A doença do coronavírus, conhecida como COVID-19 (do inglês Corona Virus Disease) é causada por um vírus descoberto recentemente. O ICTV (Comitê Internacional de Taxonomia Viral) designou oficialmente o nome do vírus de SARS-COV-2 (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome / Síndrome Respiratória Aguda Severa). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a maioria das pessoas infectadas com o vírus experimentará a doença respiratória de forma leve a moderada e se recuperará sem a necessidade de tratamento especial. Os idosos e aqueles com problemas médicos subjacentes, como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crônicas e câncer, têm maior probabilidade de desenvolver quadros mais graves. Até o momento, não existem vacinas ou tratamentos específicos para combater o vírus, que se espalha rapidamente através do contato com pessoas infectadas, e mesmo as pessoas sem sintomas podem transmitir a doença.
Por:
Lissandra Souto Cavalli, Benito Guimarães de Brito, Kelly Cristina Tagliari de Brito, Andréa Ferretto da Rocha, Willian de Vargas, Eduarda Serpa, Marco Aurélio Rotta, Maria Helena Fermino, Ivonete Tazzo
Pesquisadores do Núcleo de Aquicultura, Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária, Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul
Produtor, proteja você e seu local de trabalho
A OMS divulgou recentemente medidas simples para proteger os locais de trabalho da propagação do coronavírus. As medidas são importantes mesmo que o vírus ainda não tenha chegado à comunidade onde as fazendas operam ou aos seus locais de trabalho.
ATENÇÃO: COVID-19 não atinge animais aquáticos de criação. Essas medidas são para segurança dos produtores e trabalhadores da aquicultura.
- Verifique se os locais de trabalho estão limpos e higienizados.
- Limpe constantemente as superfícies (mesas, interruptores de luz e maçanetas) e objetos (telefones, teclados) com desinfetante regularmente (a contaminação em superfícies tocadas por colaboradores e clientes é uma das maneiras pelas quais o coronavírus se espalha de forma mais rápida).
- Coloque dispensadores higienizadores (álcool gel) de mãos em locais de destaque no local de trabalho.
- Fixe cartazes e pôsteres nos locais de trabalho que estimulem a lavagem das mãos.
- Restrinja o acesso desnecessário de pessoas à fazenda.
- Certifique-se de que colaboradores tenham acesso a locais onde possam lavar as mãos com água e sabão.
- Instale um pedilúvio (lava-pés) na entrada de fazendas e locais fechados, tais como laboratórios, locais onde realizam larvicultura, reprodução, etc.
- Mantenha pelo menos 1 metro de distância entre você e qualquer pessoa.
- Certifique-se de que qualquer trabalhador ou colaborador do grupo de risco (maiores de 60 anos, pessoas com problemas médicos, tais como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças respiratórias crônicas e câncer), deve permanecer em casa.
Qual impacto da COVID-19 para aquicultura?
A aquicultura, assim como as outras áreas de produção de alimentos, é indispensável ainda mais nesse momento de crise. A FAO constatou que as implicações podem variar e ser bastante complicadas. Isso porque a cadeia de suprimento de alimentos é uma rede complexa que envolve produtores da pesca/aquicultura, consumidores, fornecedores, processamento e armazenamento, transporte e comercialização, etc.
Nesse momento, os efeitos ainda estão um tanto quanto controlados. Contudo, os problemas de logística associados à restrição de transporte, fechamento de fronteiras e a demanda reduzida em restaurantes e hotéis podem gerar mudanças significativas no mercado, afetando os preços.
Também as feiras anuais de comércio de pescado podem sofrer alterações. Este ano, devido à pandemia de COVID-19, a comercialização de pescados durante a semana santa será diferente. No Rio Grande do Sul, a orientação da Emater/RS, parceira da Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), é para que os agricultores trabalhem de acordo com as determinações e atualizações dos órgãos oficiais que regem as políticas de proteção contra os efeitos da Covid-19 e, assim, consigam realizar de forma segura as feiras que marcam a data mais importante do ano para os piscicultores.
Ainda, a FAO se posiciona quanto à necessidade de melhorar os padrões internacionais de higiene, condições de trabalho e instalações de criação de animais em áreas agrícolas, embarcações de pesca e tanques de aquicultura, bem como em toda a cadeia do pescado, que precisa ser reconsiderada à luz da pandemia.
Dessa forma, novos hábitos de produção são necessários. O trabalho e o produto gerado na aquicultura são vitais nesse momento de crise. Mantenha bons hábitos no local de produção e cuide da sua saúde e de seus colaboradores.
Lembre-se de usar as Boas Práticas de Biosseguridade no seu estabelecimento
1- Entrada de veículos higienizados e de apenas uma origem
Os veículos que prestam serviço de transporte de animais aquáticos devem ser cadastrados, com laudo de desinfecção e oriundos de uma só origem, sem que tenham passado por outras fazendas de cultivo. Esta medida previne a introdução ou disseminação de agentes patogênicos no cultivo.
2 – Controle de pragas e de entrada de animais silvestres e domésticos nas fazendas de cultivo
As fazendas de criação de animais aquáticos deverão contar com um Sistema de Controle Integrado de Pragas (CIP) e de um sistema de proteção para minimizar o ingresso e a permanência de animais domésticos e silvestres na área de produção da fazenda.
3 – Utilizar animais livres de enfermidades ou com atestado de sanidade
Do ponto de vista da sanidade, a aquisição de animais livres de patógenos ou com atestado de sanidade é o aspecto mais importante para o início do processo de produção nos viveiros. Fazer quarentena dos animais recém-chegados na fazenda.
4 – Os animais são transportados de acordo com as normas e cuidados necessários durante a comercialização
Transporte de animais deve ser realizado em recipientes higienizados e próprios, em temperatura adequada e com GTA, quando for o caso.
5 – A despesca envolve cuidados como higiene pessoal e uso de EPIs dos colaboradores, bem como higienização de equipamentos envolvidos
A fazenda deve atender às normas de biosseguridade quanto ao pessoal envolvido nas operações de despescas. Equipamentos devem ser higienizados após o uso, através da pulverização com o uso de solução clorada na concentração de 100 ppm.
6 – Alimentação balanceada analisando a quantidade de ração e os requerimentos nutricionais de acordo com a fase de vida
Fornecimento de uma dieta balanceada é importante para produção de animais saudáveis, para o desenvolvimento do sistema imunológico dos animais e para a manutenção da qualidade de água do criação.
7 – Realizar tratamento para redução da matéria orgânica no solo de viveiros
Matéria orgânica pode ser proveniente de plâncton, adubos orgânicos, restos de ração não consumida e fezes de animais presentes no ambiente de criação. Primeiro, deve-se buscar ração de boa qualidade e alta digestibilidade, diminuindo a produção de dejetos. Outra forma para tratamento da matéria orgânica é o uso contínuo e sistemático de probióticos. Quando possuir aeração, evitar pontos “mortos” (com baixa circulação de água) dentro dos tanques, realizando ajustes na posição dos aeradores, pois também auxiliam na decomposição da matéria orgânica.
8 – Realizar monitoramento e tratamento da água dos viveiros
Monitoramento, controle e tratamento da água é uma prática obrigatória nas fazendas de criação. Os limites toleráveis dos principais parâmetros da qualidade da água devem ser observados.
9 – Assegurar que as pessoas envolvidas no processo produtivo estejam suficientemente treinadas para suas funções
O pessoal envolvido nas atividades da fazenda de criação de animais aquáticos deverá usar EPIs específicos e receber treinamentos e atualizações para suas funções.
10 – Realizar limpeza e sanitização nas instalações de uso contínuo e nos viveiros após despescas
A limpeza e sanitização deverá ser realizada nas instalações e sempre após despesca. Deve ser realizada por pessoal treinado e com uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados.
Referências:
ABCC, 2012. BOAS PRÁTICAS DE MANEJO E BIOSSEGURANÇA PARA A CARCINICULTURA MARINHA NACIONAL. Disponível em: https://abccam.com.br/wp-content/uploads/2012/02/BPMS_E_BIOSSEGURANA_-_ABCC_FEVEREIRO_2012.pdf
ICTV – Comitê Internacional de Taxonomia Viral. Coronaviridae. Disponível em: https://talk.ictvonline.org/
IUF – International Union of Food, Agricultural, Hotel, Restaurant, Catering, Tobacco and Allied Workers’ Associations. Defending agricultural workers, in a pandemic and beyond. Disponível em: http://www.iuf.org/w/?q=node%2F7426&fbclid=IwAR0j4A8Y5jSpnfVRbEUOYiM22wi04JimyfcPjMNQ9gi91dGOiNQYLMTlxFI
FAO – Food and Agriculture Organization. Coronavírus. Disponível em: http://www.fao.org/2019-ncov/q-and-a/en/
FlatIcon. Imagens oriundas do flaticon. Disponível em: https://www.flaticon.com/
WHO – Organização Mundial de Saúde. Novo coronavírus 2019. Disponível em: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019
SEAPDR – Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural. Emater orienta piscicultores para comercialização durante a Semana Santa. Disponível em: https://www.agricultura.rs.gov.br/emater-orienta-piscicultores-para-comercializacao-durante-a-semana-santa