Por várias vezes ouvi, e muitos dos leitores certamente também, a conhecida historinha que explica a preferência que temos pelo ovo da galinha, em detrimento do ovo da pata. Aliás, sempre desconfiei de que essa foi uma história especialmente criada para ser contada nas aulas inaugurais dos cursos de marketing, no batismo dos jovens marqueteiros.
Como nunca comi ovo de pata e tampouco sei onde tem para vender, resolvi fazer uma pesquisa sobre o assunto. Segundo o Google eles têm sabor mais intenso e gema maior e mais oleosa que o ovo da galinha. Do ponto de vista nutricional, os ovos das patas têm 65% mais calorias – 129 contra 78, e se encontram à venda em pouquíssimos mercados.
Para conhecer melhor a oferta, procurei dados da produção brasileira, mas não consegui ir adiante. Em poucos segundos, porém, descobri que, em 2015, o Brasil produziu 39,5 bilhões de ovos de galinha, o que significa um consumo anual de 191,7 unidades per capita, um número 5,2% superior ao de 2014, que registrou 182 ovos per capita. E mais: essa mega produção de 2015 aconteceu, apesar do alojamento de poedeiras ter sido 2,5% inferior ao do ano de 2014. Um show de produtividade! Ou, como dizem, ovo de galinha é agro, é tech, é pop, e tudo isso misturado faz omeletes deliciosos.
E quanto aos marqueteiros, eles seguirão jurando por aí que os ovos de pata só não conquistaram esse fabuloso mercado, porque as galinhas, espertas, descobriram a vantagem de cacarejar bem e fazer estardalhaço assim que botam um ovo.
Fazem isso com o único propósito de anunciar o seu produto logo após a saída da linha de produção. Já as patas, coitadas, seguem fazendo mais do mesmo, colocando seus ovos em silêncio e saindo elegantemente sem chamar a atenção. É provável que não tenham aprendido as lições do Velho Guerreiro Chacrinha, que balançando a pança agitava a plateia dizendo que “quem não se comunica se trumbica”.
Já a aquicultura brasileira, por razões que só Deus sabe, nunca se comunicou bem com os seus consumidores, mas recentemente ganhou uma belíssima campanha focada na produção e nos benefícios do consumo dos peixes cultivados.
Os brasileiros assistiram neste início de 2017, por 15 dias, no horário mais nobre da TV brasileira, um show de imagens acompanhado de um texto afirmando que o peixe é um alimento saudável, que é proteína, que é agro, e que o agro é pop. E não há nada a ser contestado, nem mesmo os citados 10% de aumento da produção e o faturamento de R$ 4,5 bilhões, números surgidos sabe-se lá de onde. Afinal, cavalo dado não se olha os dentes.
O setor nunca apostou em estudos regulares para conhecer e acompanhar a percepção que os consumidores têm do pescado cultivado, nem da atividade em si. Esse seria um ótimo momento para medir as mudanças na percepção do público, ainda sob o efeito dessa bela campanha Global. Seriam informações preciosas que, se exploradas, trariam muitas vantagens para o setor aquícola.
Mas uma coisa realmente é certa: Peixe é alimento saudável. É proteína. Peixe é agro. Agro é tech. Agro é pop. Agro é tudo. Está agora na Globo, e sempre esteve aqui na Panorama da AQÜICULTURA.
A todos uma boa leitura!
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor