Todo final de ano a Epagri, de Santa Catarina, fecha os números da produção aquícola do ano anterior e, sistematicamente, ano após ano, temos divulgado esses números aqui na Panorama da AQÜICULTURA.
No fundo nosso desejo é que, com a divulgação do que “parece ser impossível de fazer”, consigamos contaminar, entusiasmar, iluminar outros gestores estaduais e o próprio MPA, para que coloquem a mão nessa massa. O que não dá mais é ficar lendo entrevistas de cabeças coroadas do planalto, balbuciando números que parecem crescer, sem pudores, como uma massa posta para descansar.
Neste dezembro de 2013, Fernando Silveira, pesquisador da Epagri/Cedap, inovou e divulgou publicamente a produção de 2012 por meio da Lista de Discussão Panorama-L. Quando li fiquei imaginando a sensação de dever cumprido, dele e de toda a turma do Cedap, quando disponibilizou, para quem interessar possa, os números que, para Santa Catarina, têm sido fundamentais para traçar a sua política estadual de aquicultura, de longe a mais bem estruturada do Brasil.
Na Lista Panorama-L, alguém ainda perguntou como faziam pra obter aquela riqueza de detalhes da produção – por espécie, por município, por tipo de produtor, etc.. Fernando, com a mesma simplicidade que lê revistas numa sombra de árvore, depois do almoço, respondeu: “a Epagri conta com 292 Escritórios Locais distribuídos pelos 293 municípios catarinenses, todos unidos aos 23 Escritórios Regionais existentes, os quais se reportam ao Escritório Central. Essa permeabilidade permite obter dados praticamente de todo o Estado”. A uma outra pergunta sobre os custos, afinal é um trabalho muito abrangente, Fernando respondeu que “os custos, nesse caso, se atêm aos gastos envolvidos nas visitas dos extensionistas/pesquisadores aos produtores onde aproveitam para fazer o levantamento. Quer dizer, são gastos que a empresa normalmente já tem no seu trabalho diário de extensão/pesquisa”. Simples assim!
Alguém ainda quis saber sobre a produção apurada pela Epagri em 2011. Queria comparar com a que foi divulgada pelo MPA para este mesmo ano. Fernando respondeu que Santa Catarina produziu exatas 32.124,6 toneladas. E sobre as 53.641,8 toneladas divulgadas pelo MPA, o pesquisador disse desconhecer. E certamente desconhece também quem teve a brilhante ideia de temperar a produção catarinense com um tempero de 67% em cima dos dados oficiais do estado, não por acaso os mais precisos que se pode obter no Brasil.
Quem está encarregado de gerir a política pública no Brasil, voltada para a produção de pescado, não pode mais patinar ou jogar para a plateia, mirando votos e expandindo o eleitorado. A aquicultura é, de verdade, a atividade produtiva que mais cresce no mundo e não podemos perder mais tempo, além daquele que temos perdido, para crescer e tornar o pescado mais acessível sem depender de fornecedores internacionais.
Convido a todos para a leitura do delicioso relato feito por Fernando Kubitza, acerca da viagem que acabou de fazer ao Vietnã. Ao invés de criticarmos os nossos fornecedores de pangasius, talvez seja melhor aprendermos as lições que vêm do Delta do Mekong.
A todos, boa leitura.
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor