Editorial – Edição 144

Editorial_JomarEleições chegando e o momento deveria ser de boas escolhas. Cada um tem a sua, e seja lá quem irá governar o país, terá pela frente a responsabilidade de olhar para todos, e com especial atenção para aqueles que tradicionalmente foram esquecidos e desprezados, exceto nas vésperas das eleições. Mas, ninguém faz ideia do que virá. E só quem viver verá.

No nosso universo molhado, a despeito de tudo que se fala, a aquicultura brasileira ganhou com a criação, em 2003, do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Nosso potencial para criar peixes, crustáceos, moluscos e rãs é extraordinário e não obrigatoriamente, como dizem seus detratores, iremos desenvolvê-lo detonando o ambiente em que os cultivos estão inseridos. Não desenvolver a aquicultura e deixar de produzir proteína nobre é pecado sem perdão. Principalmente se o motivo for esse discurso cansado da precaução e da suposta proteção do meio ambiente.

Aceitar estes argumentos é desprezar toda a academia, milhares de pesquisadores brasileiros com enorme capacidade de desenvolver manejos incríveis, onde os impactos das criações podem ser otimizados para se tornarem totalmente compatíveis com os benefícios que a fartura de pescado trará para o Brasil e o resto do mundo.

Mas, já que tínhamos um ministério, poderíamos ter avançado muito mais nos últimos anos, não fosse a pasta ter sido utilizada como moeda barata nas barganhas do governo, em troca de apoio político. Seus mais recentes ocupantes, marinheiros de primeira viagem, demonstraram mal conhecer a matéria que administram. De seus gabinetes criaram números fantásticos, fantasiosos, para ilustrar uma suposta fartura na produção de pescado, na certeza de que isso iluminaria os caminhos para que o MPA não se afogasse na lama política pra onde cegamente foi levado. Mas sabemos que não é assim que a banda toca. Queríamos um MPA que pertencesse ao Brasil e não a um partido político e seus liados. Agora mesmo estamos vendo a piscicultura passar por um
dos momentos mais dramáticos da sua recente história, com estiagem severa, quebra de safra, produtores abandonando a atividade, mais do que nunca necessitando de crédito e apoio do governo. E não vemos absolutamente nada sendo jogado a favor de quem está padecendo para produzir.

Faz tempo que o MPA perdeu o o dessa meada, e seus ocupantes, com caras de paisagem, demonstram não entender o papel que lhes reservaram. Alguns não são preparados nem para ocupar um ministério das pescarias das festas juninas.

Hoje acredito que são muito pequenas e frágeis as possibilidades de continuarmos a ter um MPA, até mesmo se Dilma Rousseff for reeleita. A pressão por cortes no número de ministérios é grande e sempre quando se fala em reduzir as pastas na Esplanada dos Ministérios, a sigla do MPA é a primeira a ser lembrada. Na próxima edição já teremos os resultados das eleições, e provavelmente já saberemos mais sobre o destino dessa instituição que, em minha opinião, se terminar, fará muita falta, não pelo que tem sido, mas pelo que pode vir a ser nos próximos anos.

A todos uma boa leitura,

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor