Por: Tancredo Almada Cruz – Prof. do DEE – Univ. Federal de Viçosa
A ranicultura, embora seja uma atividade relativamente nova no Brasil, demonstra grande vitalidade, haja visto os investimentos realizados no setor nos últimos anos. Estima-se terem sido implantados cerca de 2.000 ranários, sendo alguns de grande porte.
O elevado nível de comercialização, atualmente praticado, indica ser a produção comercial ainda insuficiente, face à demanda do mercado consumidor. Entretanto, há perspectivas de crescimento da oferta, devido principalmente ao aumento da produtividade decorrente de avanços tecnológicos e da entrada de novos criadores no mercado.
No que se refere ao desenvolvimento tecnológico, cita-se como exemplo os resultados obtidos pelo sistema anfigranja, gerado na Universidade Federal de Viçosa (U.F.V.), que reduziu o tempo de engorda (do imago ao abate) de cerca de 250 para 100 dias. Além disso, esse sistema, ao introduzir técnicas de manejo em instalações adequadas, conseguiu diminuir significativamente o índice de mortalidade, não obstante permitir um maior número de animais por m2.
Com respeito à possibilidade de entrada de novos criadores no mercado, cabe esclarecer que a ranicultura é uma atividade que requer um volume de investimentos relativamente baixo com curto prazo de maturação, técnicas de manejo de fácil absorção e rentabilidade atrativa.
Esses fatos, à primeira vista, apontam para o risco de uma super produção com conseqüências indesejáveis para o setor. No entanto, pesquisa(*) concluída em janeiro/1990 sobre o mercado interno da carne de rã indicou a existência de uma demanda potencial para o produto, capaz de absorver quase três vezes a produção atual. Em paralelo, a mesma pesquisa detectou alguns problemas que necessitam ser superados para que a demanda potencial se transforme em efetiva. São essas questões que se pretende discutir neste artigo.
O primeiro problema, pão por ordem de importância, mas por mera seqüência expositiva, refere-se á constatação de ser a carne de rã um produto pouco conhecido pelo público. Observou-se que um grande número (pouco mais de 90 %) das pessoas praticamente não conhece o produto. Cerca de 46 % dos entrevistados não tiveram sequer a oportunidade de provar a carne e outros 44 % o fizeram apenas uma vez. Entretanto, as pessoas demonstraram certa propensão ao consumo do produto, o que foi posteriormente comprovada pelos testes de degustação aplicados em laboratório. Os resultados destes testes realizados com grupos selecionados de pessoas, demostraram aceitação da carne de rã (mais de 70% de aprovação), quando comparada com outros tipos de carne, e um índice bastante reduzido de preconceito quando compararam-se as respostas dos degustadores com e sem prévia identificação do alimento.
Como se vê, se de um lado existe um desconhecimento do produto que limita o seu mercado, de outro observou-se a existência de uma predisposição favorável ao seu consumo. Torna-se, portanto, necessária a implementação de uma campanha de divulgação das qualidades da carne de rã com vistas a incorporar essas pessoas ao mercado.
Um segundo problema detectado aponta como fator limitante do mercado o alto preço do produto, que restringe os consumidores às pessoas de alta renda. Com respeito a este fato, sugerem-se duas medidas que se complementam. Em primeiro lugar, deve-se buscar a implementação de tecnologias modernas que resultem em consideráveis reduções nos custos de produção através do aumento da produtividade. Em segundo lugar, acredita-se que a concentração da oferta por meio de associação de produtores contribuiria para a redução dos custos de comercialização via ganhos de escala.
Finalmente, a citada pesquisa detectou dificuldades na comercialização, ao realizar uma enquete junto a uma amostra de estabelecimentos que vendem ou poderiam vir a vender o produto (supermercados, hotéis, restaurantes, bares e similares), nos quatro maiores centros consumidores do país, (Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo). Verificou-se também, irregularidade no fornecimento do produto, que fez com que certos estabelecimentos deixassem de trabalhar com a carne de rã, apesar de sua boa aceitação e lucratividade. Constataram-se ainda queixas referentes à qualidade do produto, principalmente no que tange a aparência e desuniformidade de tamanho. Acredita-se que, a esse respeito, a concentração da oferta por organizações associativistas de produtores poderia superar os problemas, posto que seriam capazes de dar um tratamento mais adequado ao produto, bem como padronizá-lo e classificá-lo.
Em síntese, a ranicultura se mostra como uma atividade com perspectivas bastante favoráveis, mas que poderá ter um desenvolvimento mais acelerado e com menor risco, se bem trabalhada.
(*) CRUZ, T.A., e LIMA, S.L. “Estudo de mercado de carne de rã” . Relatório de Pesquisa CNPq – Viçosa, 1990