Camarão Marinho: O Cultivo Passo a Passo

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O cultivo de camarão marinho tem sua origem no Sudeste da Ásia onde, por séculos, fazendeiros colheram as safras provenientes de viveiros abastecidos por marés.

O cultivo moderno de camarões, tal qual o conhecemos, nasceu na década de 30, quando cientistas japoneses iniciaram os trabalhos de larvicultura com o Penaeus japonicus. Mas, foram nas décadas de 70 e 80, quando pescadores e larvicultores começaram a abastecer os criadores com grandes quantidades de juvenis, que a produção de camarões cultivados explodiu.

Hoje, somam mais de 50 os países que possuem fazendas de camarões. No Equador, Tailândia, China e Indonésia, os lucros da indústria alcançam de 400 a 900 milhões de dólares anuais. Malásia, Índia, Taiwan, Bangladesh e Filipinas também abrigam uma indústria ativa de cultivo. Ao longo da América Central e do Sul, Honduras, México, Panamá, Colômbia e Peru também possuem suas indústrias, além do Brasil, com seu grande potencial.

Já os países consumidores – EUA, Europa Ocidental e Japão – se especializaram em produção intensiva, com uso de alta tecnologia, contudo, suas produções tem sido pequenas.

Os cultivos de camarões marinhos utilizam um ciclo de produção composto por três fases: larvicultura, berçário e engorda. Todas as três fases são, geralmente, conduzidas simultaneamente. Assim, logo que os viveiros de engorda são despescados, são novamente (re)estocados com juvenis dos viveiros berçários, que por sua vez, são abastecidos com as pós-larvas do laboratório de larvicultura. Como a fase de engorda dura de três a seis meses, o número máximo de safras anuais é três, sendo duas, o número mais usual.

LARVICULTURA

Quando não capturam juvenis selvagens, que são estocados diretamente nos viveiros berçários ou de engorda, os produtores geralmente compram ou produzem suas próprias pós-larvas. Para produzir, capturam na natureza, matrizes reprodutoras ou mesmo fêmeas já ovadas, que desovam nos laboratórios de larvicultura.

Estes laboratórios geralmente vendem dois produtos: os náuplios e as pós-larvas. Os náuplios, larvas de camarão recém eclodidas dos ovos, custam cerca de 1 dólar o milheiro e são vendidos a outros laboratórios, que os criam até pós-larvas. Já as pós-larvas, vendidas para serem estocadas diretamente nos viveiros berçários ou de engorda, custam de 2 a 12 dólares o milheiro.

CICLO

Capturadas na natureza ou maturadas em laboratório, as fêmeas, dependendo da temperatura, espécie, tamanho, origem (cativeiro ou natureza) e número de desovas já realizadas, produzem entre 20.000 e 500.000 ovos. A desova ocorre invariavelmente à noite. No dia seguinte, dos ovos eclodem náuplios – o primeiro estágio larvar, que se alimentam por cerca de dois dias de seu próprio saco vitelínico (reservas energéticas do ovo).

Em seguida, os náuplios se metamorfoseiam em zoés – o segundo estágio larval, que possui corpo alongado e apêndices plumados, sem ter contudo a forma do camarão adulto. As zoés se alimentam de algas por cinco dias, quando se metamorfoseiam em mysis.

Mysis, é o último estágio larvar. Se alimentam de algas e zooplâncton (Artemia) e já possuem características que as assemelham ao camarão adulto, como o corpo segmentado e olhos salientes. Este estágio dura três dias, quando então se metamorfoseiam em pós-larvas.

As pós-larvas, que se parecem muito com camarões adultos, se alimentam de zooplâncton, detritos e rações comerciais. Depois, de uma a quatro semanas, com praticamente uma muda por dia, as pós-larvas são estocadas em viveiros berçários ou diretamente nos viveiros de engorda. Todo o período larval dura cerca de duas semanas e o período pós-larval, quatro semanas. Assim, da desova até a estocagem, são necessários aproximadamente seis semanas.

LABORATÓRIOS

Podemos classificar os laboratórios de larvicultura em pequeno, médio e grande porte.

Os de pequeno porte, alcançaram sucesso no Sudoeste da Ásia, particularmente na Tailândia, Taiwan, Indonésia e Filipinas e são comumente operados por grupos familiares. São chamdas larviculturas de fundo de quintal “backyard”.Possuem baixos custos de construção e instalação, e sua capacidade de incubação geralmente é menor que 50 toneladas, distribuídos em pequenos incubadores. Podem muitas vezes se concentrar em somente uma das fases do processo, como a produção de náuplios ou pós-larvas. Usam baixas densidades e utilizam água não tratada. As doenças e os problemas oriundos da pouca qualidade da água, freqüentemente os tiram de produção, mas podem logo ser desinfectados e postos novamente em operação. A grande vantagem desses laboratórios está nos baixos custos de implantação e operação, e na habilidade que possuem para abrir e fechar, dependendo da época do ano, disponibilidade de pós-larvas no mercado, etc. Os índices de sobrevivência variam de 0 a 90%, pois dependem de um grande número de variáveis.

Os laboratórios de médio porte, populares na Ásia, possuem capacidade de incubação que varia de 50 a 500 toneladas. Os que fazem mais sucesso, principalmente em Taiwan, foram os concebidos por japoneses. Estes laboratórios utilizam grandes incubadoras, baixa densidade de estocagem e baixa taxa de renovação de água. São estimuladas as condições para que seja formado um ecossistema de forma que as larvas possam encontrar alimento natural, principalmente bactérias. Para isso, substâncias que permitam o desenvolvimento de bactérias “boas” ao contrário das “más”, são adicionadas ao sistema. Nestes laboratórios a sobrevivência é sempre em torno de 50% e, em função do ecossistema estabelecido, próximo ao natural, pressupõe-se que são obtidas pós-larvas mais saudáveis e resistentes.

Os laboratórios de grande porte (mais de 500 toneladas) foram desenvolvidos em Galveston, Texas. São instalação que custam alguns milhões de dólares e produzem grandes quantidades de pós-larvas em ambientes controlados. Para funcionar bem, exigem a presença de técnicos e cientistas bem remunerados, que trabalham com grandes densidades de estocagem, altas taxas de renovação de água, grandes incubadoras e sistema “de águas claras”. Para alimentar as larvas, cultivam algas e Artemia em incubadores separados e atingem uma taxa de sobrevivência acima de 70%, necessária para manter razoáveis taxas de retorno de investimentos.

Doenças e problemas de qualidade de água afetam essas instalações, que necessitam de muito tempo para se recuperarem das falhas na produção. Os grandes laboratórios são encontrados na maioria dos países que cultivam camarões como o Equador e a China, onde muitos estão bem instalados.

A alimentação em todas as instalações de larvicultura, geralmente é composta de uma combinação de organismos vivos, como microalgas e náuplios de Artemia, associados a dietas comerciais. As instalações que possuem instalações para maturação de matrizes reprodutoras, as alimentam com minhocas, lulas, mexilhões e ostras, além de alimentos existentes à venda no mercado, especialmente preparados para esta finalidade, mas que não substituem 100% o alimento fresco.

TENDÊNCIAS DAS LARVICULTURAS

Nos países ocidentais, há uma tendência para a instalação de grandes laboratórios de larvicultura, centralizados, capazes de suprir com reprodutores e náuplios, pequenos laboratórios de outras regiões ou mesmo outros países. Grandes laboratórios de larvicultura dos EUA, Equador e Panamá já fornecem náuplios à pequenos laboratórios da América Central e do Sul, que os desenvolvem até pós-larvas. Esses grandes laboratórios centralizados, poderão desenvolver reprodutores livres de doenças (SPF – Specific Pathogenic Free) e náuplios geneticamente melhorados.

Nos países orientais, com exceção da China, pequenos e médios laboratórios de larvicultura continuarão a manter sua escala de produção, e tenderão a receber náuplios “altamente saudáveis” importados dos países ocidentais. As tecnologias hoje utilizadas para laboratórios de médio e grande porte, tenderão a se misturar, e técnicas específicas serão utilizadas de acordo com as condições locais.

BERÇÁRIO

A fase berçário é aquela em que juvenis são estocados, em grandes densidades, em pequenos viveiros de terra e ocasionalmente em raceways (tanques de cimento com grandes trocas de água). A fase de berçário ocorre entre a saída do laboratório de larvicultura e a fase de engorda, por isso mesmo, possui características de ambas as fases, se assemelhando mais a última. Os juvenis produzidos em laboratórios ou capturados na natureza podem, entretanto, ser estocados diretamente nos viveiros de engorda, tornando a fase berçário nem sempre necessária. Alguns criadores não a utilizam, enquanto outros acreditam que ela contribua com melhores sobrevivências nos viveiros de engorda. A tendência é a não utilização da fase de berçário, mas 75% das fazendas dos países ocidentais ainda utilizam este tipo de manejo.

São viveiros de 0,5 a 5 hectares e as pós-larvas são neles estocadas em densidades de 150 a 200/m2. A alimentação, geralmente farelada, é dada uma vez ao dia com níveis de proteína que variam de 30 a 45%. Quando raceways são utilizados, náuplios de Artemia também são ofertados. Muitos fazendeiros acreditam que esta fase não deve exceder a 25 dias, pois daí em diante há um aumento na mortalidade.

Os criadores favoráveis ao uso de berçário, argumentam que ele favorece uma melhor avaliação do estoque; facilita o controle de predadores; permite maior uniformidade de tamanho; melhor uso da infra-estrutura da fazenda; maior número de safras anuais; produz juvenis mais fortes e reduz as perdas na alimentação. Argumentam também que em climas temperados, o berçário auxilia no melhor aproveitamento do período de engorda.

Os fazendeiros não favoráveis, criticam a fase de berçário argumentando que nestas condições, ocorre um estresse muito grande no manejo da transferência para a estocagem final.

ENGORDA

Após a estocagem dos juvenis nos viveiros de engorda, são necessários de 3 a 6 meses para se obter uma safra. No Nordeste da China é obtida uma única e enorme safra por ano. Nos países de clima semitropical são produzidas duas safras anuais, enquanto que fazendas próximas ao equador podem produzir três safras por ano.

Os camarões preferem o clima quente. Para alguns, a combinação de calor, boas áreas, baixo custo de mão-de-obra, apoio governamental, know how e capital, fazem uma fórmula explosiva para o sucesso da carcinicultura marinha.

Podemos classificar os manejos de engorda como extensivo, semi-intensivo e intensivo. Extensivo pressupõe baixa densidade de estocagem, semi-intensivo média e intensivo, alta densidade. Com o aumento da densidade de estocagem, as fazendas ficam menores, a tecnologia mais sofisticada, os custos se elevam e a produção por unidade de espaço aumenta muito.

Cultivo extensivo – Normalmente é feito nos trópicos, em áreas alagadas ao longo de baías e rios com influência de marés. O tamanho dos viveiros varia desde pequenas áreas até centenas de hectares. Normalmente são utilizados camarões que chegam com as marés ou que são capturados na natureza, ou até mesmo pós-larvas provenientes de laboratórios de larvicultura. A densidade geralmente não ultrapassa os 25.000 camarões por hectare (2,5/m2), com renovação diária de água, de 5 a 10%. Os camarões se alimentam de organismos que ocorrem naturalmente nos viveiros, que para isso devem ser adubados com adubos orgânicos ou fertilizantes inorgânicos. A construção e os custos operacionais são baixos, da mesma forma que são baixas as produtividades, variando de 50 a 500 kg/ha/ano (com cabeça).Os custos de produção oscilam de 1 a 3 dólares por kg.

Cultivo semi-intensivo – É conduzido em cotas acima da linha da maré mais alta. São utilizados viveiros berçários e de engorda, que variam de 5 a 25 hectares. A taxa de renovação da água é de 10% a 20% diariamente. O povoamento varia de 25.000 a 200.000 animais por hectare (2,5 a 20/m2) e, com o aumento da competição pelo alimento natural, torna-se imprescindível o uso de rações específicas para camarões. Os custos de construção variam de 15.000 a 25.000 dólares/ha. Os camarões são capturados em redes quando os viveiros são drenados. As produtividades variam de 500 a 5.000 kg/ha/ano (com cabeça), sendo a produtividade de 2.000 kg/ha/ano considerada como um bom resultado. Os custos de produção neste sistema variam de 3 a 5 dólares por kg.

Cultivo intensivo – O cultivo intensivo é feito em pequenos tanques de 0.1 a 5 hectares (muitas vezes cobertos), com alta densidade de estocagem (acima de 200.000 juvenis/ha), manejo constante, alimentação intensiva, remoção de dejetos, aeração (ou injeção de oxigênio) e troca de água acima de 30% ao dia. Os custos de construção variam de 25.000 a 100.000 dólares por hectare. Técnicas sofisticadas de despesca e limpeza do fundo permitem a produção durante o ano todo. Produtividades de 5.000 a 10.000 kg por hectare ano são comuns (camarões com cabeça) e os custos de produção variam de 5 a 7 dólares por kg.

Cultivos super-intensivos, ainda experimentais, exigem um manejo ainda mais intensificado e podem produzir produtividades que variam de 10.000 a 100.000 kg/ha/ano. A Tailândia possui muitas engordas super-intensivas. Uma unidade super-intensiva nos EUA chegou a produzir o equivalente a 100.000 kg /ha/ano e foi fechada por uma contaminação por vírus e problemas financeiros.

AERAÇÃO

Criadores de camarões usam o movimento das marés e bombas para fazer circular a água em seus cultivos extensivos e semi-intensivos. A troca de água, traz água fresca oxigenada e retira dejetos para fora dos viveiros. Para aumentar os níveis de oxigênio dissolvido, algumas fazendas com cultivo semi-intensivo, assim como a maioria das fazendas com cultivo intensivo, utilizam aeradores de pás (paddlewheels) ou aspiradores-injetores de ar em seus viveiros.

Os aeradores de pás transferem oxigênio através de batidas compassadas das pás na superfície da água; os aspiradores-injetores de ar injetam uma corrente de ar rica em oxigênio atmosférico abaixo da superfície.

Os camarões prosperam mais nas correntes criadas por esses dois tipos de aeradores.

Aeradores de pás são mais baratos e transferem eficientemente oxigênio para água, mas possuem muitas partes móveis. Aspiradores-injetores custam mais caro, mas possuem menos partes móveis. Produtores de aeradores de pás e aspiradores-injetores competem ativamente pelo mercado de camarões, mas nenhuma das tecnologias ainda provou ser melhor que a outra.

DOENÇAS

As doenças representam o maior dos obstáculos ao futuro dos cultivos de camarões. Fazendas e laboratórios de larvicultura tem poucas defesas contra protozoários, fungos e bactérias, mas são os vírus que podem quebrar a indústria. Vírus, já foram responsáveis por quebras em vários países do mundo. Não existem medicamentos que tratem bem uma contaminação por vírus. Os fazendeiros não tem escolha e são obrigados a secar a fazenda ou o laboratório e começar novamente, sem a garantia de que o vírus está totalmente eliminado.

RAÇÕES

A medida que as densidades de estocagem aumentam, aumenta mais a necessidade de se utilizar rações de boa qualidade. Alguns cultivos extensivos não utilizam rações, já que os camarões se alimentam de organismos vivos encontrados no fundo dos viveiros. Outros cultivos extensivos as utilizam por determinados períodos ou mesmo para estimular o desenvolvimento da cadeia alimentar.

Nos sistemas semi-intensivos, com mais camarões se alimentando no fundo dos viveiros, a maior parte das rações é consumida pelos camarões e é pouca a sobra para estimular a cadeia alimentar. Em conseqüência, a qualidade da ração ganha mais importância, pois é dela que os animais obtém a maior parte de seus nutrientes.

Nos cultivos intensivos, não existem praticamente alimentação natural e os camarões dependem das rações para obter todos os seus nutrientes. Em conseqüência disso, esses cultivos necessitam das melhores rações. O ideal é que camarões submetidos a manejos semi-intensivos e intensivos se alimentem quatro ou cinco vezes ao dia, com pelo menos três horas de intervalo entre as alimentações. Com rações de boa qualidade consegue-se uma melhor conversão alimentar, crescimento rápido e baixa taxa de mortalidade, além de não proporcionar problemas na qualidade da água. Em 1991, as fábricas de rações em todo o mundo, produziram juntas, aproximadamente um milhão de toneladas de alimentos para camarões.

CONCLUSÕES

Os laboratórios de larvicultura são o elo mais fraco do ciclo de produção. Isso porque, na maioria das vezes, não têm acesso a reprodutores selvagens. Os laboratórios vem sendo prejudicados por problemas de manejo, qualidade de água e doenças, apesar de estarem sempre se desenvolvendo e aumentando suas produções. Centenas de pesquisadores em todo o mundo trabalham para solucionar os mistérios da produção de larvas. Além disso, os milhares de larvicultores, nas fazendas em todo o mundo, improvisam novas técnicas, desenhos e idéias para estimularem o aumento da produção. Quando os laboratórios de larvicultura se tornarem mais seguros e confiáveis – e se tornarão – a produção de camarão cultivado tomará ainda mais impulso.

A engorda está mais bem direcionada, mas os mesmos problemas de manejo, doença e qualidade de água, ainda causam quebras de safra. Os fazendeiros ainda se queixam das deficiências e da pouca qualidade das rações, que em alguns casos ainda são formuladas para animais terrestres.

A relativa pouca idade da atividade também causa problemas. Mesmo assim, a atividade já cresceu a um patamar de bilhões de dólares, criando centenas de milhares de empregos e muito dinheiro estrangeiro, bastante desejado, em muitos países do terceiro mundo.


Etc… & Tal…

A ABCC informa que está organizando uma mesa redonda sobre: “Evolução e Perspectivas da Carcinicultura Marinha no Brasil” que será realizada no dia 8 de agosto no Mar Hotel em Récife.

A Maricultura da Bahia, está processando e exportando para os EUA (sem cabeça), 80% da sua produçãp mensal de 100 toneladas de camarões. E o resultado da produção das duas fazendas operadas pela empresa em Valença (480 ha) e Salinas (230 ha). Além disso, a Maricultura da Bahia também produz 25 milhões de pós-larvas/mês para estocagem.

Não é só no Norte/Nordeste que os camarões marinhos se apresentam como um bom negócio. Em Paranaguá no Paraná, a Fazenda Borges opera 40 hectares de viveiros com as espécies nativas Penaeus paulensis (rosa) e P. schmitti (branco). Segundo Ricardo Borges, o P. paulensis, estocado numa densidade de 20/m2 em cultivo de 150 – 180 dias resultou em 1.150 kg/ha/cuItivo. Para o P. schmitti, 9 cultivo no verão, com estocagem de 6-9 camarões/m2 resultou em 550 kg/ha/cultivo, com camarões de 12 gramas. Ricardo considera que, brevemente, com a instala5ão de aeradores poderá obter produção de 1.500 – 2.000 kg/ha/cuItivo até o final do ano. Um fato curioso é a utilização de ração para trutas ofertadasjuntamente com ração para camarões, em decorrência dos elevados preços que as rações específicas para camarões chegam ao Sul do país.

A Yakult S.A., instalada no balneário catarinense de Barra do Sul, opera 20 hectares em cultivo sem i-intensivo com as espécies P. paulensis e P. schmitti. A empresa tem obtido produções de 700 kg/ha em cul ti vos de 6-7 meses onde despescam camarões de 15 a 22 gramas. A Yakult comercializa camarões P. paulensis vivos (hibernados) no mercado de São Paulo a 20 dólares o kg e congelados a 15 dólares. A empresa possui também um sistema intensivo operado em tanque circular de 700 m2, com filtragem biológica, onde já foram realizados quatro cultivos. Neste sistema foi obtido recentemente 1.1 kg/m2 com densidade de 70 camarões/m2. Assim como outros carcinicultores do Sul, a Yakult reclama da qualidade e dos preços das rações que chegam a região.

Novamente o Departamento de Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina desempenha um Importante papel no crescimento da aqüicultura na região Sul do Brasil. O Laboratório de Camarões Peneídeos da UFSC é o grande provedor de pós-larvas aos projetos da região, com sua produção de 40 milhões anuais de pós-larvas de P. paulensis produzidas de setembro a novembro e de janeiro a março, e P. schmitti. – produzIdas de dezembro a fevereiro. Além de SantaCatarina e Paraná, o Laboratório da UFSCjá comercializa para São Paulo, Bahla, Rio Grande do Norte e Piauí. É a pesquisa universitária mais uma vez mostrando a sua importância para o desenvolvimento da aqüicuItura brasIleira.

Serão inauguradas no próximo dia 09/08/ 94, às 10:00 hs. da manhã, as novas instalações do IPA (Estação Experimental do Porto de Galinha), resultado de um acordo de cooperação técnica, celebrado com o grupo Sibra, envolvendo investimentos de 800 mil dólares, relacionados com a cons- . trução de uma unidade de maturação (900 reprodutores), unidade de larvicultura.( 40 milhões de pós-larvas/mês) e uma unidade demonstração (11 viveiros experimentais). Pela primeira vez no Brasil, o Grupo Sibra opera com reprodutores SPF (especificamente isentos de doenças) provenientes do Hawai com resultados preliminares já animadores. Para gerência e produção das pós-larvas SPF, o grupo Sibra contratou o Dr. Christlan Dinneweth, de nacionalidade belga e experiência de 6 anos nas camaroneiras equatorianas Macrobio, Larfico e Acuatecsa.

O grupo Sibra, adquiriu recentemente 2.560 ha de terras no Rio Grande do Norte para implantar, à partir de agosto, 500 hectares de viveiros, distribuídos em 250 viveiros com 2 hectares cada, equipados com 8 aeradores tipo padllewheel. Instalará também uma unidade de produção de pós-larvas com capacidade para 100 milhões de póslarvas/mês e uma unidade de beneficiamento com capacidade para processar 30 t/dia. O grupo também pretende construir uma fábrica de aeradores paddle wheel e uma unidade

o Projeto Marine-Maricultura do Nordeste, está concluindo a construção de mais 100 hectares de viveiros, ampliando sua área para 220 hectares. Além disso, o grupo Canãa, detentor do controle acionário da Marine, pretende ampliar os ,investimentos na área de camarão marinho adquirindo 400 hectares de terras apropriadas, de forma a viabilizar a implantação de mais 300 hectares até o final de 1995.

A Tecnarão, empresa pertencente a um grupo argentIno, está Implantando 100 hectares de viveiros para camarão marinho no município de Arês-RN.

A Aquatec recentemente concluiu a ampliação da sua larvicultura, cuja capacidade instalada éde20 milhões de pós-Iarvas/ mês. Inclusive, a produção obtida em junho/94 já foi de 18 milhões de pós-larvas de P. vannamei.

O laboratório de larvlcultura da Aquamaris está em fase final de reforma para reinício de operações em setembro, quando deverá produzir 10 milhões de pós-larvas/mês. Além disso, a Aquamaris está concluindo a construção de sua unidade de beneficiamento, a exemplo da MarlcuItura da Bahia, Valença MaricuItura e Secom Aqüicultura, quejá possuem asua.Atualmente produzindo 23 toneladas/mês de camarões, e visando chegar as 40 toneladas/ mês, a planta de beneficiamento da Aquamaris poderá processar 8 toneladas/dia com câmara frigorífica armazenando até 60 toneladas. A MarineMaricultura do Nordeste e a Sibra Empreendimentos, já viabilizaram os recursos necessários à Implantação das suas unidades.

A terceirização chega a carcinicultura marinha com empresas, como a Marine, que fornece rações ou ,?ompra a produção de outras fazendas. E o resultado das atraentes oportunidades oferecidas ao camarão brasileiro pelo mercado europeu.

A Artemisa (CE) e a Mariscos do Brasil (PI)já esteio construindo unidades próprias de produção de pós-larvas.

A Valença Maricultura da Bahia, recentemente ampliou a capacidade da sua larvicultura, ao mesmo tempo em que está concluindo a implantação dos seus 200 hectares de viveiros.

O grupo Sibra arrendou as instalações da Fazenda Formosa de Camarões em Canguaretama, com 40 viveiros de 1 ha/ cada. Arrendou também, com apoio do BNB, a Marpisa (PI), com 60 ha desativados. O contrato de arrendamento com a Marpisa, tem prazo de quatro anos e abre um precedente importante pois os 2.000 hectares de viveiros desativados no Brasil, poderão voltar a operar com o apoio dos bancos de desenvolvimento.


Os caminhos da carcinicultura
marinha brasileira

Brasil, na metade da década de 70 ensaiou os primeiros passos da carcinicultura marinha, embalado pelas tecnologias pioneiras que vinham dos laboratórios de Galveston no Texas. Na ocasião, os técnicos norte americanos que aqui vieram, apontaram o enorme potencial do nosso país, despertando o desejo de grandes grupos, como a Companhia Souza Cruz de cigarros, que construiu um laboratório pioneiro às margens da Baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro. Era a década de 70 e o futuro promissor estava pela frente.

No Nordeste, o dinheiro fácil, quase de graça, permitiu a implantação de muitos projetos, ofuscados pelo brilho do pote de ouro que a atividade significava para muitos.

Mas pouco sobrou dessa época. Os milhões de dólares empregados para estimular a atividade escoaram pelas comportas e instalou-se uma crise, que somente na década de 90, começou a ser solucionada.

Os primeiros projetos brasileiros tentaram criar o Penaeus japoniucus e, em função do insucesso, voltaram-se para espécies nativas em cultivos extensivos. As tentativas para aumentar as densidades de estocagem desses camarões nativos esbarraramna parada do crescimento. Os camarões nãochegavamao peso comercial, nem mesmo alimentados pelas rações específicaS disponíveis no mercado.v

Em 1984, a Maricultura da Bahia deu início a um projeto semi-intensivo, usando o dobro das densidades usadas pela maioria das fazendas. O pacote tecnológico estrangeiro utilizava as espécies P. vannamei e P. stylirostres, mas a dificuldade de produção de pós-larvas obrigou o uso de P. monodon, P. penicilatus, P. schmitti, P aztecus e P. paulensis. Dessas espécies, entretanto, a única’ que alcançou os resultados desejados foi de fato o P. vannamei. Para a Maricultura da Bahia, o domínio da técnica somente chegou em 1991, transformando-a na primeira camaroneira brasileira planejável e rentável.

Muitas camaroneiras surgiram ao longo desses anos, somando um espelho de 3.541 hectares de viveiros, mas somente pouco mais da metade encontra-se hoje em operação (quadro ao lado). As 19 camaroneiras em atividade ainda utilizam, além do P. vannamei, o P. subtilis, P. schmitti e P. paulensis.

Segundo Luiz Augusto Faria, por muitos anos responsável pela larvicultura da Maricultura da Bahia, a produção de pós-larvas ainda é uma variável desequilibrante na atividade, apesar dos sucessos já alcançados. Cita, por exemplo, a Aquatec no Rio Grande do Norte, que desde 1991 produz pós-larvas de P. vannamei.Delá para cá,a Aquatecmudou o perfil de muitas fazendas que estavam paradas ou perdendo dinheiro, e que hoje vivem outra realidade.

Para Luiz Augusto, que hoje presta consultoria a projetos no Brasil, Venezuela e Colômbia, para a mão-deobra técnica especializada atuante hoje nas fazendas brasileiras, nada do que se faz no exterior é novidade. Temos capacidade para julgar, analisar e adaptar.

O Brasil vive hoje um momento em que, passadas as experiências negativas decorrentes do amadorismo que caracterizou o inicio da atividade, é necessário ter cautela para que o crescimento da atividade seja feito de forma ordenada esólida.

Hoje existem no país vários sistemas de cultivo sendo testados, desde gaiolas (ver box abaixo) até sistemas intensivos em tanques com filtragem biológica, e os resultados são animadores.

Para Luiz Augusto, temos que ter em mente que os melhores resultados, tanto em produtividade como em produção, não trazem nenhuma garantia para a indústria, ao contrário, expõem a variáveis ainda desconhecidas que normalmente tem levado países à falência da atividade. Luiz Augusto acha ainda, que dispomos de conhecimentos técnicos suficientes para desenvolvermos a indústria dentro de limites conhecidos, sem pôr em risco a indústria e o meio ambiente.

E segue a indústria brasileira de camarões, agora embalada pela experiência. Não mais influenciada pelo pote de ouro cintilante. Mesmo porque o caminho para o sucesso é feito através do trabalho duro e consciente, e não se assemelha a . nenhum arco-íris.

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