Editorial – Edição 65

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O Plano de Safra 2001/2002 acaba de ser anunciado pelo Ministro da Agricultura, Pratini de Moraes. Além dos produtores de tilápia, camarões marinhos e moluscos bivalves, já beneficiados na safra passada com um programa de financiamento, foram também contemplados nesta safra que se inicia, os produtores de trutas, carpas, peixes redondos e camarões de água doce.

A abertura do leque de espécies cultiváveis foi resultado do choro copioso de muitos produtores que se seguiu ao anúncio do Procamol – Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Produção de Tilápias, Camarões Marinhos e Moluscos, no ano passado. Como quem não chora não mama, além de beneficiar um número maior de aqüicultores, o governo também ampliou para R$ 70 milhões o total de recursos disponíveis para investimentos da safra aqüícola atual e, de quebra, ainda dobrou o valor do teto para cada operação, que agora pode ser de até R$ 80 mil.

Recursos para financiar o crescimento e fortalecimento do setor sempre serão bem-vindos. Mas, se fizesse direitinho o seu dever de casa, antes de alardear os milhões de reais para o financiamento da safra aqüícola que se inicia, o governo deveria é ter dado uma explicação para o fato de apenas terem sido tomados por empréstimo 1,79% dos R$ 50 milhões disponíveis para a safra aqüícola passada. É de se estranhar como um dinheiro tão barato, com juros tentadores de 8,75% ao ano, com prazo de cinco anos, incluindo uma carência de dois anos, tenha ficado lá nos cofres do governo, sem que ninguém tenha se interessado por ele. Setenta milhões de reais bem aplicados numa safra da nossa indústria aqüícola emergente, mudariam sensivelmente o cenário que hoje observamos no campo. Um esclarecimento e, quem sabe, uma mudança de rumo, seriam oportunos nesse momento. Ou melhor, será que ao invés de disponibilizar recursos para financiar investimentos, o governo não deveria atender imediatamente um clamor do setor para que haja recursos para financiar o custeio do seu dia-a-dia?

O leitor encontrará nesta edição uma análise profunda da safra 2000/2001 e dos problemas pelos quais passaram os piscicultores. Por falar em safra, na que passou, a oferta de peixe vivo no sudeste e sul finalmente superou a capacidade de giro nos pesque-pagues, até então o principal mercado para os peixes cultivados nestas regiões. Para os produtores, as conseqüências desse fato, não foram outras senão a queda nos preços e a sensação de insegurança por que têm passado. Nessa edição é mostrada uma radiografia dos custos de produção, em diversas regiões do país, contraposta com outra, ilustrando os custos dos filés de pescado, para tentar entender a lógica das processadoras, que não conseguem se manter de portas abertas se remunerarem adequadamente os produtores. Na verdade, um alerta para a despreparada indústria de beneficiamento, para que tome consciência da sua importância na piscicultura brasileira, de forma que ela continue a crescer com vigor.

Ainda nessa edição, o leitor encontrará um panorama do agronegócio dos peixes ornamentais e um relato da evolução da carcinicultura no Noredeste do País, seus erros e acertos até chegar aos avançados manejos dos dias atuais, e muito mais…

A todos uma boa leitura.

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor