Ao mestre com carinho: Leonard Louis Lovshin completou 80 anos dia 22 de março de 2022

Embora a nova geração da aquicultura possa não saber quem é esse americano de coração verde e amarelo, muito do que vemos hoje na aquicultura brasileira teve início com ele. Len, como é carinhosamente chamado, é professor emérito da Escola de Pesca, Aquicultura e Ciências Aquáticas da Universidade de Auburn, USA (SFAAS-AU), onde dedicou 41 anos ao ensino, pesquisa e extensão.  

Com seu iluminado sorriso, grandioso coração e generosa vontade de ensinar, coordenou as atividades de produção da estação experimental e lecionou as disciplinas “Aquaculture Production I, II, III e IV” da SFAAS-AU. Foi assim que Len orientou e impactou diretamente centenas de estudantes de graduação e pós-graduação de diversos países. Mas poucos aqui devem ter a noção da importância de Len Lovshin no desenvolvimento da aquicultura no Brasil. Possivelmente nem ele mesmo faz ideia da grandiosidade de sua contribuição. Len trabalhou em programas de extensão em aquicultura na África, América Central e Brasil. Sua primeira experiência brasileira foi junto ao DNOCS, na Estação de Pentecostes, no Ceará, entre 1972 e 1978. Na ocasião Len e outro professor da SFAAS-AU, seu amigo John Jensen, acompanharam a primeira introdução da Tilápia-do-Nilo no Brasil. Nos anos em que trabalhou junto ao DNOCS, Lovshin auxiliou nos primeiros estudos sobre a criação da tilápia e nas estratégias de hibridação. De volta aos Estados Unidos, junto com outros pesquisadores da SFAAS-AU, Len participou de projetos pioneiros de pesquisa que desenvolveram os protocolos de masculinização da tilápia com a inclusão da metiltestosterona na ração. Essas técnicas foram refinadas na década de 80 e difundidas em seus trabalhos de extensão.

 Len e outros professores de Auburn atuaram em diversos países da América Latina, África e Ásia, viabilizando a produção em larga escala de alevinos masculinizados de tilápia em todo o mundo. Em 1992, Tom Popma, também professor da Universidade de Auburn, em um treinamento a produtores no Oeste do Paraná, apresentou as técnicas de reversão sexual de tilápia com o uso de hapas, que até hoje é amplamente empregada pelos produtores de alevinos no Brasil. Len já imaginava, àquela época, que o Brasil poderia se tornar um dos maiores produtores de tilápia do mundo. E isso realmente aconteceu. No início dos anos 90, Len Lovshin orientou conhecidos especialistas brasileiros, entre eles Fernando Kubitza, João Lorena Campos, Eduardo Akifumi Ono e o norte-americano radicado no Brasil, Martin Richard Halverson, possibilitando que conhecessem bem de perto a já consolidada indústria do catfish nos Estados Unidos que, na ocasião, produzia 200 mil toneladas, contra apenas 5 mil da infante aquicultura brasileira. Generoso mestre e conhecedor do potencial do Brasil para a aquicultura, Len não poupou esforços para dar oportunidades a seus estudantes brasileiros de aprenderem técnicas de cultivo de catfish, tilápias e carpas em viveiros e tanques-rede na estação experimental da SFAAS-AU. E foi além, encontrando oportunidades para que eles trabalhassem em grandes fazendas de engorda de catfish e de produção de alevinos, pois sabia que o Brasil precisaria de profissionais com experiência na produção em larga escala. Conhecedor do potencial de diversos peixes carnívoros no Brasil, em particular o pirarucu, que ele já havia conhecido nas estações do DNOCS, Len deu a eles a oportunidade de conhecerem e de aperfeiçoarem as estratégias de condicionamento alimentar de peixes carnívoros, em diversos experimentos realizados por eles com o largemouth bass. Essas técnicas viabilizaram o início da produção comercial do pintado no Brasil e, anos mais tarde Eduardo Ono e Martin Halverson coordenaram o desenvolvimento de estratégias para a reprodução, produção de alevinos e engorda do pirarucu em nosso país. Seus estudantes retornaram ao Brasil em meados dos anos 90, com a aquicultura brasileira ainda em gestação. Momento ideal para que pudessem difundir o que aprenderam e repassaram suas experiências aos produtores, como vêm testemunhando as páginas dessa revista. Em 1996, a convite do grande amigo Prof. José Eurico Cyrino, Len Lovshin esteve na ESALQ/USP como professor visitante, lecionando aulas nos cursos de pós-graduação e proferindo palestras em diversos encontros do setor. Len se aposentou da Universidade de Auburn em 2003, mas continuou em atividade junto à SFAAS-AU por mais 10 anos. Ele e sua esposa Nancy, brasileira, cearense, que Len conheceu em sua primeira experiência no Brasil, desfrutam do carinho de suas filhas, Lia e Gabi, genros e três lindos netos.  A aquicultura brasileira agradece sua visão de futuro e sua dedicação aos muitos brasileiros que passaram pelas suas disciplinas e orientações e, hoje, ajudam a construir a história da aquicultura no Brasil. Feliz 80 anos.