A Lista de Discussão Panorama-L, mantida por esta revista na internet desde 1997, comemorando, portanto, dez anos de funcionamento, é uma das conquistas que mais me enche de orgulho.
Por ser um fórum aberto e sem moderação, a Panorama-L tem sido palco de intensa troca de conhecimentos, bem ao gosto de quem atua num setor produtivo extremamente dinâmico, como é o caso da aqüicultura. Um dos motivos do meu orgulho foi saber que a troca de correspondências do nosso fórum virtual nos últimos anos, foi utilizada em uma importante pesquisa da FAO, como base de consulta para identificar os principais problemas que afetam a aqüicultura brasileira, colaborando, assim, para um trabalho que resultou no excelente livro “Aqüicultura no Brasil: o desafio é crescer” (que agora pode ser baixado diretamente do site www.gia.org.br).
Por explorar a agilidade e a rapidez proporcionada pela Internet, muitos produtores se utilizam da Panorama-L para se socorrerem de problemas no campo. Nesse espaço virtual, não é raro o debate de temas importantíssimos, a exemplo de uma recente discussão em torno da mecânica da formação dos preços na cadeia produtiva da tilápia, reproduzida por nós na sessão “Notícias & Negócios On-line” dessa edição.
Um fato muito curioso, entretanto, me chamou a atenção nas últimas semanas. Enquanto acompanhava as trocas de e-mails da Lista Panorama-L, me dei conta de que, mesmo em meio ao intenso noticiário da grande imprensa sobre as acusações de uso indevido do cartão de crédito corporativo pelo ministro Altemir Gregolin, em nenhum momento esse tema mereceu comentários na Lista de Discussão. Constatei que, de forma bastante curiosa, a imagem do Ministro foi “blindada”. Nada. Nem uma palavra sequer foi dita.
Procurei sem muito sucesso uma explicação e acabei mais vez refletindo sobre a SEAP. Na verdade, trata-se de uma Secretaria Especial ligada a Presidência da República, e não um Ministério com toda infra-estrutura que isso pode significar. O simples fato da SEAP não possuir seu quadro próprio de funcionários e de ter sido criada à revelia de muitos interesses, a torna um órgão extremamente frágil e vulnerável a manobras de grupos políticos e demais órgãos do governo, que viram suas funções esvaziadas com a sua criação, em 2003. Não seria, portanto, de todo errado afirmar que o setor aqüícola tem um forte receio de que mudanças, sejam elas quais forem, possam alterar de forma radical o perfil institucional que a SEAP vem construindo ao longo da sua curta existência.
O silêncio do setor aqüícola que participa da Lista de Discussão Panorama-L talvez traga embutido consigo tensão e preocupação. É possível também que signifique um apoio velado às políticas da atual gestão, misturado com o óbvio descontentamento de toda a sociedade brasileira frente às apurações dos excessos no uso dos cartões de crédito corporativos.
Agora é esperar o término das apurações da Corregedoria-geral da União – CGU, que já acatou as provas de Gregolin e o inocentou das acusações de uso indevido do seu cartão, alertando apenas para “impropriedades” em duas despesas realizadas com alimentação.
O momento, portanto, é de espera e esperança de que tudo se esclareça rapidamente. Oxalá, as provas apresentadas por Gregolin o livrem das acusações e que a SEAP saia dos noticiários e só retorne trazendo boas notícias para a saúde, o bolso e o paladar dos brasileiros. E que a Lista de Discussão Panorama-L se perpetue como um espaço dedicado à rica troca de idéias e à saudável interação entre os aqüicultores. Como diz Herbert Paralamas Vianna, “só queremos saber do que pode dar certo. Não temos tempo a perder”.
A todos, boa leitura
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor