Editorial – Edição 39

Muita polêmica foi gerada nas salas onde se discutiam os assuntos ligados ao cultivo de camarões marinhos, na última reunião da WAS – Sociedade Mundial de Aqüicultura, realizada em Seattle – EUA. Os ambientalistas, de forma ruidosa, levantaram uma bandeira em prol de uma moratória no crescimento da atividade, válida para todos os paíse, por conta da poluição gerada por essa indústria e da destruição das florestas de manguesais.

Não é preciso muito esforço para entender que usavam apenas tintas fortes para chamar a atenção da grave crise ambiental que essa atividade gerou em alguns países, com destaque para a Índia, onde à essa questão ambiental somaram-se problemas sociais, ocasionados pelos grandes deslocamentos populacionais que a indústria camaroneira gerou. E parece que nessa contenda, ganharam os ambientalistas.

A Suprema Corte da Índia determinou que em 31 de março desse ano, todos os cultivos intensivos e semi-intensivos situados na faixa até 500 m de distância da linha da maré mais alta, deverão ser fechados. Dependendo de como a ordem for acatada, cerca de 65% dos cultivos terão que fechar suas portas e isso significa o fim de 60.000 pequenas fazendas ou cerca de 80.000 ha de viveiros.

A extensão dos problemas sociais que a atividade gerou na Índia foram tão graves, que levaram a Suprema Corte a obrigar os donos dessas fazendas que serão fechadas, a indenizar seus empregados por um período referente a seis anos de trabalho. Vai ser muito difícil a indústria camaroneira indiana se erguer a um baque dessa ordem.

Mas, da mesma forma que não podemos mandar prender todo gordo, careca e bigodudo por conta das armações do Sr. PC Farias, não podemos também condenar o crescimento da carcinicultura marinha em muitos países, aí incluindo o Brasil, por conta da crise indiana.

Aqui há muita gente competente em torno da ABCC – Associação Brasileira de Criadores de Camarões – uma associação que se fortalece a cada dia e que vem procurando estabelecer modelos de crescimento sustentáveis, que levem em consideração o nosso meio ambiente e as populações existentes nas áreas de cultivo.

Os respingos das discussões internacionais não podem ser utilizados de maneira leviana pelos ambientalistas brasileiros, que devem construir e preservar a sua imagem através de uma atuação técnica e justa, até para que deixem de ser chamados sarcasticamente de eco-xiitas ou eco-chaatos.

À todos, uma boa leitura,

Jomar Carvalho Filho – Biólogo e Editor