Editorial – edição 111

JomarEditorial104

Hoje é uma sexta-feira de 2048. Depois de uma semana dura de trabalho estou sem muita vontade de cozinhar. Mas não importa muito, porque a geladeira está vazia e a solução vai ser levar pra casa um prato pronto. Que tal uma lula com batatas fritas? Ou talvez um hambúrguer de algas? Não posso esquecer das águas-vivas, fritas e crocantes, pro acompanhamento”.

Com esse cenário futurista, Caroline Willians abriu seu artigo publicado dia 9 de março na revista New Scientist, onde fez uma reflexão sobre as comidas exóticas que teremos que nos habituar a comer num futuro não muito distante. Caroline disse já não ter mais dúvidas de que, se alguma coisa não for feita, daqui a 40 anos os peixes que hoje nos são familiares estarão fora de todos os cardápios, substituídos por uma variedade de alternativas exóticas, como as águas-vivas e as macroalgas, tudo que o mar terá para nos oferecer.

Pode parecer exagero, mas o cenário do ano 2048, descrito por Caroline Willians se baseia nas conclusões de um dos mais sérios e badalados projetos, o “Censo da Vida Marinha“, da equipe de Boris Worm, da Universidade de Dalhousie, de Halifax, Canadá. Worm garante que se os padrões atuais de captura da pesca comercial não forem mudados, bem como a poluição e as emissões de gases responsáveis pelas bruscas mudanças climáticas, em 50 anos não sobrará muita coisa nos oceanos.
O impacto da escassez de pescado em todo o mundo ainda não é bem conhecido. Apesar de sabermos que a aquicultura tem um papel decisivo no abastecimento mundial, talvez seja um pouco cedo para prevermos como será o desempenho dos cultivos nas próximas décadas, já que a poluição e os efeitos das mudanças climáticas também afetarão muito a aquicultura, até inviabilizando-a em algumas partes do planeta. Segundo o documento “A Situação Mundial da Pesca e da Aquicultura 2008″, lançado pela FAO nos primeiros dias de março, a aquicultura já é responsável por 47% do pescado consumido no mundo, e as perspectivas de crescimento são surpreendentes. O documento apontou ainda a América Latina como a região do planeta onde a aquicultura mais cresceu, com taxa de 22% entre 1970 e 2006, comparada com os 8,8% no resto do mundo. A dúvida que fica é se esse cenário vai continuar próspero assim em todo o mundo, ou se teremos surpresas, como a ISA que abate neste momento a salmonicultura chilena.

Nesta edição tratamos do tema das mudanças climáticas, da sanidade, do vírus ISA e, sobretudo, das técnicas para o bom manejo alimentar e nutricional, – mais uma “aula” imperdível do Fernando Kubitza – que, tenho certeza, vai ajudar muita gente a otimizar o ganho de peso dos cultivos, e ao mesmo tempo, manter o meio ambiente em excelentes condições.

Boa leitura,

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor