares, muito pouco se compararmos aos outros blocos como o Nafta com 6,7 trilhões de dólares ou a União Européia com 6,5 trilhões. O acordo do Mercosul cria, à princípio, uma área de livre comércio entre o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai. Estabelece, com algumas exceções, tarifas comuns para as importações feitas dos países que não pertencem ao bloco e a imensa maioria dos produtos, poderá atravessar as fronteiras com alíquotas zero.

Na verdade, os produtores e técnicos presentes ao Seminário, tentaram alinhavar o que virá a ser a política conjunta que harmonizará a comercialização do peixe e demais produtos ligados a piscicultura entre os países do Mercado Comum do Cone Sul. Segundo o engenheiro agrônomo Rainer Zielasco, secretário municipal de agricultura de Toledo e presidente da Comissão Municipal de Piscicultura, “o que se deseja é desburocratizar a legislação sem deixar de cumprir requisitos básicos que garantam a sanidade dos peixes e evitem a transmissão de doenças. Precisamos normatizar a importação e a exportação de organismos aquáticos em todas as suas fases. O Mercosul inicia em 1995, mas serão necessários muitos anos ainda para se chegar a um ponto ideal de integração entre os quatro países”. E completa: “A troca de experiências e de tecnologias na área de piscicultura começa com este Seminário”.

ARGENTINA

Segundo Laura Maria Luchini, diretora de Aquacultura do Instituto Nacional de Investigacion y Desarollo Pesquero e também chefe da delegação argentina presente ao Seminário, seu governo está preocupado em manter o equilibrio ecológico de seu meio ambiente. Na Argentina existe uma regulamentação específica que disciplina a entrada de novas espécies no país. Entretanto, isso não foi suficiente para impedir que as estrelas da aqüicultura daquele país sejam a rã, o camarão da Malásia e a truta, todas espécies importadas. Através de consultoria brasileira, já existem em Formosa, um estado argentino, mais de 200 ha povoados com alevinos de carpas cabeça grande, prateada, capim e pacu, também produzidos no Brasil.

DESTAQUES

Mais discutidos ainda que os temas ligados ao Mercosul, e principal interesse da maioria esmagadora dos participantes do Seminário, foram os diversos manejos associados ao cultivo de tilápias.

A experiência de Marcelo Chammas à frente do Projeto Vale do Etá no Vale do Ribeira em São Paulo, trouxe aos presentes a visão da produção empresarial, voltada para o mercado internacional. Marcelo trabalha com a produção de tilápia tetra-híbrida, importada de Israel. A Vale do Etá, segundo Marcelo Chammas, produz altualmente 30 toneladas por mês e pretende em abril de 1995 estar produzindo 70 toneladas/mês. A tetra-híbrida é uma tilápia geneticamente melhorada, de coloração vermelha, com peritôneo claro, menos espinhas, altura ideal para filetagem, ainda segundo Marcelo, com sabor diferente, resultado de diferenças bioquímicas.

O interesse pela tilápia foi tão grande que a organização do Seminário foi obrigada a abrir uma segunda turma do mini-curso sobre processamento, ministrado por Marcelo Chammas.

Os sistemas de cultivo foram abordados por Thomas Popma, professor da Auburn University, Alabama -EUA, que também ministrou um curso sobre reversão sexual de tilápias. Popma relatou que são consumidas hoje em seu país, 7.500 toneladas de tilapias, especialmente a nilótica, cujo sabor é muito apreciado pelos norte-americanos. Ainda num clima de intercâmbio científico, tecnológico e comercial, Marcelo Chammas, Thomas Popma, Robert Hickson, Sergio Zimmermann e Taciano Freire Maranhão compuseram uma mesa redonda debatedora sobre a situação atual e perspectivas do cultivo de tilápia.

FACÃO

Outra grande presença em Toledo foi a do húngaro Peter Garadi, que trabalhou por muitos anos na CODEVASF, no nordeste do país, popularizando as carpas hungaras com suas corcundas avantajadas, resultado do melhoramento génetico.

Além de falar a respeito das vantagens de se utilizar o alevino 2 (segunda alevinagem) com o objetivo de melhorar a qualidade no produto final, Garadi ressaltou a necessidade de se cobrar dos centros produtores de alevinos, mais controle sobre o material genético do plantel. Para Garadi, as carpas húngaras hoje criadas no Brasil já perderam totalmente as boas características obtidas através de melhoramento genético, como por exemplo suas corcundas. Se tornaram o que ele chama de carpa-facão, por seu formato lembrar um facão, mais estreita e com menos carne.

VISITAS

Para o encerramento dos quatro dias de atividades do Seminário do Mercosul, foi oferecida aos participantes a oportunidade de conhecer os produtores e frigoríficos locais. Foram visitadas a Piscicultura Schneider, Dal Bosco e o Centro de Pesquisa em Aqüicultura Ambiental entre outros.