Uma fêmea de tambaqui, um macho de pacu, uma bacia de plástico e água a gosto. O que parecem ser ingredientes de uma suculenta peixada, na verdade são também os itens básicos de outra receita simples para o preparo de um híbrido chamado tambacu, um peixe muito apreciado, não apenas pelo sabor da sua carne, mas também pela robustez que traz do tambaqui e a resistência às baixas temperaturas herdadas do pacu. Foi graças a excelente performance desse híbrido, que o país assistiu nos últimos anos a expansão e consolidação da piscicultura na Região Centro-Oeste. O seu sucesso despertou a atenção do setor produtivo para a possibilidade de juntar num único peixe as melhores características de duas espécies parentais distintas e, a partir daí, a utilização de híbridos na piscicultura brasileira se tornou uma prática cada vez mais frequente.
Um fato curioso é que na percepção de praticamente todos os produtores, o cruzamento de duas espécies puras sempre leva a um produto híbrido “estéril” e bom de engorda, mas isso nem sempre é o que se observa no campo. A crença de que todos os híbridos não se reproduzem não mais se sustenta, a partir dos estudos que comprovaram a fertilidade de vários híbridos produzidos na piscicultura brasileira. Além disso, pesquisadores constataram que muitos alevinos de bagres e redondos que vêm sendo comercializados como sendo de espécies puras, são na verdade híbridos. E, pior, por terem sido adquiridos equivocadamente como sendo de espécies puras, esses peixes muitas vezes passam a fazer parte de plantéis de reprodutores, o que leva a produção de híbridos descendentes de híbridos, que resultam em peixes de baixíssimo rendimento zootécnico, portadores de características deletérias indesejáveis e altas taxas de mortalidade.
A prática de cruzamentos para obtenção de híbridos feita sem os conhecimentos básicos sobre o tema, muito comum em alguns laboratórios que produzem alevinos, pode custar caro ao bolso do produtor, além de ameaçar as populações naturais, caso esses animais escapem para o meio ambiente. Por esta razão, nesta edição tenho o enorme prazer de apresentar o primeiro de uma série de três artigos sobre esse complexo e importante tema, preparado pelos pesquisadores do Laboratório de Genética de Peixes da Unesp de Botucatu, um time de craques que tem à frente o professor Fábio Porto-Foresti.
O leitor também vai ter a oportunidade de conhecer nesta edição as bases conceituais para o cálculo da capacidade de suporte dos reservatórios brasileiros e as razões pelas quais esse tema deve ser debatido amplamente entre todos os envolvidos com a nossa piscicultura. Ainda em nossas páginas o melhoramento genético como ferramenta para obtenção de animais resistentes a doenças; testes sensoriais para avaliar a aceitação do camarão cultivado e, a larvicultura do jundiá, um peixe de grande potencial para a Região Sul do país.
A todos uma boa leitura
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor