A quinta edição do AQUACIÊNCIA, o congresso bianual da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática – AQUABIO, aconteceu de 1 a 5 de julho, em Palmas – TO. A organização ficou por conta da Embrapa Pesca e Aquicultura, que soube muito bem cumprir com o seu papel, ao criar espaços, não apenas para as apresentações de trabalhos científicos, mas também para o debate dos principais temas da aquicultura brasileira.
A solenidade de abertura foi realizada pelo chefe-geral da Embrapa Pesca e Aquicultura Carlos Magno Campos da Rocha, que deu boas vindas ao ministro Marcelo Crivella, do MPA e ao governador do Estado do Tocantins, Siqueira Campos. Carlos Magno lembrou que estamos vivendo um momento de especial importância onde, finalmente, o Brasil decidiu lançar as redes sobre as suas águas, e salientou que não apenas os brasileiros, mas todo o mundo está aguardando pelo crescimento da produção brasileira de pescado. Lembrou a todos que poucos setores apresentam respostas rápidas para tantas áreas essenciais do cotidiano brasileiro como a aquicultura, entre elas a fome, segurança alimentar, balança comercial, desenvolvimento econômico, social, ambiental, emprego, renda e qualidade de vida. Carlos Magno aproveitou a oportunidade para solicitar, em nome dos piscicultores do Estado do Tocantins, que o ministro Crivella intervenha junto à ministra Isabella Teixeira, da pasta do Meio Ambiente, para que seja regularizada a permissão para que os piscicultores tocantinenses possam continuar a cultivar o tambaqui. Segundo o IBAMA/MMA, trata-se de um peixe amazônico sendo criado na bacia Araguaia – Tocantins, apesar de estudos comprovarem que formas jovens e adultas são encontradas com facilidade no rio Tocantins. Segundo o chefe-geral da Embrapa, caso persista a proibição, os produtores tocantinenses irão à falência.
O ministro Crivella não apenas prestigiou com a sua presença a aquicultura e a academia brasileira, como fez questão de levar a Palmas todo o seu secretariado. Na sua fala Crivella destacou a importância do trabalho dos pesquisadores e estudiosos presentes no evento e falou das nossas potencialidades. “Precisamos desonerar a cadeia, investir em pesquisa e aumentar o consumo de peixe. A maior riqueza do Ministério da Pesca e Aquicultura é o esforço de cada um de vocês pesquisadores e estudiosos”, afirmou.
O V Congresso da Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática reuniu em torno de conferencistas nacionais e internacionais, mais de mil pessoas, entre autoridades, comunidade científica, empresários, extensionistas, membros da AQUABIO, universitários de toda parte do Brasil, além da participação de conferencistas nacionais e internacionais. Ao todo foram apresentados 713 trabalhos, oito minicursos, oito mesas redondas, 18 sessões técnicas e cinco palestras proferidas por pesquisadores convidados (três estrangeiros e dois brasileiros).
Débora Machado Fracalossi, presidente da AQUABIO, destacou a importância da integração da pesquisa com os outros segmentos da cadeia produtiva, “se quisermos ver a aquicultura nacional sair do patamar de gigante adormecido”. Disse que a indústria da aquicultura brasileira está na sua infância, com um volume de produção ainda modesto, quando comparado à produção mundial. Fracalossi citou o presidente da Finep, Glauco Arbix, que afirmou que “o investimento em inovação e tecnologia no Brasil foi tradicionalmente tratado como subproduto do crescimento econômico, e não como pré-requisito para o desenvolvimento”, dizendo esperar que isso não se repita com a aquicultura, já que o financiamento governamental para pesquisa, que aumentou por um breve período, está novamente passando por um período de vacas magras. A presidente da AQUABIO afirmou que nos dois últimos congressos, não tivemos nenhum edital de pesquisa na área. Lembrou também que apesar dos recentes esforços governamentais, a cooperação entre universidades e indústrias na área de pesquisa, desenvolvimento e inovação na área de aquicultura ainda é um mito, um importante obstáculo a ser superado e, em nome da AQUABIO, pediu a colaboração do Ministério da Pesca e Aquicultura e da Ciência e Tecnologia, para superar este desafio.
A subsecretária de Aquicultura e Pesca do Tocantins, Myiuki Hyashida, declarou que o Estado do Tocantins tem como objetivo ser o maior produtor de peixe de água doce do Brasil. Segundo ela, um congresso como o AQUACIÊNCIA é uma oportunidade única para aprendizagem e troca de experiência.
A Universidade de Stirling viu novas oportunidades no AQUACIÊNCIA 2012 e montou um estande. Com 40 anos de vida, o Instituto de Aquicultura da Universidade de Stirling, na Escócia, é uma instituição pioneira e de referência em diversas áreas de desenvolvimento tecnológico, e vê no programa “Ciência sem Fronteiras” (www.cienciasemfronteiras.gov.br), oportunidades de maior interação e colaboração com o Brasil. O “Ciência sem Fronteiras” é um programa do governo brasileiro que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia por meio de intercâmbio, que oferece diversas modalidades de bolsas para alunos de mestrado, doutorado, e pós-doutorado. A Universidade de Stirling é uma das diversas instituições de ensino superior na Grã-Bretanha selecionadas pelo programa, que prevê ainda a vinda de pesquisadores estrangeiros para funções de ensino e pesquisa, visando fixar conhecimento no país. No estande da Universidade de Stirling, os professores Hervé Migaud, atual diretor de pesquisas do Instituto, Lindsay Ross e Philip Scott receberam visitantes para esclarecer detalhes sobre a vida acadêmica, de pesquisa, e requerimentos para ingresso na universidade escocesa. Vale lembrar que para solicitar uma bolsa de doutorado ou pós-doutorado, o candidato deve obter, primeiramente, o aceite da Universidade/Instituição no exterior, e em seguida fazer sua inscrição no Portal do Programa Ciência sem Fronteiras, conforme modalidade em que deseja participar. As inscrições estão abertas até 27 de setembro de 2012. Serão julgadas em novembro/2012 e o resultado sairá em dezembro de 2012.
A única empresa de rações presente na feira de produtos e serviços do AQUACIÊNCIA 2012 foi a Guabi. Para o gerente de produtos para aquicultura João Manoel Cordeiro Alves, o intuito é estreitar cada vez mais a parceria da empresa com o setor acadêmico, tanto na avaliação da sua linha de produtos, como no desenvolvimento de novos alimentos de qualidade para o setor.
Um grande sucesso da feira foi o tratador automático para tanque rede exposto no estande da empresa Marcsystem. Segundo o fabricante, o produto foi desenvolvido para oferecer maior comodidade ao piscicultor e para melhorar a qualidade na alimentação dos seus peixes. Segundo a Marcsystem, com o tratador automático o produtor terá a certeza que os peixes estão sendo alimentados na hora certa, já que é possível programar a hora da alimentação e a quantidade desejada de ração a ser despejada. O produtor também pode ficar tranquilo porque o tratador usa um painel solar que dispensa a instalação elétrica.
Seminário nacional levanta demandas da pesca brasileira
Antecedendo ao Aquaciência 2012 e ocupando o mesmo espaço onde este foi realizado, em Palmas – TO, aconteceu, entre os dias 27 e 29 de junho, o Seminário Nacional de Prospecção de Demandas da Cadeia Produtiva da Pesca (Prospesque), um encontro de 50 especialistas nas diferentes modalidades de pesca. Participaram representantes da pesca industrial, da pesca esportiva e da pesca artesanal nas modalidades marinha e continental, formando ao todo quatro grupos temáticos.
Para Adriano Prysthon, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, instituição que organizou o evento em parceria com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) o número de seminaristas foi pequeno, mas representativo.
Foram listadas cerca de quinhentas necessidades de pesquisa para o setor pesqueiro. Os participantes do Prospesque tiveram como missão debater e escolher as 10 demandas mais importantes para cada grupo temático. As escolhas foram feitas por meio de votação eletrônica em que os especialistas davam notas de prioridade de 1 a 5 para cada necessidade apontada.
O maior problema levantado por todos os grupos foi a falta de dados primários contínuos e de qualidade, sofrida pelo setor pesqueiro. Por esse motivo, a necessidade número um foi a de se construir um plano nacional de monitoramento pesqueiro que reúna informações da pesca de todo o país.
Além de priorizar as demandas, os participantes do Prospesque produziram 31 projetos de pesquisa, divididos nos quatro portfólios temáticos trabalhados. Os projetos sugerem instituições de pesquisa que possam realizá-los e as possíveis fontes de fomento.
Os resultados do Prospesque serão partilhados com os especialistas e, a partir de agosto, disponibilizados para todos os interessados na página da Embrapa Pesca e Aquicultura (http://cnpasa.sede.embrapa.br).