Por:
Ricardo C. Martino
Pesquisador da Fiperj e atual presidente da Seção Latino Americana da WAS
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O Congresso Mundial da Sociedade Mundial de Aqüicultura (World Aquaculture Society – WAS) foi realizado, dessa vez em Bali, na Indonésia, entre os dias 9 e 13 de maio, e contou com a presença de 2.800 participantes, entre pesquisadores, estudantes, expositores e produtores. O evento anual da mais importante sociedade de aqüicultura foi realizado no moderno Centro de Convenções de Bali, localizado na belíssima localidade de Nusa Dua (Duas Ilhas), onde estão situados os principais hotéis das grandes redes hoteleiras mundiais.
A festa de abertura do congresso contou com a presença do presidente da Indonésia Susilo Bambang Yudhoyono, do ministro dos Assuntos Marítimos e Pesca, Freddy Numberi, e de seus antecessores, além de diversas outras autoridades. Durante a cerimônia de abertura os participantes tiveram a oportunidade e o prazer de ver de perto uma belíssima apresentação de dança típica local, que nos colocou em contato com a tradição e os costumes do país.
A tragédia causada pela tsunami ocorrida do final de dezembro passado foi lembrada pelo presidente da WAS, Kevin Fitzimmons, em seu discurso de abertura, lamentando as perdas das inúmeras fazendas aqüícolas. Fitzimmons, aproveitou a ocasião para falar da aprovação, por parte da diretoria da WAS, da doação da metade do lucro do evento para a ajuda da reconstrução da aqüicultura do país. Ainda na ocasião, o Dr. Sena S. de Silva, pesquisador da Escola de Ecologia e Meio ambiente da Deakin University, Austrália, foi agraciado com um prêmio da WAS pelo reconhecimento dos seus relevantes serviços prestados ao desenvolvimento da aqüicultura nos países asiáticos.
A sessão plenária inaugural contou com uma palestra proferida por George Chamberlain, presidente da GAA – Global Aquaculture Aliance, que resumiu a situação da carcinicultura marinha no mundo. Em seguida ao término da sessão plenária, participamos de uma recepção de boas-vindas, num dos belíssimos jardins do Westin Resort Hotel, onde foi possível degustar pratos típicos da Indonésia e iguarias de outros países. Os brasileiros tiveram a grata surpresa de ouvir, entre outras músicas, clássicos da bossa-nova como a famosa “Garota de Ipanema” de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Como em todos os encontros da Sociedade Mundial de Aqüicultura, a versão desse ano contou com várias sessões, distribuídas pelos confortáveis auditórios do Centro de Convenções de Bali. As relacionadas à criação de camarão marinho mais uma vez dominaram o congresso, sendo as mais concorridas.
Uma sessão especial sobre a ONG “Aqüicultura sem fronteiras” atraiu bastante o público presente em Bali. Essa organização (www.aquaculturewithoutfrontiers.org), foi criada e é liderada por Michael New (foto3), ex-presidente da WAS e da European Aquaculture Society. A ONG teve seus alicerces estabelecidos durante o WAS’03, em Salvador – BA, com o propósito de promover e fortalecer a aqüicultura responsável e sustentável, voltada para aliviar os efeitos da pobreza nos países em desenvolvimento.
O próximo Congresso Mundial de Aqüicultura (WAS’06), já foi agendado para ser realizado em Florença , na Itália, entre os dias 09 e 13 de maio, uma cidade, que por si só já vale a presença. A organização do evento espera contar com uma grande presença de latino-americanos, principalmente brasileiros, o que significa aumentarmos a nossa participação e influência na WAS.
MAIS SOBRE O WAS’05
A sessão especial sobre fazendas de camarão, foi traduzida na língua indonésia, permitindo que os produtores locais se beneficiassem ao máximo da presença dos participantes internacionais. A sessão foi aberta por Nyan Taw, do Grupo PC, um dos patrocinadores do evento, com uma palestra abrangente sobre a produção indonésia de camarão. Ele descreveu os vários sistemas de cultivo usados nas diferentes regiões da Indonésia e, falou principalmente sobre o L. vannamei, que representa agora mais de 25% do volume cultivado na indústria local. Nyan Taw descreveu com detalhes algumas das técnicas e os resultados que permitem produtividades anuais entre 9 e 16 toneladas/hectare do L. vannamei, e 4 a 6 toneladas/hectare de P. monodon.
Werner Jost, da Camanor, descreveu para os participantes do WAS’05 as técnicas usadas na indústria brasileira do camarão. Disse que, assim como na Indonésia, existem no Brasil muitas fazendas pequenas, mas que as densidades e taxas de produção alcançadas aqui são geralmente mais baixas, e que nossas técnicas diferem, em especial no que diz respeito ao uso de bandejas de alimentação. Falou da complexidade das leis brasileiras e do controle governamental sobre a operação das carciniculturas, o que para ele, representa uma desvantagem para os investidores. Lembrou ainda que as doenças, em especial o vírus IMNV causador da NIM, está provando ser um dos principais entraves para a indústria brasileira do camarão.
Dan Fegan, que no evento foi eleito o atual presidente da WAS, falou do cultivo do camarão na Tailândia e das estratégias que a indústria tailandesa adotou para reduzir o risco da doença, lembrando que o uso de medidas práticas de biossegurança, e a colaboração entre a indústria e as agências do governo, foram um fator chave no sucesso da indústria tailandesa. Dan contou que o L. vannamei é responsável atualmente por 80% do total produzido pelo país, numa resposta direta aos problemas do crescimento lento que ocorrem com o P. monodon.
A importância da produção larval no contexto de um programa do SPF, foi destacada na apresentação da brasileira Ana Carolina de Barros Guerrelhas, gerente geral da SyAqua, no Brasil, durante a sessão destinada à produção de pós-larvas. Dan Fegan informou à Panorama da Aqüicultura que Ana Carolina, em sua apresentação, detalhou os vários estágios da produção, desde as matrizes, produção de náuplios até os manejos necessários para o sucesso de uma hatchery. De uma forma particular, Ana Carolina enfatizou a necessidade de não perder o foco nas boas práticas de gerenciamento de uma larvicultura para que seja possível uma operação comercial de sucesso, com estabilidade e prognósticos da produção.
A aplicação de protocolos de biossegurança e o desenvolvimento de um programa específico para a produção de Penaeus monodon na Malásia foram discutidos por George Chamberlain, baseado na experiência no sul da Malásia. O especialista, que ocupa a presidência da Global Aquaculture Aliance (GAA), descreveu os desafios para que se possa desenvolver um bom estoque de camarões livres de patógenos e de manter boas condições de quarentena. Disse, porém, que as melhorias no processo de produção de pós-larvas decorrentes da produção de animais SPF (Livre de Agentes Patogênicos Específicos) já estão disponíveis.
Devido à distância, a presença latino-americana em Bali não foi das maiores, mas nosso país contou com a presença de três fabricantes de rações, sendo que a Nutricil São Pedro Agroindustrial Ltda., participou com um estande montado na Feira de Produtos e Serviços para Aqüicultura, que sempre acontece paralela ao congresso. Estavam presentes ainda, os professores Luis André Sampaio da FURG, Daniel Lemos da USP, Écio Costa da UFPE, um grupo de estudantes da UFSC, além de Ricardo Martino, que representou a Seção Latino Americana da WAS. Foi sentida, porém, a ausência da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República, que não enviou nenhum representante.
Os trabalhos e os pôsteres dos brasileiros foram muito elogiados durante o evento e demonstraram a excelência da qualidade da pesquisa que está sendo desenvolvida por aqui, com destaque para o trabalho sobre linguado, intitulado “Temperature effects on egg and larval development of brazilian flounder Paralichthys orbignyanus”, dos pesquisadores Luís André Sampaio e Marcelo Okamoto, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Luís André Sampaio aproveitou a estada para visitar várias fazendas de cultivo de peixes marinhos, a maioria de garoupa. Os alevinos desses peixes são produzidos em terra e transferidos para os tanques-rede que medem, em média, 3 x 3 metros, com profundidade de 2 – 4 metros, e são fundeados em águas com profundidades ao redor de 6 metros. Cada fazenda é composta por 10 a 20 tanques, unidos por passarelas de madeira . Todas possuem uma casa flutuante, onde dormem algumas pessoas, com cozinha e um local para armazenar insumos. A distância da costa é pequena, alguns minutos de barco e o acesso por terra é bom. Segundo Sampaio, as informações sobre produtividade e crescimento são confusas. Viu tanques estocados com uma quantidade muito variada de peixes, mas a densidade média é de até 200/m2 pt (usam a medida de fundo) para alevinos de 10cm, sendo reduzida para 50/m2 ao final da engorda, quando atingem 500g. A alimentação é à base de ração, suplementada com peixes picados. A despesca se dá após 18 meses e pelo que Luís André Sampaio pôde perceber, a atividade é considerada rentável pelos piscicultores, cujo perfil econômico se assemelha aos nossos pescadores artesanais.
Na Indonésia estão tentando reproduzir peixes ornamentais em cativeiro, informou Luís André Sampaio, mas atualmente quase todo o comércio está baseado na captura. Os peixes são levados para um laboratório na costa, onde são colocados em aquários e em seguida preparados para o transporte. A quantidade e a variedade de peixes impressiona.