Em 1934, Rodolpho von Ihering, um gaúcho neto de alemães, desenvolveu a técnica mundialmente conhecida como hipofisação, que utiliza hipófises desidratadas de peixes para reproduzir artificialmente peixes cultivados. Mas a popularização dos conhecimentos relacionados à propagação artificial aconteceu, de fato, na década de 70, em decorrência dos acordos internacionais que a Codevasf assinou com instituições húngaras.
Desde então, as Estações de Piscicultura da Codevasf tiveram um papel determinante na formação da mão de obra brasileira especializada e no aprimoramento da técnica, até hoje largamente utilizada em todo o mundo.
Aplicada há quase quatro décadas, a técnica de hipofisação é agora alvo de fiscalização pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Sob o ponto de vista sanitário, a fiscalização alega que o produto não pode ser utilizado pelos piscicultores por não constar na “extensa lista de dois produtos” aprovados para uso na aquicultura brasileira. O clima entre os piscicultores é de medo e muita insegurança diante de possíveis autuações.
Após todos esses anos, não há registro algum de que o uso tanto de hormônios como de hipófises de peixes desidratadas tenham ocasionado danos aos pescados, ao meio ambiente, aos humanos que os manipulam e, tampouco, a quem consome os peixes propagados com a técnica da hipofisação. Ao longo desse tempo, cresceu o número de especialistas que pesquisam a fisiologia da reprodução de peixes e a forma como os hormônios atuam, auxiliando a desova e a espermiação. Ainda que as instituições que atuam na pesquisa aquícola tenham sido sucateadas, seria possível hoje montar pelo menos dois times de futebol, com direito a alguma plateia, se juntássemos todos os especialistas no assunto para opinar sobre as possíveis consequências deletérias da técnica – e também se a fiscalização do MAPA está sendo conduzida de maneira adequada.
Decisões sobre assuntos polêmicos balizadas pelas “melhores informações científicas” estão cada vez mais comuns e o bom senso deve prevalecer para não prejudicar o setor produtivo, que neste momento se sente ameaçado.
Se de um lado existem especialistas disponíveis e, de outro, produtores sendo acusados por uma prática que até então tem se mostrado inócua, seria adequado que o Ministério da Pesca e Aquicultura tomasse a frente da discussão para colocar este trem novamente nos trilhos. A Revista Panorama da AQUICULTURA está de páginas abertas para o debate, desejando que este tema não tome proporções inesperadas.
Nesta edição, ao lado de técnicas de assentamento remoto que podem dar um novo rumo na mitilicultura catarinense, trazemos também o último dos sete artigos do Fernando Kubitza sobre as boas práticas de manejo na produção de peixes, as vantagens das espécies nativas na Região Sul, a escolha da sede da Embrapa para a aquicultura, a ótima notícia da escolha do Brasil para sediar o congresso mundial da WAS em 2011 e muito mais.
A todos mais uma ótima leitura
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor