Autor: Jeffrey Wilcox (Florida A&M University)
Tradução e Adaptação: Marcelo Chammas e
Felipe Suplicy (FISHTEC Consultores Associados)
A piada é a seguinte: como fazer uma pequena fortuna com aqüicultura? Inicie com uma grande fortuna. Aqüicultura é estritamente um negócio zootécnico, como bem disse Leo Ray, ex-presidente da Associação Americana dos Criadores de Catfish em uma palestra: “Amigos, vocês não estão nesse negócio para criar peixes, vocês estão nesse negócio para ganhar dinheiro.” Cometa um erro e sua produção morrerá instantaneamente. Cometa um erro diferente e as autoridades sanitárias baterão às suas portas. Cometa, ainda, um outro erro e os fiscais do meio ambiente embargarão suas instalações, caçarão suas licenças, ou o acionarão na justiça. Este não é um negócio para pessoas desorganizadas, despreparadas ou conservadoras.
E mais, a aqüicultura não é um negócio para quem quer enriquecer rápido. Todos aqueles que triunfaram nesse negócio o fizeram através de trabalho duro, da dedicação de muitas horas, de investimentos significativos e muito sacrifício pessoal. Apenas uns poucos que não eram ricos se tornaram ricos devido a aqüicultura.
A seguir, algumas maneiras garantidas para se dar mal com aqüicultura:
– Inicie seu negócio sem um estudo de viabilidade econômica.
Em primeiro lugar aqüicultura é um negócio, em segundo um cultivo e em terceiro um cultivo de organismos aquáticos. Ter um mau estudo, ou não tê-lo, é um passaporte para o fracasso.
Um rigoroso envolvimento com o estudo e suas revisões é um ponto crítico para quem busca o sucesso. Além do que, bancos e investidores não emprestarão dinheiro para quem não possuir um projeto claro e confiável. Você não deve gastar nem um real na propriedade antes de ter um estudo. Se você não souber como e para onde ir, você nunca chegará lá.
– Comece o seu negócio sem reserva de capital.
Baixa capitalização é a causa número um da falência de empresas aquícolas. Você deve estar preparado para despesas extras e imprevistas. Se os seus alevinos morrerem, você terá obrigatoriamente que repô-los. Se o preço da ração aumentar, mesmo assim ela terá que ser comprada. Se os seus aeradores quebrarem, eles terão que ser consertados imediatamente. E acima de tudo, se você não tiver reservas para passar por nenhum imprevisto, nem inicie seu negócio.
– Pegue dinheiro emprestado de amigos e parentes.
Parentes até podem querer emprestar-lhe dinheiro, mas atrasos nos pagamentos os deixarão furiosos. Assuma seus próprios riscos. Depois não me diga que você não foi avisado. Tome empréstimos com amigos, apenas se você já não os quiser mais. Evite utilizar sua casa como garantia, pois se tudo der errado você ainda precisará de um lugar para morar.
– Decida-se por qual espécie criar antes de fazer um estudo de mercado.
Muitos produtores escolhem o que produzir antes de saber se podem ganhar dinheiro com isso, e se o sabem, não sabem como maximizar os lucros e minimizar os custos.
O propósito da aqüicultura como qualquer outro negócio é gerar lucro.
Primeiro você deve determinar quais são as espécies mais adequadas para sua realidade climática e sistema de cultivo e dentre elas aquelas mais rentáveis. Isso feito, você deve saber se haverá compradores interessados em seus volumes de produção, forma de apresentação e preços de comercialização.
Vá em frente, escolha a espécie errada e você perderá até as suas calças, obviamente esta é uma de suas prerrogativas e direitos.
– Decida-se por qual espécie produzir antes de conhecer a sua biologia.
Até mesmo o organismo aquático mais rentável do mundo pode ser caro de ser produzido em sua propriedade. Com base no seu estudo de mercado você deve inteirar-se de qual das espécies é a mais indicada para suas condições específicas. Informe-se sobre a biologia, ecologia, doenças e reprodução antes de tomar qualquer decisão.
– Primeiro instale seu projeto e depois corra atrás das licenças.
As legislações variam de uma bacia hidrográfica para outra, município para município, região para região, etc. Você pode vir a ser processado, ter que fechar seu empreendimento, ou gastar tanto para adequar-se às normas de qualidade de efluentes, recomposição de vegetação, sanitárias, dentre outras, que a legalização do seu negócio pode até inviabilizá-lo.
Assegure-se das normas antes de começar a projetar seu empreendimento.
Os fiscais não olham com bons olhos quem primeiro faz e depois pede regularização. Não se esqueça que eles não são bobos. As normas devem balizar o escolha da espécie, o projeto do cultivo e seu estudo de marketing.
– Estoque seus sistemas em sua capacidade máxima nos primeiros ciclos.
Primeiro você tem que aprender a andar para depois correr. Aquicultores inexperientes geralmente tentam recuperar cada centavo investido durante os primeiros ciclos através de altas taxas de povoamento. Não faça isso a não ser que você possua profissionais qualificados em seus quadros.
Menores densidades geralmente implicam em menores retornos, mas certamente resultam em menores riscos, menores custos operacionais e sono mais tranqüilo.
É recomendável iniciar a operação com no máximo 75% da capacidade projetada e ir aprendendo com seus próprios erros. Você certamente os cometerá, não duvide disso, portanto, trate de torná-los o mais barato possível.
– Primeiro produza e então tente vender a produção.
A produção é apenas uma das facetas de uma fazenda aquática.
Dê atenção ao marketing que deve ser iniciado tão logo você povoe os sistemas.
Projete o povoamento de seus viveiros, de modo que a despesca coincida com as épocas de maiores preços e facilidades de comercialização.
Fuja sempre de atravessadores e procure nichos de mercado para maximizar os seus ganhos.
– Não se associe.
Na aqüicultura não existem receitas de bolo, aproveite todas as oportunidades para aprender com o erro dos outros. Atualize-se, muitas novidades são descobertas a cada ano. Algumas novas técnicas são rigorosamente contrárias às anteriores.
Aproveite para fazer novos amigos, pois eles podem vir a socorrê-lo em momentos de dificuldade. Saber para quem telefonar pode significar a diferença entre um leve estresse, uma boa dor de cabeça e uma grande catástrofe.
– Não consulte um especialista.
Um especialista pode recomendar-lhe bibliografias técnicas e cursos de capacitação, dar-lhe assessoria nos projetos e acompanhar sua produção. Sempre procure um especialista, você até pode fazer tudo sozinho. Inclusive errar.