CONTROLE DE EFLUENTES

Por: Philip Scott – Biólogo


Criadores de peixes e aqüicultores em geral muitas vezes são vítimas da poluição causada por terceiros mas devem também, eles próprios, cuidar das águas que retornam ao meio ambiente provenientes de seus cultivos. Entre os problemas causados pelo desague de pisciculturas destacamos alguns dos principais parâmetros e seus efeitos.

OXIGÊNIO DISSOLVIDO: É o parâmetro mais importante para o criador. Os animais aquáticos têm um trabalho extra para a sua obtenção, pois precisam retirá-lo do meio líquido no qual se encontram. Peixes conseguem passar curtos períodos sem oxigênio (O2) dissolvido. Conseguem até passar períodos longos com baixos teores, mas o preço disto é o baixo crescimento e a susceptibilidade a doenças e ao ataque de parasitos. Concentrações melhores estão acima de 5 mg/l (5 ppm). As criações intensivas de peixes podem retirar significativamente o oxigênio dissolvido. A aeração através de aeradores mecânicos ou escadas em cascata podem e devem devolver o oxigênio à água.

pH: As águas com pH entre 6,5 e 9,0 são as ideais para a maioria das espécies. Com o pH abaixo de pH 5,0 a reprodução cessa, e abaixo de 4,0 os peixes morrem. O pH de um lago, açude ou viveiro pode variar durante o dia conforme a sua “capacidade tampão”. Esta capacidade é dada pelo teor de Cálcio e Magnésio disponível. O pH deve ser monitorado nos pontos de captação e desague.

SÓLIDOS EM SUSPENSÃO: Geralmente são compostos de restos de ração não consumida pelos peixes, fezes, escamas, pele e pequenos pedaços de peixes mortos e semi-decompostos. Esses sólidos tendem a ser decompostos por bactérias (biodegradação), consumindo assim oxigênio, elemento fundamental para a vida. Os sólidos também podem se depositar sobre os habitats naturais sufocando-os; aumentam a turbidez, diminuem a penetração da luz e elevam os custos de filtração da água para os reservatórios públicos. Eles devem ser retirados sempre que possível dos mananciais, pois podem gerar muita polêmica com outros usuários, notadamente banhistas e piscicultores vizinhos.

Compostos nitrogenados

AMÔNIA: É o principal produto da excreção dos peixes. Os produtos finais do catabolismo são a amônia e o dióxido de carbono (CO2). A amônia se apresenta sob duas formas: amônia ionizada (NH4 +) ou amônia livre (NH3). Sendo esta tóxica aos peixes. No contato com a água, a amônia pode passar para a forma ionizada, que é bem menos tóxica à vida aquática, principalmente a ovos de salmonídeos (trutas). A aeração não basta para retirar a amônia da água, pois esta possui uma alta afinidade pela água. Entre os efeitos tóxicos está a redução da capacidade do peixe utilizar oxigênio dissolvido. Assim, se não for controlada, pode dificultar as operações de outros piscicultores rio abaixo. O acúmulo de amônia, mesmo a níveis não tóxicos, pode reduzir o crescimento dos peixes. Na água ela também aumenta os custos de cloração dos reservatórios. A amônia deve estar abaixo de 0,2 mg/l O controle pode ser feito com filtração biológica. Desta forma, ela amônia é biodegradada para formas menos tóxicas.

NITRITOS: Nitritos (NO2-) são produzidos por bactérias que se utilizam da amônia. Nos cultivos semi-intensivos de catfish nos EUA, observa-se ocasionalmente a mortandade de peixes atribuída a intoxicação por nitrito. Os peixes mortos têm sangue cor de chocolate, uma indicação que a hemoglobina se converteu em metahemoglobina. Concentrações de 0,5 mg/l já são tóxicas aos peixes de águas temperadas. Devem ser monitorados e reduzidos utilizando-se filtragem biológica. NITRATOS: Não constituem um perigo maior mas são verdadeiros adubos para plantas aquáticas e ciliares. Sua adição na água pode significar um crescimento abundante de algas, macrófitas aquáticas e plantas marginais. A água que antes era cristalina poderá se tornar eutrofizada, verde ou escurecida de tanto plancton.

PRODUTOS FARMARCÊUTICOS E QUÍMICOS: Podem levar ao desenvolvimento de formas resistentes de bactérias. Ainda podem agir como agentes alergênicos e até serem tóxicos, como por exemplo: verde malagueta, formol e antibióticos.

COMO ENTÃO CUIDAR DO AMBIENTE? Uma maneira boa de diminuir o impacto da poluição que pode ser gerada pela aqüicultura no meio-ambiente é retirar uma boa parcela dos sólidos em suspensão. Isso se alcança através de um tanque de decantação. Para dimensionar o tanque, o primeiro fator a se considerar é a área de sua superfície.

Dividindo-se a vazão do efluente (m3/h) pela área de superfície do tanque de decantação (m2) obtém-se a velocidade em m/h. Essa velocidade não deve ser maior que a de decantação de uma partícula com a densidade específica aproximadamente igual à da ração ou das fezes de peixes. Em termos práticos, isso é aproximadamente 1,7 m/h. Portanto é necessário 1 m2 de tanque de decantação para cada 1,7 m3/h de vazão de efluentes.

O segundo fator é a velocidade horizontal do efluente passando pelo tanque de decantação. Ela é obtida dividindo-se a vazão pela área em corte transversal. Se a velocidade for excessiva as pequenas partículas sedimentadas serão levantadas devido à turbulência. Portanto, a velocidade não deve exceder a 240 m/h. Assim, para cada 240 m3/h de efluente há necessidade de 1m2 de área transversal. Na prática, as dimensões do tanque de decantação podem ser determinadas usando as seguintes fórmulas:

comprimento = 1.21 x Raiz Vazão
largura = 0,49 x Raiz Vazão
profundidade = 0,017 x Raiz Vazão
Obs : a vazão é expressa em m3/hora

Exemplo: Um criador tem uma vazão de efluentes de 100 m3/hora. As dimensões do seu tanque de decantação devem ser:

comprimento= 1,21 x raiz100 = 12,1
largura= 0,49 x raiz100 = 4,9m
profundidade= 0,017 x raiz100 = 0,17m

O tanque de decantação deverá ser limpo anualmente para manter os níveis de sólidos em suspensão menor do que 6 mg/l. Mas, atenção! É necessário notar que as dimensões iniciais devem ser mantidas todo o tempo. Em outras palavras, deve-se prever uma margem de segurança para levar em consideração uma sedimentação maior, especialmente em nossas condições onde fortes chuvas, desmatamentos e movimentos de terra podem contribuir para o entupimento do tanque.

Para melhor eficiência o tanque de decantação deve ter as laterais ligeiramente inclinadas para o centro e o cano de esgotamento situado no ponto mais profundo.

Finalmente: o tanque de decantação é uma providência necessária para aqüicultores conscientes. Através da redução da descarga de matéria orgânica nos rios o aqüicultor respeita a natureza e devolve ao meio ambiente uma água tratada.