Os brasileiros, uns mais outros menos, via de regra parecem ter sempre que transpor obstáculos de toda sorte para alcançar seus objetivos nas mais diversas áreas. Acho que muitos já perceberam que o pódio comemorado pela maior parte dos nossos atletas, sempre vem acompanhado de estórias de sofrimentos e dificuldades pelas quais tiveram que passar, até que chegassem ali para compartilhar com todos, os louros que lhes cobrem. Por mais que essas cenas se repitam, cada estória ouvida sempre detona uma imediata empatia e uma profunda admiração pelas sacrificadas conquistas. E na aqüicultura não é diferente.
Agora mesmo, os criadores de camarão festejam o fato de terem exportado US$ 130 milhões em 2001, sendo de longe, os principais responsáveis pelo superávit de US$ 22.6 milhões na balança comercial de pescados, uma situação confortável que o Brasil não experimentava há sete anos.
Desta vez, foi a carcinicultura quem subiu no pódio e, como não poderia deixar de ser, também tem sua estória lacrimosa para contar: nos últimos 20 anos a cotação internacional do camarão marinho, padrão 80/100 peças por quilo, nunca esteve tão baixa, cotado agora a US$ 3.70 o quilo depois de ter sido cotado no ano passado a US$ 6.50. O agravante é que a moeda norte-americana vem se mantendo também em queda, em relação ao real. Os carcinicultores, principalmente os médios e pequenos, ainda na ressaca desta festa, começaram a se dar conta dos problemas de caixa e já reclamam dos fornecedores de insumos e da indústria beneficiadora, que lhes parecem insensíveis às dificuldades por que passam neste momento, já que também estão praticando os preços mais altos dos últimos anos.
E qual a solução? – perguntei a um preocupado carcinicultor. Sem piscar, ele respondeu que reduzir os custos, aumentar a produtividade e tentar abrir mais portas no mercado doméstico seriam boas saídas. No mais, é torcer para que os ventos soprem os preços do mercado internacional para o alto. O mercado, sempre o mercado.
Contrastes e contradições são mesmo a marca registrada do cotidiano brasileiro e a aqüicultura não poderia estar imune a este fato. Na aqüicultura, vencidos os entraves técnicos para produzir com eficiência, todos acabam, seja na piscicultura, carcinicultura, ranicultura e demais setores, por bater de frente com essa figura monstruosa e assustadora que é o mercado, um tema ainda obscuro para a maior parte dos envolvidos na nossa produção aqüícola.
Tentando desvendar um pouco deste misterioso mercado, trazemos nesta edição o resultado de uma pesquisa encabeçada por Fernando Kubitza, que revela se somos, ou não, comedores de pescados. E como a produção não pode parar, além desse instigante tema, trazemos também nesta edição um artigo assinado por Alberto J. P. Nunes, a respeito da construção e da logística operacional dos berçários intensivos no cultivo de camarões, que muito elucidará aqueles que já produzem ou pretendem entrar na atividade do camarão marinho. Além desses temas, trazemos um estudo que mostra as facilidades da reprodução de jundiás, e muito mais. Nossa maior expectativa, porém, recai sobre o nosso novo Serviço Panorama Digital, que agora passamos a oferecer exclusivamentre aos assinantes. Abra as nossas páginas e fique por dentro de tudo.
A todos, uma ótima leitura
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor