Beijupirá e panga foram destaques no primeiro dia de palestras do Aquaciência 2018, que está acontecendo em Natal, RN, até a próxima quinta-feira, dia 20. Os palestrantes Ronaldo Oliveira Cavalli, professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Luciana Seki Dias, professora da Universidade Federal de São Carlos, em SP, abordaram questões relativas aos principais desafios estruturais para a viabilidade do cultivo dessas espécies no Brasil.
Partindo da temática “O que aprendemos com o beijupirá”, Cavalli abriu os trabalhos apresentando os principais desafios que a inovação relativa ao cultivo da espécie, que até há alguns anos, era tido como promissor, principalmente, pelas boas características comerciais e de produção. Hoje, o segmento passa por uma fase de organização que envolve, além dos próprios desafios técnicos, questões como licenciamento ambiental.
Segundo ele, há pouco reconhecimento por parte dos órgãos públicos, que, muitas vezes, por falta de especialistas na área, criam obstáculos para os experimentos e a própria operação comercial em função da dificuldade de obtenção do licenciamento. Já no que diz respeito à sanidade, de um modo geral, ainda muito pouco se sabe sobre doenças em peixes marinhos. Na parte de nutrição, a tecnologia para produção de rações específicas para o beijupirá ainda não é adequada. Rações com graves problemas de formulação e homogeneidade têm surgido no mercado.
Sobre o impacto ambiental, Cavalli destacou a importância de um acompanhamento muito criterioso, pois, em experimentos realizados, já foi possível aferir a interferência do cultivo nos ambientes marinhos. No entanto, concluiu que o beijupirá apresenta um enorme potencial de cultivo no Brasil, mas, nesse momento, enfrenta as dificuldades naturais do pioneirismo.
Mudando para a água doce, Luciana Seki Dias abordou o tema “O cultivo de panga no Brasil: realidade ou perspectiva futura”. A professora da Universidade de São Carlos se deteve mais especificamente a questões de mercado, bem como as estratégias que norteiam a pesquisa rumo a um produto nacional de qualidade. Segundo ela, o foco hoje está no desenvolvimento de uma carne mais firme e mais saborosa que a importada. Aliás, só em 2017, 60 mil toneladas de filés de panga foram importadas pelo Brasil.
Com características desejáveis, como filé sem espinha e adaptabilidade às condições climáticas e ambientais brasileiras, o cultivo do peixe originário do Vietnã tem chamado a atenção de um número crescente de criadores. Luciana destacou, no entanto, que o maior desafio atualmente talvez seja o próprio criador, que quer todas as garantias possíveis de que terá sucesso na atividade. Para ela, isso não existe, uma vez que as condições gerais de cultivo podem variar muito. A pesquisadora conta, por exemplo, que há quem interprete a boa resistência do panga como um indicativo de que pode ser trabalhado em qualquer tipo de condição, inclusive, em águas de má qualidade.