O sonho do setor aquícola de ter pesquisadores gerando soluções que permitam produzir de forma sustentável e com competitividade está mais perto da realidade. Pelo menos para aquicultores dos municípios alagoanos e sergipanos da região do Baixo São Francisco, animados com o início das operações do Centro de Referência em Aquicultura do São Francisco (Ceraqua/SF). O bem equipado centro de pesquisa, sediado no município de Porto Real do Colégio, em Alagoas, ocupa a antiga Estação de Piscicultura de Itiúba, criada em 1978 pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) para estimular a produção de pescado na região. Ao longo dos últimos anos, as instalações vêm sendo seguidamente reformadas com recursos da Codevasf (R$ 5,5 milhões) e da Secretaria de Aquicultura e Pesca, atual Ministério, que destinou R$ 3 milhões.
Mesmo sem ter sido oficialmente inaugurado – a previsão é que isso aconteça ainda esse ano -, o Ceraqua/SF já abriga pesquisadores da Codevasf, da Embrapa Tabuleiro Costeiros e da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que ocupam laboratórios e viveiros com estudos e treinamentos acadêmicos e dão suporte técnico aos produtores da região.
A união de tantas instituições em um mesmo projeto propôs o desafio de configurar uma gestão capaz de harmonizar os interesses de todos os envolvidos: Codevasf, Ministério da Pesca e Aquicultura, Embrapa, Governo de Alagoas e UFAL. Segundo o engenheiro de pesca da Codevasf, Eduardo Jorge Motta, coordenador do Projeto de Implantação do Ceraqua/SF, a ideia é otimizar os recursos humanos e financeiros que atuam direta e indiretamente nas áreas de aquicultura e gestão pública, para que seja possível gerar tecnologias e produtos para suprir as deficiências da piscicultura no Baixo São Francisco.
Encontro de Pesquisadores
Nos dias 28 e 29 de junho, o II Encontro Técnico-Científico do Ceraqua/SF reuniu pesquisadores do Centro de Referência para apresentar e debater pesquisas em andamento e resultados concluídos. Na abertura do evento, o presidente da Associação de Produtores, João Roque, assumiu a satisfação do setor produtivo local em estar próximo a um Centro de Referência, que busca soluções para os gargalos da piscicultura do Baixo São Francisco.
O Superintendente de Desenvolvimento Agropecuário da Secretaria de Agricultura de Alagoas, Edson Maruta, elogiou o modelo de gestão compartilhada do Ceraqua/SF: “A iniciativa aponta para uma nova era na área de pesquisa em aquicultura no Brasil. A gestão compartilhada impede que a ação política atrapalhe o processo de geração de tecnologia e só assim será possível transformar o que hoje é apenas um belo cenário num grande centro produtor de pescado”. De acordo com Maruta, o Ceraqua/SF poderá transformar a região do Baixo São Francisco – que hoje registra um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país – num pólo gerador de emprego e renda.
O diretor-executivo da Embrapa, José Geraldo Eugenio de França, destacou a importância da aquicultura para o país com uma alusão à época em que o país recebia doações de alimentos da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês), na década de 60 – como acontece hoje com o Haiti. Geraldo Eugenio ressaltou que, a partir dos anos 70, importantes decisões políticas reverteram este quadro e, atualmente, o Brasil é um dos principais produtores de matérias primas agrícolas do mundo. “O mesmo investimento político deve ser feito na aquicultura. Hoje somos um grande país produtor e temos condições de produzir ainda mais. Em muitas áreas, a riqueza não está na terra, mas nas águas”, considerou o diretor-executivo da Embrapa.
“Para o Ceraqua/SF, que congrega cinco instituições, essa sinergia é imprescindível. Por isso, o modelo de gestão compartilhada é um desafio tão importante, que precisa ser alcançado para que sejam respeitadas as expertises da cada um dos centros de pesquisa”, concluiu o diretor da Área de Gestão dos Empreendimentos de Irrigação da Codevasf, Raimundo Deusdará Filho.
Pesquisas
Nas sessões técnicas do Encontro, os engenheiros de pesca da Codevasf, Álvaro Albuquerque e Kley Lustosa, apresentaram a infraestrutura do Ceraqua/SF e os peixes pesquisados: tambaqui, surubim, dourado, pacamã (niquim), curimatã, mandi, piau, matrinxã e a tilápia. Hoje, 55 viveiros somam 13,3 hectares e a expectativa é expandir o território para 19,4 hectares de área experimental que abrigará 103 viveiros. Nestas condições, foi possível produzir, em 2008, 5,24 milhões de alevinos, dos quais 5,04 milhões foram utilizados em programas de peixamento.
As instalações comportam laboratórios de Nutrição e Bromatologia, Ictiopatologia, Limnologia e Qualidade da Água; Unidade de Reprodução Induzida e Incubação de Peixes Reofílicos; área destinada à reversão induzida de peixes; minifábrica de ração e de alimentos especiais; auditório e sala de treinamento; alojamentos; prédio de administração; e biblioteca.
A equipe do Laboratório de Enzimologia Aplicada e Análise Bromatológica da UFAL, coordenada pelas professoras Edma Miranda e Denise Pinheiro, apresentou pesquisas relacionando densidade de estocagem e níveis de vitamina C ao desempenho produtivo de alevinos de tambaqui e estudos com as enzimas digestivas de peixes cultivados. Os professores do curso de Engenharia de Pesca da UFAL, Emerson Soares e Petrônio Coelho Filho, mostraram resultados sobre o transporte de alevinos, engorda de surubim e produção do camarão de água doce do gênero Macrobrachium.
O pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Paulo Carneiro, apresentou os trabalhos sobre a avaliação do desempenho zootécnico de linhagens de tilápia Gift e os protocolos que estão sendo determinados para a criopreservação do sêmen de espécies nativas.
Centro de Referência do Parnaíba
A Codevasf também irá inaugurar, em novembro, o Centro de Referência em Aquicultura e Recursos Pesqueiros do Parnaíba (Ceraqua/Parnaíba), na Praia da Pedra do Sal, no município de Parnaíba, Piauí. Segundo o engenheiro de pesca e assessor da presidência da Codevasf, Albert Bartolomeu de Souza Rosa, o objetivo é promover o desenvolvimento científico e tecnológico e prestar serviços em aquicultura, com foco na revitalização dos recursos pesqueiros da bacia do rio Parnaíba. Serão desenvolvidas tecnologias de reprodução artificial, larvicultura, alevinagem, criação de peixes, crustáceos e moluscos e cultivo de algas.
O Ceraqua/Parnaíba será composto por laboratórios de pesquisa em nutrição e alimentação, recursos pesqueiros, melhoramento genético e patologia, quarentena e apoio aos viveiros, além de 2,2 hectares de viveiros experimentais escavados em terra. Os recursos investidos totalizam, até o momento, cerca de R$ 4,6 milhões: R$ 3,8 milhões da Codevasf, R$ 1 milhão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), R$ 340 mil do Governo do Estado do Piauí e R$ 470 mil do Ministério da Pesca e Aquicultura e da Embrapa.
Como em Alagoas, estão sendo ultimados entendimentos entre a Codevasf, o Governo do Estado do Piauí, o Ministério da Pesca e Aquicultura, a Embrapa e a Universidade Federal do Piauí com vistas ao estabelecimento de parceria para a gestão compartilhada do Ceraqua/Parnaíba. A iniciativa visa racionalizar a utilização de recursos humanos, financeiros e de infraestrutura em proveito do desenvolvimento da aquicultura e da sustentabilidade dos recursos pesqueiros da bacia do rio Parnaíba.
O Grupo Secom Aquicultura, Indústria e Comércio S.A., produtor de camarão e dono da marca Camarão & Cia, está instalado na região há quase três décadas com uma história de muito sucesso (veja artigo). Para apresentar o potencial dessa região para a aquicultura, a Codevasf, em parceria com o Banco do Nordeste (BNB), realizará importante seminário nos dias 26 e 27 de novembro.