Carcinicultura sofre mais uma vez com as enchentes

As inundações provocadas pelas chuvas intensas que caíram em abril sobre diversos estados das Regiões Norte e Nordeste trouxeram muitas perdas, dor e sofrimento. As imagens contundentes do rastro da destruição, que foram mostradas diariamente pelos telejornais para um Brasil impotente, expuseram a tragédia de milhares de famílias e a necessidade de ajuda por parte de toda a sociedade para que cidades inteiras possam retomar o seu cotidiano.

Para a indústria do camarão cultivado não foi diferente. O presidente da ABCC, Itamar de Paiva Rocha, estima que as enchentes produziram perdas superiores a R$ 16 milhões, desferindo duros golpes na indústria, no exato momento em que eram claros os sinais da sua recuperação, após ter passado por viroses e outros problemas decorrentes da conjuntura econômica do Brasil e do resto do mundo. Segundo Itamar, numa primeira avaliação cerca de 1.500 toneladas de camarões e 700 de tilápia foram perdidas, além de muitos equipamentos e taludes que se desfizeram. No município de Pendências, no Rio Grande do Norte, foi decretado estado de calamidade pública, onde pelo menos três fazendas de camarão foram destruídas pela força das águas. Nesse município, o número de empregos que a carcinicultura oferece é superior a 3.500 vagas. A Potiporã, uma das empresas âncoras do setor, localizada no município, teve 2/3 dos seus 960 hectares totalmente submersos pelas águas, prejudicando todo o planejamento da produção e da comercialização. A situação levou a empresa a optar pelas férias coletivas para uma boa parte dos seus 800 funcionários.

As enchentes castigaram igualmente produtores de pequeno, médio e grande porte, e os problemas aumentam à medida que os enormes prejuízos são contabilizados. Vários municípios no Vale do Açu passam por dificuldades, agravadas pela sangria da Barragem Armando Ribeiro Gonçalves, onde mais de 600 famílias estão desabrigadas. Em Porto do Mangue, uma ponte construída pela empresa Maricultura Tropical foi totalmente destruída pelo rio Piranhas/Açu e muitos viveiros se desmancharam na enxurrada. Macau, Itajá, Assu e Alto do Rodrigues tiveram diversas carciniculturas devastadas. Na região do Vale do Açu, os carcinicultores estudam a possibilidade de uma suspensão temporária dos contratos de trabalho de pelo menos 25% dos cerca de 3.200 trabalhadores envolvidos com a atividade, como forma de evitar demissões.

Segundo o Diário de Natal, um possível acordo com os funcionários das carciniculturas foi colocado durante uma reunião no dia 16 de abril na Delegacia Regional do Trabalho (DRT). A medida evitaria também que os carcinicultores tenham gastos com as rescisões dos contratos, dando a eles tempo de se recuperarem, e garantiria as vagas de trabalho para os trabalhadores das fazendas. Algumas empresas deram férias coletivas para uma parcela da mão-de-obra que não será necessária imediatamente, já que muitas fazendas pararam ou estão trabalhando com baixo ritmo de produção.