O XVIII Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca – CONBEP aconteceu entre os dias 20 a 24 de outubro, no Parque de Exposições do município de Paulo Afonso, Bahia. A cidade, com mais de 120 mil habitantes, conta, desde 1999, com o curso de Engenharia de Pesca da UNEB – Universidade Estadual da Bahia, uma escola que já formou cerca de 300 profissionais.
A cidade de Paulo Afonso está no centro de um grande polo produtor de tilápia, quem sabe até o maior do Brasil. Ainda que não se tenha um censo oficial, o consenso é que da região sejam despescadas pelo menos 32 mil toneladas anuais de tilápia. Este volume de produção de uma única espécie só é superado pela pesca na costa brasileira da corvina e da sardinha verdadeira, com a ressalva de que essas 32 mil toneladas são provenientes de apenas um dos polos brasileiros, composto por poucos municípios ao redor da cidade de Paulo Afonso, que utilizam apenas um trecho represado do Velho Chico.
O XVIII CONBEP teve como tema principal “Engenharia de Pesca: Responsabilidade socioeconômica e ambiental para o desenvolvimento da pesca e aquicultura”. A escolha do tema surgiu da necessidade em discutir a atividade como agronegócio com os incentivos à implantação de projetos empresariais, desenvolvimento de novas tecnologias, capacitação da mão-de-obra e profissionalização dos piscicultores e pescadores, sem que fosse esquecida a preocupação com a degradação do meio ambiente.
A abertura do XVIII CONBEP ocorreu no domingo, dia 20 de outubro. Presentes ao coquetel de abertura, o prefeito de Paulo Afonso, Anilton Bastos, diretoria e professores da Universidade do Estado da Bahia – UNEB e autoridades estaduais ligadas ao setor. Entre os salgados e drinks da recepção que se seguiu à abertura do evento, comentava-se a ausência de representantes do Ministério da Pesca e Aquicultura. Quem viajou de estados distantes, como Amazonas e Paraná, para participar do evento, não se conformou com a desculpa de que Paulo Afonso não possui aeroporto para o desembarque das autoridades do MPA.
O evento promovido pelos Engenheiros de Pesca há muito tempo confirmou-se como um espaço técnico científico para discussão da geração de alimento e renda oriundos da aquicultura. O CONBEP reúne os membros das Associação dos Engenheiros de Pesca dos Estados – AEPs, Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil – FAEP e da Associação Brasileira de Engenharia de Pesca – ABEP, estudantes e outros profissionais ligados a aquicultura. A organização do evento de Paulo Afonso, contou com a colaboração da professora Adriana Cunha, do Centro de Desenvolvimento e Difusão de Tecnologia em Aquicultura.
Desde sua primeira edição, em 1979, em Brasília – DF, o CONBEP ocorre sem interrupções, a cada dois anos, e atrai um bom número de participantes, entre profissionais e estudantes de Engenharia de Pesca e áreas afins. Ao longo da semana foram mais de dez conferências, com representantes de todo o país, vários minicursos, palestras e discussões.
Todas as 18 universidades que oferecem o curso de Engenharia de Pesca estiveram representadas no evento, levando novas tecnologias. “Vocês são o futuro de uma das atividades que será ainda uma das mais ricas do Brasil. Muitos de nós já ocupam cargos importantes e eu tenho muito orgulho de tudo isso. Já venho de uma longa caminhada, mas vocês são jovens e vão conseguir muito mais”, discursou o presidente da Federação de Engenharia de Pesca, Elizeu Brito, exaltando os jovens alunos.
A Faculdade Sete de setembro – FASETE, de Paulo Afonso, representada pela professora Jaqueline Chaves apresentou trabalhos sobre as associações de piscicultores em Jatobá-PE, com foco na saúde e segurança na piscicultura, e sobre a comercialização do pescado no Reservatório de Moxotó.
O diretor técnico da Bahia Pesca, Antonio Almeida Júnior, representou a empresa durante a abertura do Congresso. Durante o evento, Almeida falou sobre o papel da Bahia Pesca no fomento à pesca e aquicultura na região e sobre os investimentos do governo do estado no setor, destacando, principalmente, os aportes na Unidade de Beneficiamento de Xingozinho, na estação de Caiçara II e a ampliação do atendimento às famílias de pescadores e aquicultores produtores de tilápias em tanques-rede. A Bahia Pesca participou do evento com um estande, onde os visitantes puderam saber mais sobre as ações da empresa e tirar dúvidas acerca do serviço de assistência técnica.
O gestor do Arranjo Produtivo Local (APL) Piscicultura Delta do São Francisco, Miguel Alencar ministrou curso sobre a produção e comercialização de tilápias, baseado no trabalho desenvolvido em Alagoas. O estado foi um dos primeiros a incentivar a produção e a comercialização da tilápia. O APL Piscicultura integra o Programa de Arranjos Produtivos Locais (PAPL), coordenado pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico (Seplande), em parceria com o Sebrae Alagoas.
O primeiro dia do evento, contou com mini cursos sobre Produção aquícola com tecnologia de bioflocos, ministrado por Fabiana Penalva de Melo (UFRPE); Piscicultura marinha, por José Arlindo Pereira (UFRB); Ecologia e identificação de peixes do São Francisco, por William Severi (UFRPE); Tecnologia do pescado, por Rogerio de Jesus (UFAM); Monitoramento ambiental na Aquicultura, por Sergio Catunda (FAEP); Empreendedorismo na pesca e aquicultura, por Roberto Rocha (SEBRAE); Processo de produção e comercialização de tilápia, por Miguel Alencar (APL de Piscicultura de Alagoas); Produção, Gestão e Controle dos Empreendimentos Aquícolas, por Silvia Dell´Orto (ST Serviços Técnicos em Aquicultura Ltda.), Estatística aplicada à pesca e aquicultura, por Paulo de Paula Mendes (UFRPE) e Navegação Astronômica, por Renata Shonozaki (UAST/UFRPE). Dentre outros temas, os dias subsequentes contaram com mesas redondas por áreas e com a apresentação de painéis, lançamento de livros e workshops.
Convidado para falar sobre a evolução e os desafios da carcinicultura do Brasil, Itamar de Paiva Rocha, presidente da ABCC, apresentou os dados atualizados (setembro/2013) da balança comercial brasileira. Somente nos nove primeiros meses de 2013 o Brasil importou 287 mil toneladas de pescado, equivalente a US$ 1.033.652. Em volume a China participa com 25,7%, o Chile com 14,52% e o Vietnã com 8,56%. A estratégia de facilitar a importação, e não facilitar a produção de pescado por meio da aquicultura, foi o alvo das duras críticas de Itamar à gestão do MPA, uma instituição criada justamente para fomentar a produção de pescado por meio de políticas facilitadoras. O presidente da ABCC se disse bastante preocupado, e não vê com bons olhos o rumo que está tomando a aquicultura brasileira, culpando a inércia do MPA. “Estamos criando postos de trabalho nos outros países e não aqui no Brasil”, disse a uma plateia repleta de estudantes. E conclamou a participação desses estudantes, por meio da organização dos Diretórios Acadêmicos, para que encontrem o espaço para se manifestarem publicamente em defesa da aquicultura brasileira e da ampliação dos postos de trabalho.
O XVIII CONBEP não atraiu os produtores, as associações e cooperativas que atuam no cultivo intensivo de tilápia em tanques-rede da região em torno de Paulo Afonso.
A reunião plenária da Federação das Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil – FAEP/BR votou na cidade de São Luís do Maranhão para receber o XIX CONBEP, que acontecerá em 2015. Da disputa pela realização do próximo evento competiram os Estados de Alagoas e Santa Catarina.