O mercado selecionou as espécies que cultivamos e estabeleceu a sustentabilidade dos processos produtivos
Por:
Jomar Carvalho Filho
Editor
Da mesma forma que é admirado e lembrado como um exemplo a ser seguido, o enorme crescimento econômico da China encontra críticas internacionais pela sua agressividade e, principalmente, por usar e abusar dos recursos naturais. Por enquanto as coisas seguem indo bem para a rica economia chinesa, com seus “relógios Rolex esbarrando uns nos outros pelas ruas”, como contou, gargalhando, Itamar Rocha. Mas até quando isso vai se sustentar?
Ao contrário do Brasil, muitos países, principalmente europeus, já impõem restrições, ou simplesmente não consomem muitos produtos chineses por conta da pouca sustentabilidade embutida nos seus processos produtivos. Não é, portanto, difícil enxergar que, num longo prazo, o modelo chinês tem tudo para não dar certo. Crescer a todo custo tem um preço alto e o consumidor tem poder de escolha.
Ser competitivo como os chineses é o sonho de 10 entre 10 empreendedores nacionais. Entretanto, seguir um modelo que periga não dar certo é dar tiro no próprio pé. Atualmente já está mais que comprovado que o caminho que leva ao crescimento, seja ele qual for, deve passar obrigatoriamente pelo crivo da sustentabilidade.
Na aquicultura, por exemplo, muitos estudos apontam para a necessidade de repensar globalmente as estratégias de elaboração de rações, principalmente as que utilizam matérias primas provenientes de práticas extrativistas.
Para o diretor do Instituto de Acuicultura de Torre de la Sal, na Espanha, José Miguel Cerdá-Reverter, “foi o mercado que selecionou as espécies que cultivamos e estabeleceu a sustentabilidade dos processos”. Esse mesmo mercado, no entanto, já acena que não quer mais consumir pescado que se alimenta de ração que contenha na sua formulação farinhas e óleos provenientes de peixes capturados. A sustentabilidade, como se vê, está embutida no interesse do novo consumidor, e a aquicultura não pode fechar os olhos para isso.
Nesta edição (n. 171, jan/fev/19) procuramos trazer artigos para estimular os conhecimentos e as discussões em torno da sustentabilidade na aquicultura, incluindo temas como o da substituição dos produtos de origem extrativista usualmente utilizados nas rações. Entre os muitos temas, o leitor também encontrará um artigo esclarecedor sobre a Salmonella, um problema grave enfrentado pela indústria de peixes nativos no Brasil.
A todos uma boa leitura.