Intensificar é o caminho, mas é preciso saber mais
Em abril passado repercutimos o conteúdo de um vídeo da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC) que revelava a produção de 77 mil toneladas no ano de 2018, um número muito superior às 45.759 toneladas recentemente apuradas pelo IBGE para o mesmo período, dados que divulgamos na edição passada. Sem querer entrar no mérito de quem está certo ou errado, se ABCC ou IBGE, o mínimo que se pode afirmar é que a carcinicultura brasileira cresceu menos do que era esperado. Ainda não foi dessa vez que o país quebrou seu próprio recorde, representado pelas 90.190 toneladas despescadas 16 anos atrás, no longínquo 2003, quando teve as pernas quebradas pelo vírus da mionecrose infecciosa (NIM). Desde então assistimos um setor engessado, lidando como uma difícil e trabalhosa consolidação.
Há décadas os vírus passaram a dar as cartas na indústria mundial de camarões, que reage se reinventando a todo o momento para vencer as batalhas biológicas. Ferramentas genéticas, uso de organismos livres de patógenos, engenharia de sistemas intensificados, manejos biosseguros e toda sorte de conhecimentos têm permitido o crescimento da carcinicultura ao redor do mundo, apesar da sopa de letrinhas virais impostas pelas doenças.
No Brasil, mesmo sem dispor de uma genética 100% adequada e necessária para lidar com os desafios virais, uma pequena parte do setor conseguiu vencer a inércia para investir em sistemas mais biosseguros. E para esses, os resultados têm sido satisfatórios. Já os produtores que continuam fazendo do mesmo, seguem na busca por resultados diferentes, sempre levados pelos ventos do acaso.
Nesta edição trazemos dois artigos emblemáticos. São contribuições especialmente preparadas por dois grandes especialistas para o deleite de quem tem as mãos molhadas na lida da carcinicultura. O artigo de Alberto Jorge Nunes, da Universidade Federal do Ceará, esmiúça com riqueza de detalhes os aspectos técnicos, de engenharia e manejo dos sistemas mais popularmente utilizados para criar o vannamei. O resultado é um vasto dossiê contendo informações extremamente relevantes para orientar decisões e mudanças de paradigma. O autor conclui ainda que a intensificação é o modelo a ser considerado para alavancar a carcinicultura brasileira. Já o artigo de Fernando Kubitza, da Acqua Imagem, fala da interiorização do cultivo do vannamei, uma tendência emergente que tem atraído novos investidores, seduzidos pela possibilidade de produzir nas vizinhanças do mercado consumidor. Em seu artigo Kubitza revela e discute os principais desafios encontrados por quem deseja produzir com sucesso em sistemas intensivos com zero descarga de água.
Como não se pode alcançar resultados diferentes, fazendo sempre as mesmas coisas, fica aqui meu convite a todos, principalmente aos leitores mais irrequietos, para um excitante mergulho em nossas páginas.