CODEVASF estimula a piscicultura do Baixo São Francisco que será beneficiada também com a implantação de Pólo Aqüícola

A abundância de peixes faz parte do passado do Rio São Francisco. Ao longo do seu leito, que serpenteia ainda majestoso por cinco estados, a fartura de peixes faz parte apenas das recordações. Uma triste realidade que não afeta somente os pescadores ribeirinhos, hoje um pequeno exército de 41.000 pessoas, mas também uma população acostumada, outrora, a ser bem servida pela natureza. Tristemente, os peixes do São Francisco vêm se escasseando, ano após ano.

Tempos atrás, antes dos barramentos para construção dos reservatórios para as hidrelétricas, eram comuns as grandes cheias nos primeiros meses do ano. Várzeas eram invadidas alimentando as lagoas marginais, criando cenários perfeitos para o fechamento dos ciclos reprodutivos dos dourados, surubins, curimatãs, piaus, matrinxãs e outros peixes de piracema, abundantes em todo o São Francisco.

Hoje tudo está mudado e já não existem mais as cheias. As águas do Rio São Francisco atualmente, fluem comportadamente dentro da sua calha, domadas pelas comportas das hidrelétricas que se movem apenas pela necessidade de armazenar água para o suprimento de energia.

Para as populações de peixes, a poluição e os demais problemas comuns à maioria dos rios brasileiros, nem de longe foram tão prejudiciais, quanto o impacto causado pela construção dos imensos reservatórios para atender a demanda de energia. As migrações reprodutivas foram interrompidas e a maioria das lagoas marginais que não foram inundadas nas áreas dos reservatórios, secaram.


CODEVASF

Uma das formas de se amenizar os impactos sobre a fauna aquática e aumentar a produção pesqueira dos rios e lagos do vale do São Francisco está sendo concretizada através da realização de peixamentos, que se traduzem na colocação em suas águas de 20 milhões de alevinos a cada ano. Além disso, programas de estímulo à piscicultura nas várzeas, fazem com que centenas de hectares de viveiros estejam em produção na região, abastecidas pelos canais de irrigação da CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, uma empresa que sempre esteve à frente dos esforços até agora feitos para mitigar o impacto dos barramentos na reposição dos estoques naturais do rio.

Cumprindo uma portaria da extinta SUDEPE, desde 1978 a piscicultura faz parte da CODEVASF. Logo nos primeiros anos foram construídas seis estações firmado convênio com a Agrober, empresa húngara para transferência de tecnologia.

No início dos anos 80, conta a engenheira de pesca Maria Cecília Nunes da Silva, a hipofisação era uma tarefa massacrante, tanto para os técnicos como para os peixes. “Utilizava-se uma metodologia onde se aplicava cinco doses hormonais em intervalos de seis horas. As incubadoras eram cilíndricas com água entrando por debaixo e telas que necessitavam ser movimentadas manualmente 24 horas por dia, para que não entupissem, tornando impossível a obtenção de grandes larviculturas”.

Com o convênio da Agrober/Agroinvest, foi introduzido no Brasil a metodologia da hora-grau e o uso das incubadoras de ovos livres, hoje espalhadas por todo o país. Desde então a CODEVASF vem repartindo seus ganhos tecnológicos, promovendo cursos de transferência de tecnologia, nivelando os conhecimentos de produção de alevinos das estações de norte a sul do país, além de ter aberto suas estações proporcionando estágio de treinamento para um grande número de técnicos que hoje estão à frente das principais larviculturas públicas e privadas. Não é exagero afirmar que os investimentos e os progressos alcançados nessas duas décadas, foram também decisivos para o desenvolvimento atual da piscicultura brasileira.

Pólo de Aqüicultura do Baixo São Francisco

Em agosto último, para não suscitar ciúmes e mal entendidos, duas cerimônias bem ao gosto da política nordestina, tiveram que ser realizadas quase que simultaneamente nas cidades de Penedo em Alagoas e Neópolis em Sergipe, para marcar a implantação do Pólo de Aqüicultura do Baixo São Francisco, pelo Ministério da Agricultura e CNPq.

A região se caracteriza por várzeas planas com solos argilosos de boa fertilidade, moderadamente ácidos e com baixa taxa de infiltração. A abundância de água, decorrente dos projetos de irrigação da CODEVASF, associada às temperaturas que oscilam de 22 a 28oC e, a insolação de 2.700 horas/ano, colocam a região entre as melhores do Brasil para a produção de peixes tropicais. Atualmente, encontram-se em operação 836,5 hectares de viveiros (quadro 1), praticando uma piscicultura ainda marcada pela baixa produtividade, resultado de problemas que vão desde a falta de um mercado consumidor mais aquecido até a escassez de rações de boa qualidade disponíveis, mesmo estando instalada no coração da região uma moderna fábrica de rações para organismos aquáticos.

Na região, funcionam também duas estações de piscicultura da CODEVASF – Itiuba em Alagoas e Betume em Sergipe, duas estações do IBAMA e cinco laboratórios particulares, numa base instalada capaz de suprir uma grande demanda de alevinos. Estudos realizados pela CODEVASF apontam para 12.800 hectares de áreas ainda disponíveis (quadro 2) na região, além de quilômetros de canais dos perímetros irrigados, adequados para a utilização aqüícola, segundo experimentos que vêm sendo realizados com tambaquis e tilápias.

Mulheres de Betume

Outra iniciativa importante para apoiar a piscicultura na região foi a inauguração de uma pequena mas funcional unidade de beneficiamento de pescados das pisciculturas da região do Baixo São Francisco, pertencente a ASMUB – Associação das Mulheres de Betume, do Perímetro Irrigado do Betume em Sergipe. Com financiamento do PRONAF de R$ 53.000,00 e o apoio da ENDAGRO – Empresa de Desenvolvimento Agropecuário e da CODEVASF, a ASMUB adquiriu moedores, misturadores, mesas de aço inox, máquinas para hambúrgueres e lingüiças, e ainda um veículo Saveiro ano 82. As instalações acabaram de ser inauguradas e contam com o certificado de inspeção estadual, que lhes permitirão comercializar os filés, pastas de peixe, hambúrgueres e lingüiças para todo o estado. A curiosidade fica por conta das limitações do certificado SIE – Serviço de Inspeção Estadual. Caso a ASMUB queira vender os produtos na cidade de Penedo, distante poucos minutos, atravessando de balsa o São Francisco, estará infringindo a lei porque os produtos com inspeção estadual não podem cruzar as fronteiras do estado que foram licenciados.

Durante a implantação do Pólo de Aqüicultura do Baixo São Francisco, mulheres associadas da ASMUD fazem demonstração dos novos equipamentos de processamento de pescados, com a presença do presidente da CODEVASF Dr. Airson Bezerra Lócio
Durante a implantação do Pólo de Aqüicultura do Baixo São Francisco, mulheres associadas da ASMUD fazem demonstração dos novos equipamentos de processamento de pescados, com a presença do presidente da CODEVASF Dr. Airson Bezerra Lócio

Estas e outras iniciativas deverão contribuir para a concretização da piscicultura na região. Na agenda de compromissos da instalação do Pólo, a recomendação mais importante seguramente é da criação da Câmara Setorial de Aqüicultura, cuja responsabilidade cabe somente ao setor produtivo já instalado, hoje reunido em três associações locais. Mais importante que todo o apoio até então recebido das instituições é ter o setor produtivo organizado, olhando na mesma direção.