A exportação vista com bons olhos. Mas é preciso mais- Editorial #188 –

É comum retornar de um evento na companhia de uma pulga refestelada atrás da orelha. E nessa minha volta do IFC 2022 não foi diferente. Desta vez a pulga me foi passada pelo Eduardo Lobo, presidente da Abipesca – Associação das Indústrias de Pescado. O seu nome é Exportação, e a recomendação foi a de alimentar e incentivar o seu crescimento.


o chegar em Foz do Iguaçu para o IFC 2022, logo ouvi relatos de despescas antecipadas de tilápia, na tentativa de aproveitar os bons preços que estão sendo pagos aos produtores nessa saída do inverno. Ano sim e outro também, o excesso ou a falta de peixe no mercado, bem como seca, enchente, doença, variação nos preços dos peixes e dos insumos, ou outros possíveis acontecimentos, acabam influenciando na quantidade de alevinos que será alojada para a safra do ano seguinte. Funciona mais ou menos assim: em anos com problemas, o setor tende a alojar menos alevinos, e isso acarreta, lá adiante, um volume menor de peixe despescado, preços mais atraentes e produtores satisfeitos o suficiente para estimular os demais a povoar com força para a safra seguinte. 

Na sequência, como é de se esperar, a safra volta a ser mais abundante, saturando mais o mercado e reduzindo preços e margens de lucro. Parte do setor fica desestimulada, uns desistem de povoar, enquanto outros povoam com quantidades menores para o ano seguinte. Esse ciclo segue se repetindo e acaba compondo um quadro que é bastante familiar para boa parte do setor produtivo, que há tempos se queixa, de maneira crônica, das magras margens de lucro.  

Diante disso, algumas questões precisam ser respondidas: até que ponto um crescimento da produção, em resposta a estímulos setoriais e governamentais, pode levar a resultados mais desgastantes que o esperado pelo setor? Na sua apresentação no IFC 2022, o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo, falou de mercado saturado, e até de uma possível briga entre proteínas. Revelou que um aumento hipotético na produção de peixes, equivalente a um quilo de pescado per capita, seria capaz de reduzir de 10 a 15% o preço pago ao produtor, o que tornaria a atividade insustentável. 

O que fazer então para expandir o setor, em meio a esse cenário? Eduardo Lobo parece não ter dúvidas que a saída está na exportação. E sua experiência como líder setorial e empresário atuante na pesca e na aquicultura recomenda que o setor se volte para as exportações e se prepare para atender as exigências e certificações da União Europeia, por ser, de longe, o maior e melhor mercado mundial para pescado, tanto pelo alto consumo como pelo vigoroso e exigente comércio.  

Eduardo apresentou fatos convincentes e mostrou números que atestam a vitalidade do pescado nas trocas internacionais de exportação e importação, por ser essa a principal proteína consumida no mundo. No entanto, por falta de tempo ou oportunidade, não se arriscou a mostrar o que fazer para que um grande volume de peixes de pequenos e médios produtores escoe para canais que desaguem no prato de franceses, espanhóis, alemães e outros. É fácil entender que as cooperativas bem estruturadas, como a Copacol e a C.Vale, bem como as grandes empresas, muitas verticalizadas com produção e frigorífico certificados, possuem estrutura e fôlego para seguir ao pé da letra os passos apontados por Eduardo Lobo. Resta o desafio de apontar caminhos para solucionar as demandas dos produtores independentes, aqueles que acabam comprando ração pelo preço mais baixo e não pela qualidade, pra ver se salvam algum no final da safra, e que lidam diariamente com as vendas pingadas e atravessadores. 

Parece não haver dúvidas que a exportação seja o caminho para alcançar o mercado que reconhece e remunera à altura o trabalho do produtor e a qualidade do seu produto. E essa proposta deve, sim, ser alimentada até que os volumes exportados atinjam, minimamente, 10% de todo o pescado produzido. Resta, porém, encontrar soluções para os lamentos do setor produtivo envolvido no ciclo que se repete ano após ano, e suas oscilações. Até porque há muito dinheiro investido na infraestrutura de produção, e não faz nenhum sentido desperdiçar tantas oportunidades para produzir esta que é a melhor proteína que o ser humano tem disponível.