Cultivos de camarões na América Latina sofrem sérias ameaças

Foram confirmados os rumores sobre a presença dos vírus YHV (Yellow Head Virus Disease ou doença da cabeça amarela) e WSSV (White Spote Sindrome Baculovirus Complex ou Síndrome dos pontos brancos) nas fazendas de cultivo de camarões da América Central. A notícia caiu como uma bomba. De uma hora para a outra produtores de camarões em diversos países, inclusive o Brasil, entraram em estado de alerta criando estratégias para fechar todas as possíveis portas de entrada desses agentes. Após causar estragos em inúmeros países asiáticos, chegou às Americas aqueles que parecem ser os piores inimigos dos criadores de camarões marinhos desde o início dos cultivos comerciais.


Em 15 de fevereiro, um comunicado do Dr. Donald Lightner, especialista em patologia de crustáceos da Universidade do Arizona, informava a Organização Mundial de Sanidade Animal – OIE, que seu laboratório havia recebido, em janeiro desse ano, amostras de camarões de uma fazenda que solicitou para não ser identificada, localizada em um país da América Central do lado do Pacífico. Os exames histológicos de rotina não deixaram dúvidas: tratava de uma severa infestação de WSSV e YHV.

Desde 1997 já era dado como certa a presença do WSSV em camarões selvagens e cultivados no Golfo do México e na Carolina do Sul nos EUA, apesar dos exames utilizando métodos moleculares ainda não terem conseguido detectá-los. A recente confirmação utilizou provas de DNA para confirmar definitivamente a presença desses dois vírus. Segundo Lightner, é o primeiro registro de YHV no ocidente e a primeira constatação da presença de WSSV no lado do Pacífico da América Central, já que sua presença era dada como certa no Golfo do México.

Como o estrago causado por esses vírus são catastróficos para uma indústria, ambos passaram a fazer parte da lista de agentes patogênicos cuja presença deve ser imediatamente comunicada às autoridades locais e a OIE. Através dessas notificações, já está dada como certa a presença do WSSV na Nicarágua e em Honduras, na costa do Pacífico e rumores dão conta da sua presença também no Panamá , Colômbia, Costa Rica e México.

O ataque do WSSV é brutal com sobrevivências ao redor de 1 a 3% para o P. stilirostris e P. monodon e em torno de 25% para o P. vannamei, apesar de não existirem muitos casos estudados nessa espécie até o momento.

Logo que circulou a notícia, faxes divulgando-a voaram entre as empresas camaroneiras brasileiras. De comum, alertavam para a necessidade da imediata paralização na importação de camarões, sejam náuplios, pós-larvas ou adultos e demais produtos frescos como lulas, biomassa de artêmia e poliquetas. Tal preocupação deve-se ao fato de que o WSSV afeta todos os tipos de crustáceos e alimentos como a carne de siri, utilizada como alimento na maturação, são considerados vetores da doença para o estoque do laboratório.

Através da Aqua-L, Craig Browdy, do Depto de Recursos Naturais da Carolina do Sul, informou que WSSV infestou uma fazenda na Carolina do Sul por duas safras em 97 e que somente em 98 alcançou uma fazenda vizinha. Para ele, isso indica que aparentemente o WSSV não sobrevive fora do tecido do hospedeiro, ao contrário do TSV – Vírus da Síndrome de Taura que sobrevive na água e rapidamente infesta uma grande região. Por outro lado, lamenta Browdy, a quantidade de possíveis vetores do WSSV é enorme, podendo infestar um número muito grande de crustáceos.

Indagado sobre a possibilidade do WSSV infestar o Macrobrachium rosenbergii, Kent Hauch, patologista e ex-aluno de Lightner afirma que nas suas anotações consta que seu mestre já havia detectado esse vírus em Macrobrachium, entretanto, não soube informar se foi acompanhado de patogenicidade, mas em 1997 o WSSV foi detectado e descrito como causador de mortes em crayfish de água doce dos gêneros Procambarus e Orconectes.

As autoridades brasileiras já foram alertadas para o problema. Ainda estamos muito longe de termos a presença destes vírus no Brasil e sua presença entre nós somente poderá acontecer caso haja descuido e falta de profissionalismo de algum criador irresponsável. Os prejuízos econômicos são grandes e seriam extremamente severos e inoportunos se recaíssem sobre a nossa saudável e próspera carcinicultura marinha.