Um dos temas que mais chamou a atenção no III Encontro Sul-Brasileiro de Aquicultura, realizado em outubro passado em Ibirubá (RS), foi o estudo apresentado por Denise Rissato, bacharel em Ciências Econômicas pela Unioeste do Paraná. Em sua Análise de custos de produção de peixe nos sistemas de cultivo semi-intensivo e intensivo, Denise propôs uma avaliação mais aprofundada da viabilidade econômica desses sistemas na região Oeste do estado do Paraná,
tendo como produto central a tilápia, um peixe que tem atraído grande número de piscicultores brasileiros.
A pesquisa, feita em 1993, concluiu que o sistema de cultivo semi-intensivo – praticado por cerca de 95% dos criadores no oeste paranaense – não tem sido lucrativo para o produtor, sendo economicamente inviável por apresentar custos de produção superiores à receita. O produtor geralmente perde dinheiro por não contabilizar custos implícitos de produção, como a remuneração da capacidade empresarial, os custos do adubo orgânico, a mão-de-obra familiar empregada, além
da depreciação de seus bens.
Por outro lado, o sistema intensivo, que exige maior investimento de capital inicial, garante bom retorno de capital. O produtor não perde nada após a primeira safra, e o sistema passa a ter sustentaçâo própria. A margem de lucro aqui obtida permite maior segurança ao piscicultor, fator fundamental para o sucesso do empreendimento.
Para se ter uma idéia mais clara dos custos das produções semi-intensiva e intensiva, Denise Rissato tirou um raio x das várias etapas de cada modalidade de cultivo.
Apesar do estudo ter sido feito em 1993, Denise confirma que os resultados de seu estudo ainda são válidos para a realidade atual, visto que as dificuldades geradas pela crise econômica e o processo recessivo fizeram com o produtor tenha ficado receoso de fazer novos investimentos, levando poucos produtores, nesses dois últimos anos, a migrar para o sistema intensivo. Denise destaca também que os resultados podem variar um pouco se o produtor fizer seu levantamento de despesas e receitas em épocas da safra, entressafra, quaresma, etc. Nesses períodos o produtor encontrará variações nos preços de venda do peixe, compra da ração, etc.
AVALIAÇÃO DOS CUSTOS FIXOS (CF)
Segundo ela, os custos fixos considerados no estudo são aqueles que não variam em relação a taxa de produção, ou seja, que existem independentemente da quantidade produzida. Desta forma, foram considerados como custos fixos, as despesas com depreciação, mão-de-obra fixa e custos de oportunidade da terra e do capital, além do salário do produtor. Os custos decorrentes da remuneração do uso da terra, foram calculados aplicando-se uma aIíquota de 3% a.a. sobre o valor da terra. Para a obtenção do custo alternativo do capital fixo, foi adotada uma aIíquota de 6% a.a. (tabela 1) e, para calcular a remuneração do empresário/proprietário, utilizou-se a média dos valores mencionados na tabela 1, ou seja, considerou-se que, em média, a remuneração do piscicultor proprietário representa um custo
de cinco salários mínimos ao ano.
AVALIAÇÃO DOS CUSTOS VARIÁVEIS (CV)
São aqueles dependentes da quantidade produzida. Deles constam as despesas com alevinos, ração, fertilizantes, calagens, despesa com concertos, reparos e limpeza de equipamentos e utensílios, manutenção das benfeitorias, transporte, combustível, assistência técnica e insumos.
No estudo realizado por Denise Rissato, as despesas referentes a manutenção dos equipamentos e utensílios, foram calculadas tomando-se por base a aplicação de uma aIíquota de 7% a.a., correspondente a média dos valores relacionados na tabela 2, sobre o valor de equipamento e utensílios novos. Como também, para calcular os custos com manutenção e reparos das benfeitorias, utilizou-se de uma alíquota de 5% a.a. sobre o valor da benfeitoria (viveiros, monges, galpões, etc.).
AVALIAÇÃO DOS CUSTOS TOTAIS (CT)
O custo total é a soma dos custos fixos com os variáveis (CT = CF + CV).
SISTEMA SEMI-INTENSIVO
Considerando a utilização de um viveiro de 1.000 m2, foi chamado de sistema semi-intensivo, aquele que trabalha com uma densidade de estocagem igual a 1 alevino de tilápia por m2, durante um período de quatro meses, quando o peixe atinge 390 g as custas de uma conversão alimentar de 3:1 (3 quilos de ração para cada quilo de peixe). Deve-se destacar que na maioria das vezes a ração utilizada é caseira ou mesmo inadequada para peixes.
Os custos fixos e variáveis desse cultivo, avaliados na moeda norte-americana, podem ser vistos na tabela 3 e 4. O custo total de produção nesse sistema de cultivo foi de US$ 912,00.
A receita de US$ 362,70 foi calculada multiplicando-se o peso total das tilápias produzidas (1000 peixes x 390 g), por US$ 0,93 (preço do quilo da tilápia no mercado na ocasião do estudo).
Nesse sistema, o produtor contabilizará um prejuízo de US$ 549.40, a não ser que aumente sua produção para patamares superiores a 981 kg de tilápias, ou consiga um preço superior a US$ 2,34 para o quilo do peixe.
SISTEMA INTENSIVO
O modelo de sistema intensivo, aplicado por Denise Rissato a tanques de 1.000 m2 caracteriza-se por um maior e mais dispendioso controle da qualidade da água. Com o auxílio de aeradores, a densidade utilizada sobe para 8 alevinos por m2 e a conversão alimentar cai para 1: 1, após 4 meses de engorda, quando as tilápias também atingem o peso médio de 390 g. Os custos fixos e variáveis podem ser observados nas tabelas 5 e 6.
Considerando-se que o preço médio da tilápia é US$ 0,93 o quilo, e que ao final do período de quatro meses o sistema intensivo proporcionou uma produção de 3.210 quilos de peixes, foi obtida uma receita de US$ 2.888.89. Comparando-se com os US$ 1.866,58, referentes ao custo total, o cultivo apresenta um lucro líquido de US$ 1022,31.
Isto significa que, mesmo se por forças do mercado, os preços baixarem para o patamar de US$ 0,60 o quilo, o produtor ainda assim estará operando sem prejuízos.
Do estudo, conclui-se que o cultivo de peixes no sistema semi-intensivo é economicamente inviável, apresentando custos de produção superiores a receita proveniente do cultivo. Denise destaca que, em geral, o produtor não contabiliza os custos implícitos com os considerados no estudo, tais como sua própria remuneração, o custo alternativo da terra e do capital, além de omitir os custos da mão-de-obra familiar empregada na atividade, adubos orgânicos provenientes da propriedade e depreciação dos bens. Desta forma, aos olhos do produtor, a atividade vem apresentando-se aparentemente viável economicamente, iludindo
o produtor, ao contrário do sistema intensivo, que garante ao produtor um lucro líquido positivo.
CONTROLE PARA OBTER RESULTADOS
A pesquisadora Denise Rissato observou que nos últimos anos houve uma reorientação da atividade agrícola na região oeste do Paraná para a diversificação da produção local. O interesse pela piscicultura (em especial pelas tilápias) aumentou por ser uma fonte alternativa de recursos para complementar a renda
e possuir um mercado em 20, franca expansão. Por outro lado, a produção de tilápias ganha força no mercado internacional e, graças às novas de tecnologias e sofisticadas seleções genéticas, estimula seus criadores tanto no Brasil como em outros países a se aprofundar na atividade. Hoje a tilápia é bastante requisitada
nos EUA e esse crescimento no consumo entre os Pe: norte-americano pode dar ainda mais segurança aos produtores brasileiros – potenciais exportadores desse peixe.
Produzir a um preço competitivo, seja para o mercado nacional ou internacional, é um desafio a ser vencido, que pode determinar o sucesso ou não do cultivo de tilápias. A regra geral é que os custos devem ser bem dosados e milimetricamente
calculados para que não haja surpresas a longo prazo. O estudo de Denise Rissato aponta algumas questões que provavelmente emperram muitos mais projetos, impedindo o crescimento e a solidificação desse tipo de cultivo na região sul do país onde a situação ainda têm muito para mudar, já que 95% dos produtores pesquisados no oeste do Paraná praticam o cultivo semi- intensivo, com prejuízos
muitas vezes maquiados pelos fatores apresentados. A reversão desse quadro torna-se necessária para que o setor desenvolva e prospere, plantando as bases de uma indústria promissora no Brasil.
Por fim, Denise recomenda aos produtores que, em hipótese nenhuma adotem o cultivo intensivo sem assistência técnica pois os riscos aumentam muito e qualquer descuido pode levar muito a perder.