tilapização. S.f. 1. Ato ou efeito de tilapizar(-se). Diz-se de um processo que se inicia de forma ruidosa, acompanhada de uma euforia exacerbada, seguido por tropeços e passos em falso que levam ao descrédito e a descaracterização e que, de uma hora para outra, sofre uma reviravolta e todos os pingos são colocados nos is.
Foi esse o verbete que usei para iniciar um editorial há cinco anos atrás, neste mesmo espaço. É claro que ele não existe em nenhum dicionário e, na ocasião, foi inspirado em todo o processo pelo qual passou a criação de tilápias em nosso país. Uma história conhecida de uma espécie estrangeira, introduzida com muitas esperanças mas pouca cautela e tecnologia. O que se viu logo a seguir foi esse processo agudo de tilapização, que levou a tilápia a ser considerada o maior fracasso da piscicultura brasileira. Ser odiada pelos aqüicultores e xingada de praga foram apenas os passos seguintes que a levaram ao ostracismo. Aliás, o mesmo em que se encontram hoje outras espécies da nossa rica piscicultura.
Mas como nada é melhor do que um dia depois do outro, e por que não dizer nesse caso, décadas depois da outra, eis que a tilápia reapareceu na década de 90, maquiada de tecnologia para alcançar o status do peixe mais cultivado nos viveiros brasileiros nesta virada do milênio. Muito justa, portanto, essa homenagem que lhe é prestada com a realização de um evento do porte do ISTA – Simpósio Internacional da Tilápia na Aqüicultura, em plena Cidade Maravilhosa. Durante três dias esse peixe carismático, cujo cultivo já foi retratado em pinturas egípcias há 2.500 anos a.C., reunirá no Rio de Janeiro pessoas de todas as partes do mundo.
A organização de um simpósio internacional é uma grande e desafiadora oportunidade de reunir um grande grupo multidisciplinar em torno de um único tema. Esta será a primeira vez que nós, da revista Panorama da AQÜICULTURA, aceitamos um desafio dessa natureza e não há como esconder a enorme apreensão. Essa edição foi preparada ouvindo o som da orquestra tecnológica, afinadíssima aliás, que promete animar o evento com uma extensa partitura de 102 trabalhos técnicos submetidos. O que posso assegurar é que som será de primeira qualidade. Se depender dos convivas, o sucesso da festa também já está garantido. Além dos muitos brasileiros, sócios de carteirinha do fã-clube da tilápia, produtores e cientistas da Índia, Israel, Tailândia, Filipinas, Egito, Nigéria, Trinidad e Tobago, Alemanha, França, Itália, Holanda, Noruega, EUA, México, Equador, Peru, Colômbia, Chile e muitas outras partes do planeta que agora não me ocorre, já marcaram seus lugares. A casa está arrumada para o ISTA e da cozinha já exala um cheiro delicioso dos pratos de tilápia preparados para um grande circuito gastronômico em vários restaurantes da cidade.
Não há como negar que essa é uma edição que transpira ISTA por todos os poros. Não deu pra ser diferente e, desde já, desculpo-me com aqueles que não simpatizam com a tilápia por uma razão ou outra. Se não der para nos encontrarmos nessa festa, quem sabe na próxima?
À todos uma boa leitura, sem antes fazer um brinde à leveza do paladar desse peixe.
Jomar Carvalho FIlho Biólogo e Editor