Já ouvi diferentes vertentes sobre o papel social da aqüicultura no país. Há os que acham que a aqüicultura deve crescer e se estruturar para produzir proteína animal a custos razoáveis para alimentar populações carentes. Outros a enxergam simplesmente como mais uma opção de atividade zootécnica viável, entre tantas outras, à disposição dos produtores rurais, e ainda aqueles que só a vêem viável se praticada em grande escala, com altas tecnologias por detrás de sofisticados planejamentos. Acho que essas vertentes sempre existiram e sempre existirão.
Não posso esquecer de como fiquei impressionado ao ouvir de um experiente editor da área de aves, que o caminho da piscicultura será o mesmo percorrido pela avicultura. Segundo ele, primeiro quebram os pequenos produtores, a seguirá os médios, depois os grandes, que dessa forma abrem espaço para os mega produtores, estes sim, campeões na arte da economia de escala, um ambiente sufocante para os demais. Que vida dura! Tomara não seja assim com a piscicultura.
Mas, por outro lado lembro-me também do final dos anos 70, quando visitei monstruosos viveiros construídos na região salineira do Rio Grande do Norte. Eram 70, 80, 90 hectares de lâmina d’água em cada um deles. Os empresários) de então diziam que a carcinicultura marinha só poderia ser viável se assim fosse praticada e, é claro, se também fosse gasto muito dinheiro. M$s quem falava isso quebrou e hoje é possível ver pequenos produtores rurais com 10, 20 ou 40 hectares de lâmina d’água, produzindo seus camarões com sucesso, a partir de investimentos bem baixos, alterando radicalmente o perfil daqueles que podem também vir a participar da atividade. Pessoalmente, acredito na capacidade do pequeno produtor de prosperar, mesmo convivìndo com o médio e o grande empreendedor, caso se respeitem mutuamente.
Em Paulo Afonso, no Lertão baiano, cercado por um cenário dominado pela aridez e a miséria dela decorrente, está se o do pm plantado um dos mais arrojados projetos de aqüicultura envolvendo camponeses que jamais sonharam que um dia poderiam se tornar pis? culto‰es. São milhares de tanques-rede engordando Tilápias, com um potencial tal que já atraiu para região os púincipais produtores de rações do país querendo disputar fatias deste mercado. O projeto dá gosto de ver. É como se juntos, os produtores formassem uma única empresa onde cada um tivesse sua participação acionária, alheios as críticas sobre as falhas que cometem, resultado da falta de experiência que têm, mas que adquirem a cada dia. Torço mais uma vez para que a sentença do experiente editor de avicultura não vingue na piscicultura brasileira. Xô pra lá, ninguém pode crescer ameaçado.
Nesta edição, além desse tema, o leitor conhecerá o híbrido da tilápia, hoje novamente produzido no país, com técnica desenvolvida por um pesquisador que durante as duas últimas décadas, sempre acreditou no potencial e no vigor desse peixe. Visitará, através do olhar de um brasileiro, a próspera criação de Macrobrachium rosenbergii de Bangladesh; saberá como é o perfil dos ranicultores brasileiros revelado pelo Projeto Plataran e, tomará conhecimento de quais são as necessidades nutricionais das tilápias.
A todos uma boa leitura,
Jomar Carvalho Filho – Biólogo e Editor