Editorial – edição 53

Foram necessários dois meses e muita pressão por parte dos produtores de camarões marinhos, para que o Ministério da Agricultura, através do seu Departamento de Defesa Animal, suspendesse “a importação de ovos, larvas, nauplios, pós-larvas, juvenis e adultos vivos de qualquer espécie de crustáceo de água doce e salgada, bem como seus produtos e sub-produtos”, leia-se abatido e congelado, para consumo. Prevaleceu o bom senso diante da ameaça real representada pela chegada ao Brasil do WSSD – o vírus da mancha branca, que tanto prejuízo causa neste momento aos criadores de diversos países na América Central e do Norte. As fronteiras, aparentemente, estão fechadas.

Essa decisão traz consigo, não apenas a boa sorte dos criadores de camarões brasileiros, mas também um reconhecimento explícito da importância econômica que a carcinicultura marinha já tem para o país. Ao proibir a importação de camarões congelados para consumo, o governo assume o risco de estar pisando em calos bem representados dentro do setor pesqueiro, ao mesmo tempo que prestigia os aqüicultores, acatando suas solicitações.

Na verdade, essa foi a primeira vez que o setor aqüícola experimentou as vantagens de estar ligado a um ministério supostamente comprometido com a produção. Por detrás dessa decisão o recém criado Departamento de Pesca e Aqüicultura, cuja equipe do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Cultivo de Camarões Marinhos soube todo o tempo encaminhar os interesses da ABCC-Associação de Criadores de Camarões, cumprindo bem o seu papel e mostrando que entidades de classe organizadas agora têm vez.

Outra recente manifestação de interesse para com o setor, por parte do Ministério da Agricultura, foi a reunião de especialistas em processamento de pescados que gerou um manual definitivo para a construção de plantas processadoras, acabando de vez com as dúvidas relacionadas às suas instalações, procedimentos administrativos, além de oferecer ainda alternativas de lay-out. São as regras claras há muito desejadas por todos.

Aliás, os aqüicultores internautas que fazem parte da lista de discussão Panorama-L (veja como dela fazer parte na página 8), têm tido a oportunidade conhecer, aprovar e discordar da política aqüícola que vem sendo elaborada pelo DPA. Participando freqüentemente, André Bruguer, Coordenador do órgão, disse otimista, ter a “certeza absoluta de que com essa nova política iremos transformar este país num dos maiores produtores mundiais de pescado cultivado.” É bom ver compromissos dessa natureza serem assumidos publicamente.

Nesta edição, o leitor encontrará também os resultados de uma interessante pesquisa realizada junto aos responsáveis pelos restaurantes de 50 grandes indústrias instaladas no Vale do Paraíba e saberá quais os critérios que as levam a escolher ou não os pescados entre as carnes servidas em seus grandes refeitórios. Em outro artigo, terá a oportunidade de conhecer a delicada situação do pirarucu, ameaçado em nosso rios amazônicos, e entenderá a importância da pesquisa sobre o cultivo dessa espécie nativa para a preservação de sua existência, e muito mais…

Acreditando cada vez mais no presente e no futuro promissor da atividade, desejo a todos uma boa leitura.

Jomar Carvalho Filho – Biólogo e Editor