Muitas vezes nesse espaço critiquei as estatísticas da aquicultura anualmente divulgadas pelo Ibama, por utilizarem dados repassados por órgãos estaduais e municipais sem o menor comprometimento com o setor aquícola.
São instituições que, como se sabe, informavam e informam números fabricados segundo a sua conveniência, sem se dar ao trabalho de ir a campo para verificar a veracidade dessas informações. Em agosto último, o MPA divulgou as estatísticas de 2008 e 2009, e não resistiu à tentação de repetir a tão criticada fórmula do Ibama de gerar os números do setor.
Como se sabe, com a exceção de poucos estados que possuem a seu favor uma atuante estrutura de extensão rural, a maioria dos estados brasileiros padecem com a falta de assistência, e nem que desejassem muito, os aquicultores não teriam a quem informar o quanto produzem a cada ano.
O MPA, no entanto, divulgou suas estatísticas acompanhadas da recomendação de que foram “resultantes de uma metodologia estatística apropriada, aprovada pelo IBGE, resultante da análise de correlação entre a comercialização de ração para organismos aquáticos no Brasil”, fornecidos pelo Sindirações.
Não restam dúvidas que usar a chancela do IBGE gera credibilidade. Mas o que resta saber é se o IBGE está sabendo que o Sindirações tem problemas crônicos para avaliar com precisão o volume de alimentos de organismos aquáticos que o país comercializa. Um deles é a grande dificuldade de contar com a adesão de muitas das indústrias que hoje comercializam suas rações junto ao setor, mas que não sentam à mesa com os seus pares. Outro problema, é que as indústrias, inclusive as que sentam na mesa do Sindirações, não vêem com bons olhos a divulgação da sua produção por conta da forte concorrência do setor.
Como resultado o Sindirações diz que foram produzidas 300 mil toneladas de ração de peixes em 2009, e o MPA diz que a produção da piscicultura foi de 337 mil toneladas, o que no mínimo faz da piscicultura brasileira um campeão em conversão alimentar, mesmo levando em consideração que muitos peixes são produzidos sem o uso de alimentos industrializados.
Fica a dúvida se era realmente necessária a divulgação de números sem a desejável precisão. Afinal, não serão esses números que irão mostrar o importante e histórico papel que o MPA desempenhou e desempenha na trajetória recente da aquicultura brasileira, criando condições para que nos próximos anos tenhamos muita prosperidade sendo despescada das nossas águas.
Fica, porém a frustração de todo o setor aquícola, e certamente também de muita gente dentro do próprio MPA, de não ter visto a divulgação dos dados do “Censo Aquícola” no lugar dessa questionável estatística. O censo foi, sem dúvidas, um dos mais arrojados e importantes projetos da SEAP/MPA, cuja divulgação dos resultados vem sendo ansiosamente esperada desde o final do ano passado.
A todos, boa leitura.
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor