A carcinicultura brasileira tem realmente bons motivos para comemorar. Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), no ano que passou a indústria do camarão cultivado no país despescou 80 mil toneladas, chegando, portanto, muito perto da sua safra recorde de 90 mil toneladas despescadas em 2003. Com os preços médios praticados na porteira, o setor faturou ao redor de R$ 600 milhões em 2010, ao vender seu produto para um mercado interno ávido e ainda não muito exigente.
Apesar de todo o camarão produzido no ano passado ter sido voltado para saciar esse mercado, um fato curioso revela a enorme fome desse monstro, que se mostrou muito maior do que o setor produtivo imaginava. Fascinados com uma enorme e surpreendente demanda, grandes empresas revendedoras de pescado travam, neste momento, uma batalha na justiça reivindicando que o governo brasileiro desconsidere a Instrução Normativa no 39, (4/11/1999), que proíbe a importação de camarão, abrindo, desta forma, o mercado nacional para inúmeros países aptos a atender essa crescente demanda com “precinhos sedutores”.
O setor sabe que produzir mais é preciso, mas não deve esquecer que em 2003, quando nadando de braçadas produziu 90 mil toneladas, foi pego de surpresa por doenças que o nocautearam. Preocupa então saber que, para alcançar as 80 mil toneladas atuais, o setor produtivo só pode estar usando densidades mais altas, se aproximando perigosamente do ponto em que o leite derramou da panela. Portanto, apesar dos bons ventos que sopram a favor, é preciso atenção para que o setor não reviva seus erros recentes.
Então, o que é preciso fazer para aumentar a produção na atual área alagada, sem se tornar vulnerável às doenças? Para onde a carcicincultura brasileira deve aprumar suas velas e aproveitar esse vento tão desejado que agora sopra?
Nesta edição, trazemos os resultados dos experimentos realizados pela equipe da bióloga Ana Carolina Guerrelhas, da Aquatec, que com sua experiência foi buscar tecnologia junto a produtores asiáticos. A seu ver, trata-se do manejo mais viável, sob todos os aspectos, para aumentar a produção de camarões, reduzir drasticamente o impacto ambiental e afastar os riscos sanitários, como as doenças e a ação dos varejistas que, obviamente, deve ser também considerada de grande risco sanitário.
Escolhemos como matéria de capa o artigo que apresenta os resultados da incrível pesquisa realizada pela equipe do engenheiro de pesca Alberto J. P. Nunes, do LABOMAR/UFC, que trabalha com uma nova geração de rações para camarão com zero de farinha de peixe, e com resultados extremamente favoráveis, tanto no aspecto zootécnico quanto econômico.
Nas próximas páginas o leitor encontrará ainda ótimas soluções para uma dor de cabeça que frequentemente ocorre nas pisciculturas: a indesejável presença das plantas aquáticas, além de muitos outros artigos interessantes. Terminamos essa edição com a certeza de que ela está ótima!
A todos, sempre, uma ótima leitura.
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor