A aqüicultura mundial vai bem, obrigado. Pelo menos essa foi a impressão que ficou em todos que participaram da reunião deste ano da WAS – World Aquaculture Society (Sociedade Mundial de Aqüicultura), que acabou de acontecer em Seattle no EUA em fevereiro passado.
Ao todo 4.675 participantes circularam pelo Washington Convention Center, segundo os números oficiais divulgados pela WAS. Pessoas de todas as partes do mundo estavam presentes, representando 60 países, alguns denunciados por vistosos trajes típicos.
E, se tamanho é documento, a delegação brasileira revelou o interesse que o país demonstra pela criação de organismos aquáticos. Foram 38 brasileiros vindos dos diversos cantos do país, que fizeram apresentações orais, expuseram na seção de posters e se fartaram com os 232 exibidores presentes, numa feira que, para alguns, ainda estava pequena mas que ao terminar, deixou a sensação de não ter sido toda vista.
Mesmo com o frio, Seattle consegue ser uma cidade muito simpática e charmosa. A chuva, sua marca registrada, não apareceu nos dias do congresso e “frustrou” os organizadores do WAS ‘97 que, por cautela e esbanjamento de charme, haviam distribuído à todos, dentro de cada pasta do evento, um lindo guarda-chuva azul com o logotipo da reunião.
A recepção foi calorosa, com um banquete para os participantes, que eram discretamente recepcionados pelo casal Michael B. New, o inglês cidadão do mundo, naquela altura, às vésperas de ser empossado no seu novo cargo de presidente da WAS.
Dias depois, Michael New, já como presidente empossado recebeu novamente os participantes da WAS ‘97 para a tradicional President’s Reception. Nesta ocasião, gentilmente convidou um grupo de brasileiros, na maioria pertencente ao Centro de Aqüicultura da UNESP onde fez muitos amigos, para que com ele dividisse sua mesa.
Maratona
Foi uma programação de tirar o fôlego até dos mais preparados. Foram apresentados 50 diferentes temas ao longo de 4 dias de congresso, num total de 554 palestras que aconteciam simultaneamente em 9 salas.
As principais associações patrocinadoras do evento, 27 ao todo, aproveitaram para realizar seus encontros anuais e promover verdadeiros congressos paralelos, como foi o caso da ATA – American Tilapia Association, Nutrição, reprodução, sistemas intensivos de cultivo em circuitos fechados – raceways, ostreicultura, mitilicultura, salmonicultura. Tinha de tudo um pouco.
O cultivo de camarões marinhos dominou a cena desta reunião. Aos temas que acompanham tradicionalmente esse cultivo – nutrição, patologia, mercado, etc., foram adicionados neste WAS ‘97, temas voltados à sustentabilidade dos cultivos e suas conseqüências ambientais e sociais, principalmente nos países asiáticos. Pela primeira vez, organizações ambientalistas não-governamentais compareceram ao encontro, destacando-se o próprio Greenpeace, e ocuparam um grande espaço para protestar contra a destruição dos manguezais e de outras importantes áreas costeiras, principalmente na Índia. O assunto é prato cheio para os ambientalistas de todo o mundo.
Especialistas presentes, no entanto, lamentam o rigor dessas manifestações, cujo eco invariavelmente prejudica o desenvolvimento da atividade em muitos outros países, até mesmo naqueles que buscam abertamente o desenvolvimento da carcinicultura marinha de forma sustentável, como é o caso doBrasil.
BRASILIANAS
• A maior parte da delegação brasileira presente, composta pelo grupo do Centro de Aqüicultura da UNESP, foi ciceroneada por Elizaberth Urbinati, que já conhecia bem a cidade de Seattle por conta de seu curso de pós-doutoramento na Universidade de Washington. Também da UNESP o seu diretor Wagner C. Valenti, Marta Verardino de Stefani, Julio Leonhardt, Margarete Mallasen, Laura Satiko O. Nagashi, Celia Scorvo, Valeria Leão Souza e Teresa Ribeiro Dias. O time apresentou diversos posters com trabalhos sobre pacu, tambacu M. rosenberguii e rã.
• A Panorama da AQÜICULTURA, através de seu editor o biólogo Jomar Carvalho Filho, fez uma apresentação para os membros da American Tilapia Association e convidados sobre o estado atual do desenvolvimento do cultivo desse peixe no Brasil.
• Ricardo C. Martino da FIPERJ fez uma apresentação oral da avaliação do uso de duas rações comerciais de trutas. A parte de campo do trabalho, realizado em co-autoria com Wilson Londom e Gisele de Castro, foi nas instalações da Trutas da Serrinha, no município de Resende – RJ. As análises de laboratórios ficaram por conta da Unidade de Tecnologia de Pescado da FIPERJ.
• Sergio Zimmermann da UFRGS/ULBRA, além de posters sobre obtenção de super-machos e super-fêmeas de tilápias e, da home-page do GTCAD/IBAMA sobre o cultivo de M. rosenbergii, fez uma apresentação oral dos resultados do cultivo de tilápias em tanques-rede de pequeno volume, realizado no extremo do sul do país.
• Ausência de peso no WAS – Compromissos impediram a ida à Seattle, de Itamar Rocha, presidente do Capítulo Latino Americano da WAS.
• O presidente da ABRAq José Augusto “Zelão” Ferraz de Lima, que está residindo temporariamente em Omaha, Nebraska, EUA compareceu ao WAS e aproveitou para tentar, junto a entidade, trazer nos próximos anos o evento para o Brasil.
• Pela grande participação dos brasileiros em Seattle já é possível avaliar como será o WAS ‘98 em Las Vegas, que além do showbusiness oferece o Grand Canion como o passeio imperdível.
• Presença discreta nos anfiteatros de Seattle o Almirante Araripe de Macedo, presidente do GESPE (leia entrevista a seguir).