Editorial – Edição 74

Eu estava assistindo a posse do Presidente Lula pela TV e um pequeno grande detalhe, em meio à toda festa, me chamou a atenção. Ao chamar José Fritsch para assinar o termo de posse, o cerimonial presidencial o convocou como titular da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca. Me surpreendi. Só podia ser uma falha do cerimonial, já que para mim eram remotas as chances da aqüicultura anteceder a pesca, no nome de uma instituição do governo, ainda mais numa área tradicionalmente dominada pelo lobby da pesca extrativista. Além do mais, por aqueles dias, o que mais se via era gente falando na criação de uma Secretaria da Pesca, e não faltaram jornais e a televisão acendendo seus holofotes sobre armadores e presidentes de sindicatos que pediam subsídio para a ampliação da frota pesqueira, come se fosse o tamanho da frota atual a causa das baixas capturas brasileiras.

Naquele histórico primeiro de janeiro, terminada a cerimônia da posse, eu já tinha me convencido de que havia sido mesmo uma distração do cerimonial. Afinal, nos últimos anos, dentro do governo, o melhor papel que coube a aqüicultura foi o de prima pobre da aristocrática família da pesca. Uma espécie de gata borralheira dentro do DPA- Departamento de Pesca e Aqüicultura do MAPA, tendo que se virar com migalhas orçamentárias.

Para minha surpresa e alegria, no dia seguinte o Diário Oficial saiu esclarecedor: o Presidente Luiz Inácio havia mesmo criado a “Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca”, dando-lhe de quebra um status de Ministério. O que isso pode representar a médio e longo prazo é ainda cedo para prever. Mas de imediato, é possível afirmar que é o reconhecimento da aqüicultura como uma atividade zootécnica que interessa politicamente ao governo. E isso já é muita coisa, principalmente se dito pelo próprio Secretário.

Ao vermos no mundo, e em particular na União Européia, fortes pressões governamentais para uma drástica e urgente redução das frotas pesqueiras como única forma de atenuar as capturas e preservar o que restou dos estoques super explotados, ficamos a imaginar as enormes possibilidades que terão os países com vocação para a aqüicultura, como é o caso do nosso, na hora de atender essa demanda que não será mais abastecida pela pesca.

Uma vez escrevi nesse espaço sobre a importância da aqüicultura para um país que padecia da fome. Fui veladamente criticado com o argumento de que a aqüicultura deveria no Brasil se voltar para a produção de alimentos de alto valor econômico, a exemplo do camarão. Hoje, no entanto, sabemos que ela pode isso e muito mais, se for bem orientada. Pode, se quiser, atender as demandas das prateleiras internacionais, ao mesmo tempo que pode ser uma forte aliada no Programa Fome Zero do atual governo. Só o tempo nos dirá os rumos que ela irá tomar.

Quanto ao novo status e importância que a aqüicultura está recebendo, deixo a modéstia de lado pra dizer que aconteceu o que eu previa, talvez um pouco antes do que eu esperava. E, ao que tudo indica, chegou também a vez dos pequenos produtores, que poderão se organizar melhor em cooperativas e obter novas linhas de crédito. Vale a pena ler com atenção a entrevista com o novo Secretário de Aqüicultura, que publicamos nesta edição.

O leitor conhecerá também um pouco mais da experiência catarinense com o vannamei, além de tantas outras matérias interessantes.

A todos um bom ano, que como estamos presenciando, iniciou com um otimismo nunca antes visto. Boa leitura,

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor