Editorial #165

Editorial_JomarQuando jogamos com alguém mais experiente, e temos a sorte de marcar um ponto difícil, sempre ouvimos que isso se deve a sorte dos principiantes. Há aqueles que discordam, achando que a sorte não está envolvida, preferindo a explicação de que, por sofrer menos pressão psicológica, o principiante consegue chegar mais fácil a melhores resultados.

Seja lá qual for a explicação, o fato é que ao longo dos tempos, na aquicultura, a “sorte dos principiantes” tem sido uma regra, principalmente para aqueles entusiasmados que estreiam viveiros escavados novinhos e recém povoados de peixes ou de camarões. Os primeiros resultados desses produtores raramente os decepcionam e são quase sempre consistentes, com zero de imprevistos, despescas generosas e dinheiro no bolso. Isso é bom para o produtor e bom para a atividade, que assim, não assiste a deserções precoces.

E, como não se mexe em time que está ganhando, os produtores acabam por repetir a receita do bolo que deu certo na primeira vez, reproduzem os mesmos manejos, alimentação, troca de água e densidades de povoamentos, que em alguns casos são até maiores (afinal, os bons resultados empolgam). E o baile segue, até que os resultados começam a mudar, não sendo tão bons quanto os primeiros. Sorte de principiante?

Definitivamente a aquicultura não é uma atividade que se faz seguindo uma receita, como um bolo. Aqueles viveiros novinhos, em pouco tempo podem acumular matéria orgânica, e um mundo de substâncias que interferem negativamente na performance do cultivo. E, se nada for efetivamente feito para lidar com isso, muita coisa pode dar errada. E aí, fica claro que não é a sorte abandonando o iniciante, mas, muito provavelmente, o despreparo prevalecendo, interferindo nos resultados.

A aquicultura é uma atividade multifatorial e quanto maior o número de fatores controlados pelo produtor, maior o sucesso do empreendimento.
E é pensando no dia a dia dos cultivos que desenhamos a nossa pauta, para que traga informações que podem fazer a diferença. Acreditamos que de nada valem genética, vacinas e equipamentos sofisticados, se quem está à frente do empreendimento não estiver plenamente consciente de tudo que está acontecendo com a sua água, com seus animais, com os alimentos que utiliza e com os patógenos que estão à espreita. Eficiência é fundamental.

Para esta edição Fernando Kubitza escreveu o quarto e último capítulo de uma série que trata das substâncias e elementos presentes na água de cultivo, e que podem vir a influenciar nos resultados produtivos e econômicos dos empreendimentos de aquicultura. São substâncias presentes no dia a dia dos cultivos, mas que, por desconhecimento, costumam ser negligenciadas pelo aquicultor, que começa a perceber que ter conhecimento é tão importante quanto ter sorte.

Trazemos também um artigo que é um verdadeiro amuleto contra o azar, escrito pela equipe de pesquisadores da Escola de Veterinária da UFMG sobre a franciselose, tema escolhido estrategicamente para ser publicado nessa edição, por estarmos perto de entrar no inverno, período em que as águas esfriam, favorecendo o aparecimento da Francisella, a bactéria causadora da doença que tanto tem preocupado os produtores da região Centro-Sul do Brasil.
É claro que eu acho que a sorte é boa e desejável, mas algo me diz que ela vai sempre escolher os mais preparados, com conhecimentos capazes de conduzir e gerenciar os processos. E vale lembrar a conhecida frase de William Deming, especialista em processo produtivos:

“Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende, e não há sucesso no que não se gerencia”.

A todos, desejo muita sorte e boa leitura!

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor

Edição 165, Janeiro/Fevereiro de 2018