Por: Jomar Carvalho Filho
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A maior feira de aquicultura do mundo reuniu 500 empresas de 27 países
”Se você quer ir de forma rápida, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado”
A Aqua Nor acontece a cada dois anos, desde 1979, e se mantém até hoje inspirada na excelência e robustez de uma indústria que segue em rápido crescimento. O evento nasceu em Trondheim, uma cidade universitária, a terceira maior da Noruega, e lá permanece até hoje. Este ano, a Aqua Nor aconteceu de 18 a 21 de agosto e, durante os quatro dias do evento, as empresas expositoras, visitantes e delegações de todos os principais países que se dedicam a aquicultura, voltaram suas atenções para as melhores práticas da indústria, para o compartilhamento dos mais recentes resultados das pesquisas, inovações, instrumentos e máquinas que ajudam o manejo do produtor e a indústria de processamento.
Ao saudar as delegações estrangeiras e os vários ministros da pesca e aquicultura presentes na cerimônia de abertura da Aqua Nor 2015, entre eles o brasileiro Helder Barbalho, a ministra da pesca e aquicultura da Noruega, Elisabeth Aspaker, abriu o seu pronunciamento citando o provérbio “Se você quer ir de forma rápida, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado”. Aspaker buscou na sabedoria ancestral africana um pensamento que sintetiza a sua convicção de que “somente por meio de acordos e parcerias entre os países engajados na preservação do meio ambiente e no crescimento sustentável da indústria aquícola, será possível garantir um futuro promissor para a aquicultura pelos próximos anos”. A tônica do Aqua Nor, portanto, foi a formação de boas parcerias.
A Panorama da AQÜICULTURA visitou a Aqua Nor 2015 a convite da Innovation Norway, uma agência do governo norueguês e o mais importante instrumento de inovação e desenvolvimento do país. A Innovation Norway atua fornecendo todo o suporte para que as empresas norueguesas desenvolvam suas vantagens competitivas, dentro e fora da Noruega. Com sede em Oslo, está presente também em mais de 30 países, incluindo o Brasil.
A Noruega é uma grande nação produtora de pescado. Em 2014 se manteve como o segundo maior exportador do mundo, e o quinto maior produtor aquícola, e tais conquistas sempre contaram com o decisivo apoio do ministério norueguês da pesca e da aquicultura.
Segundo a ministra Elisabeth Aspaker, apesar dos desafios que a aquicultura enfrenta, relacionados à sustentabilidade e ao crescimento verde, não se deve desprezar o enorme potencial de crescimento sustentável e de geração de riquezas que estão associados à indústria da aquicultura. Para Aspaker, o objetivo atual é encontrar as maneiras mais corretas para produzir alimento de uma forma que não coloque em risco a saúde do meio ambiente.
A ministra completou dizendo que, felizmente, hoje não faltam exemplos inspiradores que mostram que a aquicultura mundial pode ser conduzida de uma forma que atenda às três dimensões da sustentabilidade – ambiental, social e econômica.
Atualmente o pescado norueguês é vendido em 140 países. Em 2014 o valor total do pescado exportado pelo país alcançou a casa dos US$ 850 milhões, e dados preliminares do primeiro semestre desse ano, indicam que em 2015 este recorde será novamente quebrado. Segundo a ministra Aspaker, todos os dias as empresas norueguesas produzem 14 milhões de refeições de salmão.
No mundo todo, uma em cada cinco pessoas come salmão norueguês pelo menos uma vez por ano. Graças ao seu enorme sucesso, a indústria aquícola é hoje uma importante plataforma para o crescimento da economia norueguesa, além de ser, nas últimas quatro décadas, um dos principais pilares de sustentação da economia em numerosas comunidades locais ao longo da costa do país.
Elisabeth Aspaker afirmou ainda que a aquicultura tem muito para crescer em importância nos próximos anos, favorecida pela transição de uma economia outrora baseada no petróleo, para uma economia baseada no conhecimento.
Portanto, não é por acaso que o conhecimento está no cerne da política de aquicultura do governo norueguês, que hoje investe anualmente 450 milhões de dólares em pesquisas marinhas.
A aquicultura norueguesa contribui decisivamente para a criação de novos postos de trabalho, dentro e fora da própria indústria. Para cada posto de trabalho criado na indústria aquícola, quatro novos postos são criados em outras áreas industriais conexas.
Para a ministra Elisabeth Aspaker, “enquanto os peixes e frutos do mar representarem soluções viáveis frente ao desafio global da escassez de alimentos, é da responsabilidade de todos a garantia de que essas oportunidades sejam colhidas da melhor maneira possível, para o bem dos oceanos e das gerações futuras”.
Sobre esse tema, Aspaker disse que é preciso motivar continuamente os jovens, e em particular as mulheres, para que se juntem a essa que é uma das indústrias mais inovadoras e orientadas para o futuro e, provavelmente, a mais importante quando se trata de produção de alimentos para a humanidade.
A feira
A Aqua Nor não pode ser comparada a nenhum outro evento aquícola, a começar pelo seu tamanho. Este ano, a Fundação Nor-Fishing, organizadora do evento, aumentou em 20% a área de exposição da feira e ainda assim foi obrigada a limitar em 500 o número máximo de expositores, deixando de atender muitas empresas interessadas em participar da Aqua Nor 2015.
Segundo os organizadores, nos quatro dias deste ano a Aqua Nor recebeu a visita de 20.848 pessoas. Para facilitar a circulação e evitar que as pessoas se perdessem entre um pavilhão e outro, faixas coloridas foram pintadas no chão, para orientar o trânsito dos congressistas.
Para o público apaixonado pela arte de criar organismos aquáticos, a Aqua Nor é uma grande festa. Um verdadeiro shopping center da aquicultura, onde as empresas expositoras comercializam praticamente todos os itens que um aquicultor, empresa de processamento ou de consultoria, irá necessitar para o seu trabalho.
O encontro com amigos também é um dos grandes prazeres que a visita a uma feira desse porte nos oferece. No estande da Wenger Manufactoring, um das empresas líderes mundiais na fabricação de extrusoras para a fabricação de rações, foi um prazer reencontrar Joe Kearns, vice-presidente da empresa, com quem a conversa sempre flui fácil.
Joe me revelou que está muito motivado com o crescimento da aquicultura em todo o mundo e que o mercado segue muito aquecido na Ásia, especialmente na Tailândia e na Índia.
Joe Kearns segue apostando também no crescimento da aquicultura brasileira e espera que bons negócios aconteçam no estande da Wenger, durante a Fenacam, em novembro próximo em Fortaleza.
Outro encontro aconteceu com Edel Anne Norderhus, diretora de desenvolvimento de produtos da Pharmaq, acompanhada de Nils Grønlie, diretor comercial para a América Central.
A Pharmaq é uma empresa norueguesa, única no mundo a se dedicar exclusivamente ao desenvolvimento de vacinas para a aquicultura, sendo atualmente a líder nesse segmento.
Edel Anne disse-me que a empresa já está presente nos principais mercados da aquicultura e que já está praticamente tudo pronto para o início da comercialização das vacinas adequadas à tilapicultura brasileira.
Edel Anne e Nils virão a Fortaleza, durante a Fenacam 2015, quando aproveitarão a viagem ao Brasil para dar seguimento às visitas aos tilapicultores brasileiros, iniciada meses atrás pela região de Santa Fé do Sul (SP).
20 anos do Código de Conduta
Os 20 anos do Código de Conduta Responsável para a Pesca e Aquicultura da FAO foram comemorados em uma cerimônia que contou com a presença de representantes da Noruega, Brasil, Chile, Índia, Indonésia, África do Sul e Emirados Árabes.
Este código inclui diretrizes gerais importantes para a aquicultura responsável. São orientações válidas até hoje e constituem a base de uma indústria aquícola sustentável. Na sua palestra na cerimônia de comemoração dos 20 anos, o ministro Helder Barbalho reafirmou o compromisso do Brasil em seguir as determinações do Código de Conduta, falando da importância que ele representa para que o Brasil continue a trilhar os caminhos da produção sustentável.
O ministro do MPA aproveitou a ocasião para comunicar aos seus pares o Plano de Desenvolvimento Aquícola 2015-2020, recém lançado pela sua pasta, cuja meta é produzir, em 2020, 2 milhões de toneladas de pescado. Helder disse ainda que o Brasil estava aberto a acordos técnicos com todos os países ali presentes, com a finalidade de colaborar com o esforço que deverá ser feito no país para alcançar essa meta.
Os brasileiros também participaram do seminário intitulado “Brasil uma nova super potência na aquicultura”, promovido pelo Sintef Norway a maior instituição da Noruega dedicada a atividades de pesquisa e desenvolvimento de diversas áreas, incluindo a aquicultura. Helle Moen (da Innovation Norway), consul comercial da Noruega no Brasil falou dos programas de cooperação entre os dois países.
Além de Helder Barbalho a comitiva brasileira contou com a presença do secretário de Planejamento e Ordenamento da Aquicultura Felipe Matias (MPA), de Alberto Nunes (UFC) e Eric Routledge (Embrapa).