Por: Jomar Carvalho Filho
A união entre produtores sempre pode levar à realização de projetos interessantes e trazer benefícios a todos. É o caso dos ranicultores do Estado do Rio de Janeiro que construíram, através de sua cooperativa, um abatedouro frigorífico para rãs com a qualidade assegurada pelo Serviço de Inspeção Federal. Trata-se de mais uma conquista dos ranicultores na caminhada para a profissionalização. No entanto, apesar dos preços absurdamente elevados da carne de rã no mercado, que afastam o consumidor do produto, os produtores se queixam das pequenas margens de lucro, achatadas pelos altos impostos.
O abatedouro da COOPERAN – Cooperativa Agropecuária dos Ranicultores do Estado do Rio de Janeiro, localizado em Itaboraí, a 60 km da cidade do Rio de Janeiro, iniciou as suas operações em março de 1996 e conta anualmente com um quadro de 50 cooperados dos quais 20 participam ativamente através de um fornecimento constante de rãs para abate.
Com a exceção de dois cooperados que se encontram em Belo Horizonte – MG e em Eunápolis – BA, a cooperativa reúne, num raio de 100 km, todos os seus associados, permitindo um rápido e fácil acesso a sua sede.
Construído a um custo de R$ 250.000,00, o abatedouro da COOPERAN é um estabelecimento moderno e bem equipado, funcionando sob a fiscalização do SIF – Serviço de Inspeção Federal. Trata-se de um conjunto composto por dois prédios, um administrativo, com 100 m2 de área construída, abriga escritório, laboratório, refeitório, sala para a inspeção federal e sanitários masculino e feminino. O prédio industrial, com 200 m2 de área construída, abriga o complexo do abatedouro propriamente dito, composto por uma sala de recepção (ou área suja), sala de manipulação (ou área limpa), câmara de congelamento e câmara de armazenamento, para atender um fluxo que se inicia com a recepção das rãs, ainda vivas, e termina dentro de câmaras frigoríficas, onde o produto final pode ser estocado até vir a ser comercializado.
O abate passo a passo
As rãs são trazidas pelo produtores para o abate em caixas plásticas gradeadas, numa densidade máxima de 40 rãs/caixa. Há um consenso para que sejam trazidas apenas após um jejum de 48 horas de modo a reduzir os riscos de contaminação pelas fezes.
Ainda na sala de recepção, antes de entrarem no fluxo para o abate, as rãs, pesando em média 180 gramas, são mergulhadas ainda vivas num banho contendo água, gelo e sal para o processo de insensibilização. Após alguns minutos, já insensibilizadas, são penduradas pelos pés, uma a uma, em ganchos de um monotrilho que as encaminham para as etapas seguintes do abate (foto 1).
Logo após serem penduradas, as rãs recebem através da boca, uma incisão nos grandes vasos para que se dê a sangria. Além disso, é feito um corte na pele, ao redor do pescoço, para que posteriormente a retirada manual da pele seja facilitada.
O percurso do monotrilho é lento o suficiente para que saia boa parte do sangue dos animais, que seguem pendurados nos ganchos até entrarem, através de uma pequena janela (óculo), na área limpa.
Área Limpa
Logo que entram na área limpa, mãos ágeis aproveitam o corte anteriormente feito ao redor do pescoço, para retirar, num único golpe, a pele do animal (foto 2), dando início ao processo de toalete.
Como numa linha de produção, onde cada passo deve ser dado, um após o outro, funcionários bem treinados fazem a evisceração, seguida da retirada da cabeça, dos pés e das mãos (foto 3 ). Em seguida, a carcaça é escovada para a limpeza de restos de sangue e possíveis coágulos. Todo o percurso do monotrilho é provido de pontos com água limpa e abundante para a lavagem das rãs.
Antes de serem embaladas individualmente, passam por uma inspeção rigorosa que descarta os animais portadores de alguma deformidade ou traumatismo proveniente de algum manejo inadequado.
Frigorífico
Os animais são acondicionados individualmente em sacos plásticos, arrumados em bandejas (foto 4) e colocados na câmara de congelamento a -23ºC (foto 5).
A capacidade de congelamento do abatedouro é de 100 Kg a cada 2 horas. Após congeladas, são transferidas para outra câmara, a de armazenamento, com capacidade para 5 toneladas de rãs abatidas.
Com nove funcionários, a COOPERAN é capaz de abater diariamente 2.000 animais com 180 gramas, que resultam em 200kg de carne de rãs abatidas/dia. Segundo Francisco Vasconcelos, diretor comercial e também presidente da ARERJ – Associação dos Ranicultores do Rio de Janeiro, no período de maior safra, que vai de setembro a março, a cooperativa opera quase que diariamente muito próxima da sua capacidade máxima de operação.
Cooperativa X Cooperado
Na sua relação com o cooperado, a COOPERAN se incumbe não somentedo abate, executando também o trabalho de marketing para atrair compradores para a carne. Para isso, cobra R$ 2,33 por cada quilo de rã abatida e comercializada. Desta forma, para cobrir mensalmente seus custos operacionais de R$ 7.000,00 é preciso que a COOPERAN abata no mínimo 1.500 rãs diariamente, para compor um total de 3 toneladas mensais de carne.
Atualmente a cooperativa vende cada quilo de carne de rã a R$ 15,00, um preço que, segundo Francisco Vasconcelos, deverá breve baixar para os R$ 13,00. Tal queda deverá se dar em decorrência do recente crescimento da produção, não acompanhando pelo aumento do consumo; em razão dos preços absurdamente altos que o mercado em geral insiste em cobrar pelo quilo da carne de rã, facilmente encontrada a R$ 28,00.
A idéia da diminuição do preço, no entanto, desagrada aos produtores cooperados, em razão das despesas que incidem sobre as vendas. Sobre o valor comercializado (tabela), a cooperativa paga 20,7% de impostos (ICMS e INSS), 10% de comissão para o agente de vendas, R$ 0,50 relativos a despesas de transporte, além de descontar seus R$ 2,33 por cada quilo processado.
Composição das despesas da Cooperan que influem no preço pago ao produtor.
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Venda a R$ 15,00
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Venda a R$ 13,00
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Impostos (ICMS 18% e INSS 2,7%) |
3,11
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2,69
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Comissão venda |
1,50
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1,30
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Transporte |
0,50
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0,50
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Cooperan (abate, estocagem, etc) |
2,33
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2,33
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Preço final pago ao produtor |
7,54
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6,18
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Os atuais R$ 15,00 remuneram o produtor em R$ 7,54/kg e, caso o preço caia de fato para R$ 13,00, o produtor receberá R$ 6,18. Nesse caso, só restará ao produtor ser mais eficiente de forma a baixar os seus custos de produção, que hoje oscilam entre R$ 4,5 e R$ 7,00 o quilo.
A cooperativa vem solidificando sua clientela na cidade do Rio de Janeiro, apesar de ranários não filiados exercerem forte concorrência, mesmo não oferecendo a qualidade assegurada pela Inspeção Federal.
Na realidade, esses ranários, ao não se filiarem a COOPERAN, fogem dos altos percentuais de impostos (20,7%) que hoje injustamente incidem sobre o produto, o que levou a ARERJ e a COOPERAN a mover forte campanha para que a carne de rã possa, a exemplo dos pescados, cultivados ou não, isentarem-se dos pesados 18% de ICMS.
Quem quiser comprar rãs ou saber mais, a COOPERAN fica localizada na Av. Vereador Hermínio Moreira, s/n, Lt.1 Qd.39, Bairro do Sossego, Município de Itaboraí – RJ, tel: (021) 635-3524.