Calagem de Viveiros:

Porquê, quanto e quando?

Dr. Alejandro Flores-Nava
Centro de Investigacion y de Estudios
Avanzados del IPN, Unidad Merida,
Apdo Postal 73, Cordemex, 97310,
Merida, Yucatan, México.


Qualquer aqüicultor concordaria quanto a grande importância do solo de sua fazenda no que diz respeito à capacidade de reter água, ou seja à permeabilidade. No entanto, poucos fazendeiros estão atentos a outro parâmetro, diretamente dependente do solo, que também está diretamente relacionado com a produtividade dos animais: a fertilidade.

A fertilidade do um solo é função de uma série de fatores geoquímicos que, em termos práticos, podem estar refletidos em duas expressões químicas facilmente monitoradas pelos fazendeiros: o pH do solo e a dureza total da água do viveiro. O pH reflete quão ácido ou alcalino está o solo e conseqüentemente a água do viveiro. Os peixes não sobrevivem com pH abaixo de 4.0. Onde o pH está entre 4.0 e 5.5 os peixes sobreviverão mas não crescerão e reproduzirão em padrões normais (fig. 1). Em muitos viveiros, com água ligeiramente ácida ( 5.5 a 7.0) e lama ácida ( 4.0 a 5.5) os peixes crescem e se reproduzem, mas as tentativas de aumentar a produtividade através da fertilização inorgânica raramente surtem afeito.

A pouca resposta à fertilização normalmente é resultado da insuficiência de carbono no sistema.. É neste ponto que outro fator chamado “dureza” tem um papel importante, já que representa a quantidade de íons de carbonato presentes na água, precisamente a soma do carbonato de Cálcio e de Magnésio, que são importantes fontes de carbono para as atividades de fotossíntese. Em outras palavras, se outros parâmetros estiverem estáveis, é a dureza da água que vai determinar a fertilidade do viveiro e conseqüentemente a produtividade dos peixes. A dureza total é expressa em mg/l CaCO3 ( embora esta expressão inclua também o carbonato de Mg)

A fertilização dos viveiros só resulta no bom crescimento do plâncton se a dureza total ( ou alcalinidade que reflete os íons bicarbonato e também é expressa como CaCO3) da coluna d’água estiver acima de 20 mg/l CaCO3. No entanto, há muitas fazendas localizadas em áreas onde o solo é ácido e por esta razão a dureza (e alcalinidade) é extremamente baixa (aguas “mole”). Nestes casos a calagem é muito recomendada, já que a evidência científica demonstra que tal prática incrementa substancialmente a fertilidade e portanto a produção piscícola de um viveiro. A calagem inclui a adição de calcário (CaCO2), cal (CaO) ou Hidróxido de Cálcio (CaOH) na sua forma em pó. A calagem reage com a acidez neutralizando-a e aumentando o pH. A dureza total (e a alcalinidade) de um viveiro aumenta após a calagem por causa da maior concentração de bicarbonato, carbonato e íons hidróxidos que, por sua vez, aumentam a quantidade de carbono disponível para o fitoplâncton ( alimento para os peixes e outros organismos-alimento). A calagem também favorece, através do aumento do pH do lodo / lama do fundo, a solubilidade do fósforo, que é um elemento chave para a produção do fitoplâncton, além de estimular a atividade microbiana acelerando assim a reciclagem dos nutrientes dentro do viveiro.

Mas quando e quanto calcário devemos aplicar para aumentar a fertilidade do viveiro? Para respondermos é preciso conhecer qual a dureza e o pH da água. Os métodos para determinação são simples e baratos, podendo ser realizados na fazenda (se um medidor de pH, alguma vidraria e poucos reagentes estiverem disponíveis) ou feito pelo pessoal da extensão, ou mesmo enviando as amostras para laboratórios de análises do governo, ou universidade mais próxima.

Se desses testes for concluído que um viveiro necessita de calagem, será então necessário retirar amostras do solo do fundo do viveiro; isto é feito retirando a camada superior do solo de mais ou menos 6 cm. Para viveiros de até 0,5 hectare, são recomendadas 6 amostras, de 0,5 a 1 ha 12 amostras e até 25 amostras para viveiros maiores. As amostras devem ser misturadas para se ter uma amostra final da qual duas sub-amostras serão secas ao ar. As amostras então estarão prontas para serem analisadas por um laboratório de solos. A tabela 1 mostra a relação do pH do fundo do viveiro e a quantidade requerida de calcário necessária para elevar a dureza total acima de 20 mg/l. De modo a otimizar o uso da tabela é importante que o laboratório encarregado das análises siga o método padrão proposto por Boyd (1976) que fornece as duas leituras de pH necessárias.

tabela 1 pag 6 -ed7

É importante enfatizar o fato que a calagem é uma maneira eficiente de aumentar a fertiidade dos solos que tenham seu equílibrio tendendo para o ácido e, portanto, resultando num pH da água do viveiro abaixo de 7.0. No entanto, outras propriedades podem estar localizadas em regiões onde o teor de carbonato e bicarbonato seja elevado. Nestes casos a calagem é contra-produtiva, já que os íons de cálcio do calcário reagem com o fósforo, tornando-o indisponível às algas. Para simplificar a interpretação de nossas análises, as seguintes recomendações servem como orientação para determinar quando e quanto calcário será necessário adicionar para melhorar a fertilização de um viveiro com conseqüente aumento na colheita de peixes:

1. Estabelecer um programa de monitoramento da qualidade de água. Analisar sempre no início e final de cada estação a dureza total e o pH da lama, bem como em qualquer época em que notar uma alta transparência, incomum, na água;

2. Lembrar que uma leitura inferior a 20 mg/l e/ou pH da água abaixo de 6.0 e/ou pH da lama inferior a 5.0 são usados como guias para novas calagens;

3. Calar o solo do viveiro quando este estiver seco, de preferência misturado à camada superficial para melhores resultados. Após encher o viveiro aguarde 48 horas (decantação) para colocar os peixes; e

4. Recomenda-se adicionalmente que produtores sem experiência em calagem procurem os serviços de extensão rural, pessoal de universidades ou institutos de pesca a fim de clarificar dúvidas.

A técnica de análises do pH de solo está descrita em Boyd C. (1976). Lime requirement and application in Fish ponds FAO Tech. Conf/76/E.13.