Aula para ser presidente; ou Ninguém nasce sabendo.
Recebi uma correspondência do Dr. Michael New, entrevistado de nossa edição 32, trazendo boas notícias. Na carta, Dr. New fala de sua curiosa situação de “atual futuro presidente já eleito” da WAS – World Aquaculture Society (Sociedade Mundial de Aqüicultura) . Informa também, que somente será empossado ano que vem, durante o Encontro Anual da WAS que se realizará em Seattle, USA, de 20 a 23 de fevereiro de 1996. Até lá ele vai ficar “aprendendo” sobre o cargo que irá ocupar.
Pensei cá comigo, que bom que o atual-futuro presidente da WAS seja um amigo do Brasil. Ainda bem que ele, em sua visita recente, tenha tido a oportunidade de conhecer de perto a quantas anda a nossa atividade.
Contudo, apesar de sua grande experiência em lidar com países do terceiro mundo, tive a impressão que ele saiu daqui, igual a todos nós, sem entender (ou “entendendo”) porque não se dá prioridade, de uma vez por todas, à aqüicultura no país proprietário das maiores bacias hidrográficas desse planeta. Um país, cuja aqüicultura é uma vocação inata.
Mas, mesmo assim, tenho certeza de que tudo que o atual-futuro presidente da WAS aqui viu, gostou muito. Não dá para não gostar.
Outra coisa interessante é esse negócio do sujeito ser votado, eleito e tomar posse só um ano depois. Fica um ano inteiro só aprendendo o que terá que fazer; algo como atrair recursos, estabelecer metas, etc. E não é só na WAS que é assim, na Sociedade Européia de Aqüicultura também é igual.
Aliás, esse papo de eleição procede bastante, pois muito em breve teremos as eleições para a Associação Brasileira de Aqüicultura – ABRAq, e é quase certo que os associados só falarão sobre esse assunto quando começar o SIMBRAq, em outubro que vem, lá em Minas Gerais. Para os que não sabem, são nos Simpósios Brasileiros de Aqüicultura – SIMBRAqs que, de dois em dois anos, se elegem os presidentes e diretorias.
Na ABRAq, vaidades à parte, a montagem das chapas guarda alguma semelhança com as crianças dividindo time de futebol: você na linha e você aí, pro gol. Quem ganhar o jogo leva medalha e a presidência da ABRAq com todos os livros, disquetes e problemas.
Não é novidade para ninguém que a ABRAq, como associação de aqüicultores tenha na realidade sido, há muito, ocupada pelos acadêmicos e pesquisadores. Estão lá os SIMBRAqs para dizer. Não que eu seja contra essa participação, muito pelo contrário. Mas a pergunta que eu gostaria de fazer é: cadê os produtores e a indústria participando da ABRAq? É desnecessário lembrar que trata-se da principal entidade representante dos aqüicultores brasileiros.
Por que é que aqueles que correm os riscos, que empreendem, investem, molham os pés nos viveiros, cultivam e despescam, não participam mais da ABRAq? É difícil responder mas, na verdade, e só ir lá, falar, ouvir, discutir…(sei que existem produtores por aí com assunto à beça para discutir e reivindicar).
E a indústria de apoio? Não estão lá representados por quê? Tenho certeza que todos os nossos empresários, que estão aí batalhando para suprir as necessidades dos produtores, têm também todo o interesse de ver a bola rolando, redondinha. Será que seria muito inusitado conceber que um presidente da ABRAq possa ser oriundo da indústria de apoio? Taí o exemplo do George Chamberlain, da Ralston Purina, que acaba de deixar a presidencia da WAS.
Falo da tal da representatividade, que ajuda a levar adiante os interesses de todos.
Falando nisso, tenho um palpite que o Michael New aceitaria visitar novamente o Brasil e, quem sabe, ter um encontro com o FHC. É só um palpite. Imaginem as manchetes: “FHC recebe o presidente da WAS e, todo prosa, determina prioridade máxima no trato com a aqüicultura”. Manchete de estadista.
Falar em estadista, esse negócio de ficar um ano com a responsabilidade de aprender a ser presidente é interessante. Até mesmo pro sucessor do FHC, né não?
À todos boa sorte e uma boa leitura da Panorama da AQÜICULTURA nº 34.
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor