Editorial – edição 102

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Ao escrever as últimas notícias para essa 102ª edição da Panorama da AQÜICULTURA, me deparei com uma matéria publicada no Fishfarming International (FFI), relatando a forma objetiva com que os interessados na produção e comercialização do filé fresco de tilápia nos EUA estão lidando com seus obstáculos.

Kenny McCaffrey, editor do FFI, relata que uma instituição denominada “Coalizão das Américas pela Tilápia” (ACT, na sigla em inglês), acaba de ser criada por produtores, importadores e distribuidores de filés frescos de tilápia dos EUA, para reagirem aos filés baratos e de baixa qualidade, que lá chegam vindos da China e de outros países do sudeste asiático. Esses filés são, muitas vezes, processados e embalados com atmosfera de monóxido de carbono, um aditivo considerado legal pelo FDA, que permite que a carne, estando longe do oxigênio, não escureça e se mantenha com a aparência de fresca, mesmo que em processo de deterioração. O produto asiático entra congelado nos EUA e é posteriormente descongelado e vendido como fresco, concorrendo num mercado em alta, com o filé fresco de tilápia produzido por diversos países do continente americano, inclusive o Brasil. A recém constituída ACT não pretende apenas brigar pelo rigor na fiscalização dessas fraudes, e também apóia uma bancada política que visa alterar a lei, restringindo o uso do monóxido de carbono, que a seu ver, favorece tão somente a fraude no comércio de carnes. Enquanto isso, aqui no Brasil, toneladas de filés de tilápia saem diariamente de Barra Bonita e Bariri, represas poluidíssimas do Tietê, para serem distribuídos em todo canto do país, até mesmo nas principais redes de supermercados, que mesmo sabendo a origem do peixe, muitas vezes filetado ao ar livre e lavado com as águas dessas represas, não exitam em adquirir um produto de péssima qualidade e sem inspeção sanitária. Uma concorrência desleal com a tilápia cultivada, que prima pela qualidade em cada fase do processo produtivo. Aqui no Brasil, diferentemente do que ocorre nos EUA, os produtores encontram muitas dificuldades para se unir e atuar de forma organizada contra um comércio ilegal que muito os prejudica. Da mesma forma, as autoridades, sejam sanitárias ou responsáveis pelo desenvolvimento da nossa aqüicultura, se mostram pouco eficientes no combate a essas irregularidades, bem como na proteção da imagem do principal peixe produzido pela aqüicultura brasileira.

Mas não só de problemas vive a aqüicultura brasileira. Nesta edição, o leitor vai conhecer o que está sendo feito na prática para reativar os viveiros dos inúmeros produtores de camarão do sul do Brasil, que tiveram seus cultivos devastados pelo vírus da Mancha Branca; e vai também encontrar as respostas para uma pergunta que todos se fazem: por que o Brasil, com tantos peixes nativos, tem a sua piscicultura centrada em espécies exóticas? Vai também conhecer a importância das cianobactérias para a humanidade e o seu papel na aqüicultura, além de entender o perfil da indústria processadora de pescado, e saber como essa indústria está preparada para atender o crescente desenvolvimento dos cultivos aquáticos em nosso país.

A todos, uma boa leitura.

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor