Editorial – edição 49

Quando aqui foram implantadas as primeiras fazendas de cultivo de camarão marinho, a expectativa era de que o Brasil seria em poucos anos, um líder mundial na produção desses crustáceos. Hoje, duas décadas depois, constatamos que isso ainda não se concretizou, apesar do enorme potencial diversas vezes cantado e decantado.

Mas afinal o que pode ter acontecido? O que falhou?

As tentativas com as espécies nativas, primeiras a serem testadas pelos produtores, esbarram na impossibilidade de se elaborar um alimento adequado às suas necessidades nutricionais. E o curioso é que ninguém, nesses últimos 20 anos, tenha se preocupado em pesquisar esse importante detalhe, apesar das grandes somas de dinheiro que o governo gastou nesse mesmo período, com as instituições voltadas para pesquisar e desenvolver a carcinicultura marinha brasileira. Também curioso é o fato de que em todos esses anos a indústria de alimentos instalada no Brasil, nunca tenha se interessado em desenvolver e produzir rações de qualidade, específicas para pelo menos uma das diversas espécies nativas da costa brasileira. E, pelo que vemos e ouvimos sobre as diversas empresas de alimentos para camarões instaladas em toda a América Central, trata-se de um excelente negócio.

E aí está o Penaeus vannamei, uma espécie exótica, presente em quase todas as fazendas, leando o Brasil pelas mãos para entrar em breve nos primeiros lugares do ranking mundial dos países produtores. Um animal fantástico que, mesmo afetado pelo vírus da Síndrome de Taura, que reduz significativamente a sua sobrevivência, é o preferido por 10 entre 10 produtores.

Este ano, o país despescará 7.260 toneladas, quase o dobro das 3.650 toneladas produzidas no ano passado, apesar da área alagada ter se expandido somente 22% nesse mesmo período. Mesmo com a Taura, o produtor brasileiro melhorou a sua produtividade.

Tudo, graças a uma combinação perfeita de um animal com excelentes índices zootécnicos, com uma indústria disposta a produzir alimentos balanceados de qualidade.

Além disso, o Penaeus vannamei chega também expandindo as fronteiras da carcinicultura marinha podendo, segundo técnicos da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, ser criado até nos estados da Região Sul do Brasil, quebrando o estigma de que somente no Nordeste é viável o cultivo de camarões. E isso tudo sem falar na possibilidade de criá-lo em água doce; mas isso já é outro assunto, que também é tratado nessa edição.

Nela, o leitor será conduzido também por especialistas e produtores de surubins, pelos caminhos do cultivo desses peixes, cuja carne está entre as mais bem cotadas, conseqüência da sua espetacular aceitação no mercado nacional.

Além disso, o leitor conhecerá também o que pensa e quais os planos do niteroiense André Brügger, novo Coordenador de Aqüicultura do recém criado Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura.

Esses e outros assuntos fazem parte dessa edição que desejamos seja, antes de tudo, proveitosa para todos.

Um abraço,

Jomar Carvalho Filho – Biólogo e Editor