Comitê de Aqüicultura

Uma importante conquista do setor, é desmantelada dentro do CNPq


O CNPq decidiu desmantelar o Comitê de Aqüicultura, agora “devolvido” ao Comitê de Veterinária e Zootecnia, indo por água abaixo uma importante conquista do setor aqüícola.

Há quatro anos atrás a aqüicultura vivia sob o guarda-chuva protetor do Comitê de Veterinária e Zootecnia. Muitas foram as queixas do setor aqüícola, até finalmente poder contar com seu próprio comitê, o mesmo que agora se desmantela, voltando tudo a antiga e indesejada configuração.

A notícia trouxe um grande impacto para os pesquisadores brasileiros que, de pronto conclamaram uma mobilização para que o decontentamento geral seja encaminhado por todos diretamente para o presidente do órgão Evando Mirra de Paula e Silva, e-mail: [email protected]

Repercussão

Em seu e-mail endereçado a presidência do CNPq, Elisabete Maria Macedo Viegas, professora da FZEA/USP/Depto de Zootecnia, se mostrou tremendamente preocupada com a notícia de extinção do Comitê de Aqüicultura, justamente no momento em que a área se consolida no cenário nacional e começa a se projetar internacionalmente. “A transferência de nossa área para o Comitê de Zootecnia e Veterinária tem sido encarada pela comunidade científica como um retrocesso, haja visto estarmos desconfortavelmente instalados neste Comitê, em passado recente”. Elizabeth acrescenta que a área de aquicultura é multidisciplinar e “sui generis”, englobando profissionais das mais diferentes formações acadêmicas como engenheiros de pesca, biólogos, zootecnistas, veterinários, químicos, engenheiros de alimentos e até farmacêuticos. “Não pode, portanto, ser vista como as áreas de suinocultura e avicultura onde há concentração majoritária de zootecnistas e veterinários”.

Em outro e-mail, também endereçado ao presidente do CNPq, Elisabeth Criscuolo Urbinati, Diretora do Centro de Aqüicultura da UNESP – CAUNESP, afirma sua crença de que o momento é de aglutinação do setor e não de pulverização, como deverá ocorrer com a extinção do Comitê de Aqüicultura e sua inclusão no Comitê de Zootecnia. “Por sua diversidade de atuação, a aqüicultura não pode ser vista como um ramo da zootecnia”.

Da mesma forma, José Eurico “Zico” P. Cyrino, do Setor de Piscicultura do Departamento de Produção Animal da ESALQ-USP, manifestou ao presidente do CNPq que “pessoalmente uma vez mais, não tenho nada contra o Comitê de Veterinária e Zootecnia do CNPq, até porque sou zootecnista. Posso até entender algumas das inconfessas razões que motivaram esta tomada de decisão do CNPq, mas não posso compactuar. Se existiam desvios, tinham que ser corrigidos, claro. Entretanto, o caminho da correção certamente não passava pelo desmantelamento. Esta tomada de decisão do CNPq pode, e certamente vai, servir como um grande desestímulo à nossa classe que tenta, ansiosa e conscientemente, solidificar-se, ganhar identidade no cenário da geração de informações específicas em C&T, da pesquisa e desenvolvimento da área no país”. E continua Zico “O que está claro é que o CNPq terminou com o Comitê de Aqüicultura motivado por alguns interesses escusos de um grupo de profissionais sem qualquer representatividade na nossa área, mas com alguma força política.”

Revolta

A revolta dos pesquisadores da área aqüícola pode facilmente ser entendida, já que o setor, conforme diz Wagner Valenti, professor do Depto. de Biologia Aplicada, FCAV, UNESP, é bastante diferente da zootecnia, não podendo ser considerada como um ramo desta. Haja visto que 20% da produção aqüícola mundial é de algas, que nada tem a ver com zootecnia. Está se divulgando a idéia no CNPq de que a aqüicultura seria similar a suinocultura, avicultura etc, por isso não se justifica ter um comitê a parte.” Valenti também afirma que a aqüicultura tem uma significativa massa crítica de doutores, que justifica um grande número de projetos de pesquisa de alto nível, que devem ser julgados por pesquisadores altamente qualificados da área.