Conhecendo a Nativ

Tecnologia de ponta, matéria prima de primeira e equipamentos de última geração, garantem qualidade dos seus produtos

Por: Jomar Carvalho Filho
Editor da Panorama da AQÜICULTURA
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Em 2005, o desejo de empreender no setor aquícola, atuando diretamente dentro da Bacia Amazônica com as espécies nativas, trouxe muitos desafios ao jovem empresário Pedro Furlan Uchoa Cavalcanti, hoje com 31 anos. O primeiro deles foi encontrar um local propício que reunisse as melhores condições para implantar uma estrutura verticalizada de produção, com laboratório para a produção de alevinos, viveiros de engorda e uma moderna fábrica para processar os produtos acabados de pescado com qualidade suficiente para atender tanto o mercado interno como o externo.

Diante de tantas possibilidades para escolher um bom local, o melhor jeito foi colocar o pé na estrada para conhecer mais de perto os estados da Amazônia legal, numa viagem de 20 mil quilômetros que acabou por levá-lo até o município de Sorriso (MT), distante 420 km ao norte de Cuiabá, seguindo pela rodovia BR 163, que liga Cuiabá a Santarém. Em 2006, então, nascia nesta cidade a Nativ – Indústria Brasileira de Pescados Amazônicos S/A. tendo Pedro Furlan Cavalcanti na presidência de um empreendimento que já investiu até hoje R$ 54 milhões, com uma expectativa de chegar a R$ 73 milhões até o final de 2012.

Na linha de processamento dos produtos “in natura”, tanto o surubim quanto o pintado da Amazônia, depois de abatidos, são eviscerados e lavados para a retirada dos filés. A pele é retirada e os filés recebem os acabamentos que precedem a entrada no túnel de congelamento. Em seguida são embalados uma a um, prontos para o mercado
Na linha de processamento dos produtos “in natura”, tanto o surubim quanto o pintado da Amazônia, depois de abatidos,  são eviscerados e lavados para a retirada dos filés. A pele é retirada e os filés recebem os acabamentos que precedem a entrada no túnel de congelamento. Em seguida são embalados uma a um, prontos para o mercado

Em março último, na cerimônia de inauguração da unidade fabril em Sorriso (inauguração tardia já que funciona regularmente desde 2008 quando recebeu seu SIF), o presidente do Conselho de Administração da Nativ, José Augusto Lima, anunciou que o faturamento da empresa para este ano deverá ser de R$ 36 milhões, com as projeções apontando para R$ 63 milhões em 2011 e R$ 84 milhões em 2013.

Segundo Pedro Furlan, ao escolher Sorriso para sediar a Nativ pesou, entre outras coisas, a forte tendência que aponta a Região Centro-Oeste como a preferida das indústrias alimentícias de transformação de proteína animal e vegetal, motivadas pela grande disponibilidade de grãos, principal matéria prima das rações. O município se encontra na borda do bioma amazônico e se enquadra neste cenário atraente, não apenas pelo fato de ser o maior produtor de grãos do país, mas também por possuir excepcionais condições climáticas e ambientais para a implantação de empreendimentos aquícolas. O relevo predominantemente plano facilita a construção de viveiros, além da vantagem de existir na região inúmeros reservatórios particulares, com perfil adequado para o uso de tanques-rede, abrindo assim as portas para as parcerias necessárias para dar suporte ao empreendimento.

Produtos acabados

A unidade de processamento de pescado da Nativ está entre as mais modernas do país. Dela saem atualmente 120 toneladas mensais de produtos acabados, provenientes das duas linhas de produção: “in natura” e industrializados.

nativ

A linha de produtos “in natura” da Nativ é composta pelos filés congelados de surubim, pintado da Amazônia (um híbrido do jundiá Leiarius marmoratus com o surubim) e tilápia, bem como cortes nobres congelados do tambaqui, como a costela e o lombo. Já a linha de produtos industrializados é composta por produtos empanados, em sua maior parte elaborados com carne mecanicamente separada (CMS), entre eles o filezinho e as tirinhas empanadas do pintado da Amazônia, o hambúrguer empanado de tambaqui, a cauda do camarão vannamei empanada (cauda produzida por parceiros no Nordeste) e o filé empanado da tilápia.

nativ nativ

Para processar os produtos da linha “in natura” os pescados são trazidos vivos até a fábrica, onde são recebidos em tanques especialmente construídos para que sejam levados ainda vivos, por esteira, para dentro das instalações (foto abertura da matéria). Para produzir esses peixes a Nativ possui 84 hectares de viveiros escavados e 65 hectares de reservatórios com alta taxa de renovação de água, onde cria as espécies que trabalha. A atual produção mensal de empresa está ao redor das 180 toneladas de pescado vivo, sendo 120 toneladas de tilápia e 60 toneladas de bagres (pintado da Amazônia e surubim). Já o tambaqui atualmente abatido é todo proveniente de parcerias locais. A empresa, no entanto, trabalha na reprodução e melhoramento genético deste peixe visando chegar a um tambaqui com uma melhor performance, momento em que então será iniciada a reprodução em larga escala nas suas instalações.

A tilápia tornou-se um peixe de grande sucesso na linha de produtos acabados da empresa. Uma lei estadual garante o cultivo da tilápia no Estado de Mato Grosso, desde que seja feita em condições onde a segurança seja priorizada para que não haja escapes para a natureza. Para ter o peixe vivo na sua planta de processamento, a decisão da Nativ foi a de ocupar a maior parte dos seus viveiros de terra com tilápias, aplicando um rigoroso protocolo de segurança na despesca. Assim como o tambaqui, os alevinos de tilápia também não são produzidos nos laboratórios da Nativ, sendo também adquiridos de fornecedores credenciados, o que deixa o laboratório de produção de alevinos da empresa comprometido com a produção do surubim e, principalmente, do pintado da Amazônia.

Para a confecção dos produtos da linha de industrializados, a carne das carcaças dos peixes processados para a linha “in natura” são retiradas por equipamentos próprios. Da CMS (carne mecanicamente separada) são feitos hambúrgueres empanados que são comercializados em embalados individuais
Para a confecção dos produtos da linha de industrializados, a carne das carcaças dos peixes processados para a linha “in natura” são retiradas por equipamentos próprios. Da CMS (carne mecanicamente separada) são feitos hambúrgueres empanados que são comercializados em embalados individuais

A linha de produtos industrializados (empanados), por sua vez, é elaborada a partir de carne mecanicamente separada (CMS) proveniente das carcaças dos peixes destinados aos produtos “in natura”. A tilápia, por exemplo, tem um rendimento de 40%, levando em conta os dois filés e a CMS aproveitada da sua carcaça. O volume de CMS obtido das carcaças dos peixes abatidos dentro da processadora, no entanto, está ainda muito aquém do volume que a empresa é capaz de processar, o que leva a Nativ a adquirir CMS de parceiros certificados, estando previsto para um futuro próximo, a entrada em funcionamento de um segundo turno da linha de empanados.

Pintado da Amazônia

A Nativ investiu pesado no seu laboratório de produção de alevinos, que possui amplas instalações e está totalmente pronto para a reprodução dos principais peixes cultivados hoje no país. Suas instalações, entretanto, estão voltadas atualmente para a produção dos bagres, em especial do pintado da Amazônia, um híbrido feito a partir do jundiá da Amazônia (Leiarius marmoratus) com o surubim.

Ao adotar a estratégia de utilizar os tanques escavados para a engorda das tilápias, todos os bagres passaram a ser engordados em tanques-rede próprios, instalados em reservatórios arrendados, bem como nos tanques-rede de cinco parceiros, que juntos já são responsáveis por cerca de 40% dos peixes abatidos na processadora. Nessas parcerias, a Nativ vende os alevinos a um custo subsidiado, negocia em bloco junto a fornecedores habilitados de ração para obter vantagens de preço na compra deste insumo, fornece toda a assistência técnica veterinária e estabelece um contrato de recompra dos peixes, deixando para o parceiro uma margem de lucro EBITDA ao redor de 20% (EBITDA é a sigla em inglês para “lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização”).

A engorda do pitado do Amazonas tem início nos viveiros escavados, assim que os peixes saem do treinamento alimentar, com cerca de 6cm e um peso que varia de 2 a 5 gramas. Segundo o engenheiro de pesca Lizandro Bauer, após 30 dias, quando atingem em média 12cm e 30 gramas, os peixes são classificados pela primeira vez e retornam aos viveiros por mais 60 dias até alcançarem o peso médio de 125 gramas, momento em que já podem ser levados para povoar os tanques-rede de 18 m3. Dois meses e meio depois de alojados, os pintados da Amazônia atingem as 500 gramas, quando são manejados para ajustes de densidade no tanque-rede. Ficam nas gaiolas por mais 90 dias até que alcancem o tamanho de abate, que é de 1350 gramas. Segundo Bauer, as vantagens do híbrido pintado da Amazônia sobre o surubim já podem ser percebidas na engorda, quando este exibe um apetite bem maior e uma conversão alimentar mais baixa. Outra vantagem é que, por ter a cabeça bem menor que o surubim, o híbrido apresenta um rendimento superior de filé.

A maior parte dos viveiros escavados da Nativ estão hoje ocupados com a tilápia. Os alevinos são provenientes de fornecedor credenciado. Ao longo da engorda os peixes passam por um equipamento que os separa por tamanho
A maior parte dos viveiros escavados da Nativ estão hoje ocupados com a tilápia. Os alevinos são  provenientes de fornecedor credenciado. Ao longo da engorda os peixes passam por um equipamento que os separa por tamanho

Tilápias Nativ

Os alevinos de tilápia são adquiridos atualmente de um fornecedor credenciado do Paraná e chegam à Nativ com 0,5 gramas para serem alojados em viveiros de recria. 30 dias após, alcançam uma média de peso de 40 gramas, quando recebem a primeira classificação. São novamente alojados por mais 30 dias até alcançarem o peso médio de 120 gramas, momento que são classificados pela segunda vez antes de serem alojados nos viveiros de engorda, onde ficam em média por quatro meses, tempo médio necessário para que alcancem as 750 gramas, peso médio de abate na empresa. Na despesca os animais são capturados por redes e levados até uma máquina classificadora que retém os peixes que alcançaram o tamanho de abate e que devolve para o viveiro os peixes menores que ainda precisam de mais dias de engorda. A produtividade da tilápia nos viveiros escavados é de 12 toneladas por hectare/ano.

Prateleiras do Brasil e do mundo

Se levarmos em consideração que o selo do SIF (Serviço de Inspeção Federal) da empresa foi expedido no final de 2008, não é exagero dizer que os produtos da Nativ estão ainda engatinhando no mercado brasileiro. Da mesma forma, também não é exagero dizer que os produtos já são um sucesso, diante do faturamento esperado de R$ 36 milhões para este ano.

A linha de produtos já chega em 16 estados brasileiros (MT, RO, DF, MG, RJ, ES, PE, BA, PR, SC, RS e SP capital e interior), presentes nas prateleiras das 16 maiores cadeias de supermercados e em todas as cadeias consideradas de médio porte.

Tanto os produtos da linha “in natura” quanto os da linha industrializados, recebem embalagens especiais, com destaque para o design inovador e prático das embalagens dos produtos de varejo, que representam hoje 70% do faturamento da empresa. Embalagens industriais e de maior peso atendem ao serviço de “food service”, entre eles a famosa cadeia Outback que está incorporando os filés de pintado da Amazônia e tilápia ao seu cardápio.

Segundo o responsável pela comercialização dos produtos, Álvaro Uchoa Cavalcanti, atualmente os campeões de venda da linha “in natura” são o filé de pintado da Amazônia, e as costelas e o lombo do tambaqui, enquanto os mais vendidos na linha de industrializados são o “fish bits”, o filé empanado de tilápia e o campeoníssimo camarão empanado. As primeiras exportações dos produtos Nativ já foram feitas, e novos mercados estão sendo abertos, entre eles Portugal, EUA, Suécia e Alemanha.

Pedro Furlan

Sobre a satisfação de ver seu sonho ser criteriosamente realizado, o presidente da Nativ, Pedro Furlan Cavalcanti, diz que muito ainda precisa ser feito e problemas precisam ser solucionados. “Na minha avaliação um grande problema na piscicultura no Brasil é a falta de processo e a gestão da unidade de piscicultura como uma empresa. No nosso caso transformamos todas as unidades em unidades independentes. Encontrei grande dificuldade no passado e foi difícil trazer um bom aquicultor que pudesse ser um bom gestor de uma planta, ou de uma unidade de negócio. Encontrei gente que entende muito bem de peixe, mas não tem a gestão do negócio como um outro qualquer exige”. Apesar do sucesso, a profissionalização da gestão da aquicultura ainda é um desafio para o jovem empresário.