Doenças em camarões marinhos

Por: Sérgio Luiz de Siqueira Bueno
Laboratório de Patologia de Crustáceos – Dep. de
zoologia – Instituto de Biociências – USP


O desenvolvimento de doenças, infecciosas ou não, tem sido um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento da carcinicultura em diversos países, e o Brasil não é exceção. Infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e protozoários têm sido responsáveis por perdas significativas na produção de pós-larvas (ou mesmo de juvenis e adultos), provocando sérios comprometimentos no resultado final de produção nos sistemas de engorda.

O desenvolvimento de doenças, infecciosas ou não, tem sido um dos grandes obstáculos para o desenvolvimento da carcinicultura em diversos países, e o Brasil não é exceção. Infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e protozoários têm sido responsáveis por perdas significativas na produção de pós-larvas (ou mesmo de juvenis e adultos), provocando sérios comprometimentos no resultado final de produção nos sistemas de engorda.

Apesar do cultivo de camarões marinhos estar sendo praticado no Brasil desde meados dos anos 70, a preocupação com o reconhecimento de algumas doenças, visando o controle e/ou a adoção de medidas preventivas é bastante recente. Mesmo assim, os registros de ocorrência destas infecções são escassos e pouco documentados.

Dos sete tipos de vírus que reconhecidamente infectam camarões marinhos, quatro já foram registrados em fazendas comerciais em operação na região Nordeste. Baculovirus penaei (BP), foi diagnosticado nas espécies nativas Penaeus schimitti (Bahia e Rio grande do Norte) e P. subtilis (Piauí e Rio Grande do Norte), e nas espécies introduzidas Penaeus vannamei (Bahia) e P. penicilatus (Bahia).

Sua distribuição restringe-se ao continente americano (exceto introduções ocorridas no Havaí e Tahiti) e é provável que este vírus seja endêmico em muitas espécies de peneídeos da costa atlântica e do pacífico.

MBV (Monodombaculovirus) foi registrado no Brasil apenas em exemplares de Penaeus monodom introduzidos e criados até 1977, na Bahia. Neste mesmo ano, toda a população de P. monodom mantida em cativeiro neste estado deixou de ser cultivada em nosso país.

IHHNV (lnfectious hypodermal and hematopoietic necrosis vírus) foi diagnosticado nas espécies introduzidas Penaeus monodom e P. vannamei, e criadas na Bahia. Em P. vannamei, grande porcentagem dos indivíduos infectados apresentaram ainda deformações externas visíveis e redução significativa na taxa de crescimento, caracterizando um quadro conhecido como RDS (Runt- Deformity Syndrome).

O último tipo de vírus de camarões marinhos documentado no Brasil até o momento é o HPV (Hepatopancreatic Parvo-like Vírus), tendo sido diagnosticado em Penaeus penicillatus, P. vannamei e P. schmitti.

A ocorrência de HPV é particularmente importante porque representa o primeiro registro deste vírus no continente americano. Este vírus é endêmico em algumas espécies asiáticas e sua introdução provavelmente ocorreu com a importação de estoques infectados de Penaeus penicillatus. De maneira semelhante ao que se observa com o BP e IHHNV, também o HPV mostra-se capaz de se desenvolver e de se propagar em outras espécies de peneídeos que não constituem seus hospedeiros naturais.

Algumas infecções causadas por bactérias são comuns e facilmente reconhecíveis, como o black spot (notadamente associada à presença do gênero Vibrio) no exoesqueleto, ou ainda Leucothrix, bactéria filamentosa frequentemente encontrada sobre a superfície das brânquias. Outras, porém, podem estar associadas a lesões de tecidos internos, exigindo exames histopatológicos ou microbiológicos para um diagnóstico preciso.

Entre os protozoários que mais comumentemente são encontrados em camarões cultivados no Brasil são as gregarinas (parasita encontrado na luz do trato digestivo) e Zoothamnium (epibionteassociado principalmente às branquias).

Também foram observadas lesões no tecido muscular de Penaeus schmitti (Rio Grande do Norte), provavelmente causadas pelo microsporídeo Nosema (= cotton disease). A ocorrência deste tipo de infecção no Brasil, porém, ainda necessita de uma confirmação definitiva.

Ocorrência de infecções causadas pelos fungos Lagenidium e Fusarium em larvas e adultos de peneídeos respectivamente, são também freqüentemente observadas nas fazendas em operação no Brasil. Lagenidium, por sua vez, tem sido motivo de maior preocupação em virtude do impacto negativo que causa no setor de larvicultura.

Vale a pena mencionar ainda o registro de uma doença nutricional, conhecida como black-death ou escorbuto, provocada por uma deficiência de ácido ascórbico (vitamina C) e observada em um exemplar de Penaeus penicillatus na Bahia. recentemente, exames histopatológicos realizados em larvas e pós-larvas de Penaeus schmitti (Rio Grande do Norte) revelaram lesões em células epiteliais do hepatopâncreas.

A natureza do agente causador ainda não está determinada mas as lesões encontradas assemelham-se muito as Bolitas negras observadas em Penaeus vannamei no Equador.

Para finalizar, convêm salientar que o problema das doenças de camarões marinhos no Brasil (isto vale também para o camarão de água doce do gênero Macrobrachium) tende a se agravar. Isto porque não há em nosso país um único centro de quarentena (governamental ou particular) estruturado para receber, manter e realizar diagnósticos em populações de camarões peneídeos. Mesmo que houvesse, as entidades governamentais competentes não contam com recursos humanos treinados e qualificados para executar tal serviço. Em conseqüência disso, as introduções freqüentes de espécies exóticas, ou mesmo a transferência rotineira de pós-larvas e de reprodutores entre fazendas dentro do território nacional, são realizadas sem qualquer controle ou fiscalização necessários para se evitar a disseminação de doenças através de populações infectadas.