Editorial #156

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Oncotô, oncovô?

No seminário sobre tendências da piscicultura de peixes nativos, promovido neste início de setembro, em Cuiabá, pelo Sebrae-MT, Francisco das Chagas Medeiros, atual secretário executivo da Peixe-BR, surpreendeu com uma importante reflexão: “o que estamos fazendo nos trouxe até aqui, mas não vai nos levar até amanhã, porque a ração vai continuar cara e o preço do peixe, barato”.

Não houve quem discordasse, ficando no ar a vontade de saber o que deve ser mudado no que está sendo feito hoje.

A realidade é que é preciso continuar crescendo. E muito. Ainda estamos longe de atingir o volume de pescado que o Brasil já consome. Se alguém duvida disso, que confira os enormes e crescentes volumes de pescado que estamos importando. E iremos consumir muito mais no futuro próximo. Afinal, comer pescado está no receituário dos médicos.

Não há dúvidas de que os sistemas de produção utilizados atualmente, principalmente os viveiros escavados e tanques-rede, estão gerando bons resultados. Mas, será que no médio e longo prazos, continuarão sendo eficientes? Irão resistir à inevitável intensificação, às doenças, aos impactos ambientais, às mudanças climáticas, crises hídricas, às perseguições de grupos ambientalistas?

Estão aí os piscicultores paulistas, numa difícil batalha junto aos órgãos estaduais, para aprovar um decreto de licenciamento que também abranja a produção nos reservatórios. Essa luta não é nova e já vem sendo travada há anos em vários estados, com pouco ou nenhum resultado positivo para o setor produtivo. Produzir pescado no Brasil deveria estar mais fácil, mas não é o que vem acontecendo.

Quais as possíveis soluções para um futuro harmônico? Quais os sistemas de produção que se mostrarão seguros, para que o produtor possa investir sem receios e com regras claras? Esse é o ponto chave, e deveria ser o foco do olhar de todo o setor produtivo, e o principal desafio para os pesquisadores brasileiros que recebem recursos para trabalhar com a aquicultura.
O chefe geral da Embrapa Pesca e Aquicultura, Carlos Magno Campos da Rocha, ao abrir o Aquaciência 2016, falou sem rodeios sobre a falta de sintonia dos pesquisadores com o setor produtivo. Disse que muitos pesquisadores visam exclusivamente a produção de artigos para que sejam publicados em revistas científicas de elevado fator de impacto. Outros, simplesmente repetem o que já vem sendo feito há muito tempo, apenas mudando um detalhe ou outro, que nada acrescenta ao desenvolvimento dos sistemas de produção. É mais do mesmo, disse. E com propriedade, lembrou que é a sociedade que mantém essas pesquisas, razão pela qual os pesquisadores têm que ser cobrados para que busquem a solução dos problemas atuais e futuros dos nossos aquicultores.

No mais, é tentar enchergar lá na frente. Qual é a aquicultura que estaremos praticando no futuro? Quem tem respostas para essa pergunta? Aproveito esse espaço para um convite/desafio aos pesquisadores, aos produtores engajados, aos especialistas dos diversos elos da cadeia produtiva para refletirmos juntos sobre isso.

A Panorama da AQÜICULTURA deseja acolher e divulgar as ideias de quem está pensando o futuro da aquicultura brasileira e os sistemas inovadores de produção. A intenção é que possamos realizar uma reunião em 2017, em torno desse tema. Aos simpatizantes da ideia fica o convite. Meu e-mail está à disposição.

A todos boa leitura

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor